Brasil e Argentina se reúnem para ajustar comércio bilateral

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A turbulência do mercado financeiro argentino, as conturbadas relações comerciais bilaterais e as últimas notícias sobre proibições de entrada de alimentos no mercado vizinho serão alguns dos temas abordados durante a reunião ministerial que está prevista para acontecer ainda nesta semana, em Buenos Aires.

 

O encontro ministerial anunciado por Débora Giorgi, ministra da Indústria e Turismo da Argentina, terá a participação do ministro argentino da Economia, Amado Boudou.

 

O último encontro entre representantes dos dois governos aconteceu entre os dias 7 e 10 de junho, quando os ministros da Fazenda, Guido Mantega, e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, foram a Buenos Aires para discutir com o governo argentino o desenvolvimento de ferramentas que permitam equilibrar a balança comercial dos dois países. Segundo o Mdic, o Brasil possui superávit de US$ 920 milhões.

 

"A atividade econômica na Argentina registrou crescimento de 6,4% no primeiro trimestre de 2010 e aumento de 9,2% no período de janeiro a abril. O crescimento industrial impulsiona a maior importação de bens de capital, partes e peças e insumos como ferro, que não é produzido no país", declarou a ministra Giorgi.

 

Outras pautas da nova reunião ministerial serão o sistema de pagamentos em moeda local para a área de importação e exportação, a integração das cadeias produtivas e o financiamento de exportações com fundos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

 

A questão agora é saber o posicionamento do novo ministro de Relações Exteriores da Argentina que já foi embaixador do país nos Estados Unidos.

 

De acordo com o professor do Mackenzie, Mário Sacchi, que é argentino, muitas mudanças devem ocorrer nos próximos dias e a reunião tende a ser mais positiva e ampliar as relações bilaterais que foram reduzidas após a crise internacional.

 

"Podemos ver um quadro diferente no modo de atuação da Argentina por meio deste novo ministro. Claro que nada será de um dia para o outro, mas certamente as declarações e pressões comerciais como novas barreiras alfandegárias não devem acontecer. Este novo ministro tem visão de mercado e sabe que as barreiras e imposições do governo Cristina Kirchner prejudica mais do que ajuda os empresários locais", argumentou Sacchi que é natural do país vizinho.

 

O novo ministro das Relações Exteriores da Argentina, Héctor Timerman, assumirá o cargo hoje. Ele disse que a prioridade é a relação com o Brasil. Timerman é o sucessor de Jorge Taiana que, na última sexta-feira, surpreendeu a chancelaria e o governo com sua renúncia, após discussão por telefone com a presidente Cristina Kirchner. De acordo com assessores da chancelaria, Taiana queixava-se de não obter o apoio da Casa Rosada na condução da política externa argentina.

 

Ainda em Washington, onde era embaixador desde dezembro de 2007, Timerman deu entrevista a um jornal de Buenos Aires afirmando que as relações da Argentina com o Brasil são prioritárias para o governo. "Vamos continuar aprofundando essas relações, porque juntamente com o Brasil estamos construindo uma união baseada em forte coincidência de interesses, em posições comuns nos foros internacionais e na integração econômica do Mercosul", frisou.

 

O maior problema, para os especialistas, é o fato de o parceiro mais importante do Brasil na América do Sul viver mais do que apenas uma fase de maus resultados. "Não é só resultado da crise, é uma situação permanente", diz o pesquisador Alberto Pfeifer da Universidade de São Paulo. Para ele, este ponto de vista argentino de dificuldades, corrobora para que o desenvolvimento da região econômica do bloco ultrapasse o seu real potencial.

 

As brigas no governo e a falta de credibilidade não são um problema direto para o Brasil. "O Brasil é muito maior, e visto internacionalmente como um país bem estruturado, apesar dos contratempos." A questão, porém, é que os problemas argentinos diminuem a atração no Mercosul frente às outras nações, uma vez que o Brasil deixa de ser pautado por fazer parte de um bloco comum. Também fica manchada a relação bilateral entre brasileiros e argentinos, com tantos problemas.

 

O professor do Mackenzie ressalta que os dois países têm uma importante relação de parceria comercial, mas ela poderia ser mais bem explorada. "O mercado argentino depende e pode ser visto como uma continuação da produção brasileira. Mas há falta de interesse do governo argentino em estabelecer um relacionamento estável", conclui.

 

Está prevista para esta semana uma reunião entre ministros de Brasil e Argentina para tentar acabar com as pendências comerciais provocadas pelas barreiras não oficiais levantadas pelo governo argentino a alimentos brasileiros. A ministra da indústria da Argentina, Debora Giorgi, ressalta a importância do Brasil para o desenvolvimento de seu país. "Com o crescimento econômico, precisamos importar mais componentes de máquinas e equipamentos, que vêm principalmente do Brasil."

 

Especialistas e empresários acham difícil que haja um acordo definitivo nesta próxima reunião, mesmo com as mudanças na cúpula do governo argentino.

 


Veículo: DCI


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