Consumo tem alta de R$ 500 bilhões

Leia em 3min 40s

Aumento da renda desde 2003 favoreceu expansão dos gastos das famílias e evitou tombo do PIB em 2009

 

Os brasileiros gastaram quase R$ 500 bilhões a mais durante os sete anos do governo Lula. O consumo das famílias saiu de R$ 1,47 trilhão em 2002 para R$ 1,97 trilhão no ano passado. Os números são comparáveis porque foi descontada a inflação e os preços atualizados para 2009. O cálculo foi feito pela MB Associados com base nos dados divulgados na quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

 

As projeções apontam para um crescimento de R$ 150 bilhões nos gastos das famílias brasileiras este ano, o que pode levar o consumo total para mais de R$ 2,1 trilhões. É um número recorde, que ajuda a explicar a alta popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no fim do segundo mandato.

 

Uma combinação de fatores positivos provocou essa explosão de consumo: crescimento econômico, forte expansão do crédito, geração de empregos (principalmente formais), aumento dos salários, câmbio valorizado e inflação controlada.

 

"O crescimento é a base, a inflação sob controle mantém o poder de compra e o crédito promoveu a alavancagem do consumo", disse o economista do JP Morgan, Júlio Callegari. Ele ressalta que o crédito ao consumidor (excluindo o imobiliário) saiu de 5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2002 para 14,8% em 2009 - um patamar semelhante ao dos países ricos.

 

Na avaliação do economista, outro fator importante para estimular o consumo é a valorização do real, que aumentou o poder de compra da população brasileira em dólares. É um fenômeno semelhante ao que ocorreu em 1994, no Plano Real.

 

Para o professor da Universidade de Campinas Júlio Sérgio Gomes de Almeida, a geração de empregos com carteira assinada também foi fundamental para o aumento do consumo. "A previsibilidade da renda do emprego formal deu à população condição de gastar mais e tomar mais crédito", explica.

 

O ritmo de crescimento do consumo não foi uniforme. No primeiro ano de Lula, em 2003, os gastos das famílias chegaram a cair 0,8% por causa da turbulência nos mercados provocada pelas eleições. O ano de 2004 também foi relativamente fraco, com alta de apenas 3,8%.

 

A expansão do poder de compra ganha ritmo a partir de 2005, e o consumo das famílias cresce 4,5% naquele ano e 5,2% em 2006. A partir do segundo mandato, as taxas superam os 6%, chegando a 6,1% em 2007 e 7,1% em 2008. No ano passado, apesar da crise, os brasileiros consumiram 4% a mais.

 

O economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, explica que, no início do governo Lula, o crescimento do consumo ficou concentrado nas classes mais baixas, que foram beneficiadas pelos reajustes do salário mínimo e pelos programas sociais, como o Bolsa-Família.

 

Na sua opinião, o grande impulsionador do consumo foi o avanço da classe C, que se consolidou a partir de 2005, quando a economia entrou em uma dinâmica positiva - maior crescimento e juros em queda. A participação da classe C no total de famílias brasileiras saiu de 23,7% em 2002 para 25,3% em 2005, e atingiu o recorde de 31,8% no ano passado.

 

"O Brasil ainda está nascendo para o consumo. O potencial é muito maior", disse Vale. Mais de 60% das famílias brasileiras são consideradas pobres e fazem parte das classes D e E. A MB projeta que, se a expansão da economia persistir, a classe C vai se tornar a maioria da população em 2016.

 

Mas há muito riscos nesse caminho. Para a economista da Rosemberg & Associados Thaís Zara, o mais grave deles é o ritmo de crescimento se tornar insustentável, por causa da falta de investimento e de baixa poupança interna (ver matéria ao lado). O Banco Central deve elevar os juros e conter o consumo. Outro risco é uma deterioração do cenário internacional, já que a recuperação global ainda não é consistente.

 

Veículo: O Estado de São Paulo

 


 


Veja também

Brasil perde comércio com os vizinhos

Apesar de prioridade da diplomacia de Lula, intercâmbio entre os países foi mais afetado pelo real valoriza...

Veja mais
Investimento e poupança puxam retração da economia

Os investimentos em 2009, ou Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), tiveram o pior resultado desde 2003, c...

Veja mais
PIB e varejo aumentam aposta do mercado em alta dos juros

EPAMINONDAS NETODA FOLHA ONLINE   O mercado financeiro se surpreendeu ontem com o crescimento das vendas do setor...

Veja mais
Retaliação favorece o Brasil

Os empresários apostam em um acordo com o governo dos Estados Unidos em torno do contencioso do algodão na...

Veja mais
Itaú estima que PIB de 2009 virá com uma retração de 0,2%

Estudo do Itaú Unibanco sobre o Produto Interno Bruto (PIB) divulgado ontem projeta que o crescimento do PIB de 2...

Veja mais
Investidor reduz temores e dólar perde força

O dólar perdeu terreno ontem, com a confiança crescente dos investidores determinando uma demanda de ref&u...

Veja mais
Banif perde gestão de R$ 1 bilhão

Depois de meses de queda de braço com os fundos de pensão, o Banif está perdendo a gestão de...

Veja mais
Inflação sobe no atacado com forte pressão nos insumos industriais

A inflação no atacado alcançou, em fevereiro, o terreno positivo no acumulado em 12 meses. At&eacut...

Veja mais
Alimentos puxam elevação do IPC-S na 1ª semana de março

Afetado principalmente pela alta nos preços do grupo de alimentação, o Índice de Preç...

Veja mais