O crescimento do PIB no último trimestre do ano (2%) permitia prever que essa forte elevação em relação ao trimestre anterior teria um efeito positivo sobre a demanda doméstica no início de 2010 - o que os economistas chamam de carry over.
De fato, as estatísticas do varejo para o primeiro mês do ano mostram um aumento de 2,7% nas vendas, ante uma queda de 0,7% em dezembro, que, acrescida das vendas de veículos e de material de construção (comércio ampliado), é de respectivamente 0,8% e 0,6%. Convém esclarecer que são dados com ajuste sazonal. Nas festas natalinas, o volume bruto das vendas é muito superior ao de janeiro, mês em que, sem ajuste sazonal, se registra queda de 25,4%. Essa evolução é mais aparente quando se compara (sem ajuste sazonal) o crescimento das vendas em relação ao mesmo mês do ano anterior, que foi de 9,2% em dezembro e 10,2% em janeiro.
A análise dos dados com ajuste sazonal nos ajuda a melhor avaliar a variação das vendas por setor de atividade.
O setor alimentício (inclusive supermercados), que reflete o consumo de massa e a evolução dos salários, apresenta um aumento das vendas de 1,4% (10,2% em relação ao mesmo mês de 2009, sem ajuste sazonal). Trata-se do setor com o maior peso nas estatísticas do comércio.
Porém, mais significativo é o aumento das vendas de móveis e aparelhos eletrodomésticos (7,8%), que reflete a ocupação de novos lares, e de equipamentos e material de informática e de comunicações (5,8%).
Esse surto de vendas, que mostra uma grande disponibilidade de liquidez nas famílias, vem acompanhado por um crescimento de apenas 1,1% da produção industrial e uma ligeira redução da Utilização de Capacidade Instalada no setor. As autoridades monetárias poderão detectar um problema nesse descasamento.
Já se verificou uma reação de alta nos índices de preços, que, no entanto, tem caráter nitidamente sazonal. Mas existe sempre o problema de correções pontuais contaminarem outros preços, especialmente nos serviços.
O crescimento da demanda no primeiro mês do ano foi muito forte e será observado pelas autoridades. As medidas tomadas para controlar a liquidez não teriam o mesmo efeito em janeiro. O Comitê de Política Monetária (Copom) é que terá de verificar se realmente houve um recuo da liquidez nas próximas semanas, o que leva a pensar que só em abril poderemos ter uma revisão da Selic.
Veículo: O Estado de São Paulo