Nível normal de estoques ajuda indústria

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Sondagens da CNI e FGV indicam crescimento mais modesto

 

  
A indústria começou o segundo semestre do ano com níveis normais de estoque, segundo apontaram ontem as sondagens da Fundação Getulio Vargas (FGV) e da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Há níveis de estoques um pouco mais elevados em alguns segmentos, como a indústria automobilística, a distribuição de aço e setor elétrico e eletrônico, mas o movimento não é generalizado, segundo associações empresariais ouvidas pelo Valor.

 

Além de mostrar que não há acúmulo de produção não vendida, as pesquisas da FGV e da CNI sugerem um cenário de crescimento mais moderado da atividade nos próximos meses. Os indicadores da sondagem da FGV de produção prevista e intenção de contratações para os próximos três meses, por exemplo, mostraram arrefecimento.

 

Em julho, ficou em 5,6% o percentual de empresas industriais que relataram estoques excessivos, segundo números com ajuste sazonal da FGV. É mais que os 3,6% de junho, mas muito abaixo do período entre novembro de 2008 e julho de 2009, quando superava com folga os dois dígitos. "A evolução tem sido tranquila, mostrando estoques equilibrados na média da indústria", diz o coordenador de sondagens conjunturais da FGV, Aloisio Campelo.

 

De acordo com Campelo, há um aumento da dispersão, até mesmo dentro de alguns setores. No setor de material para construção, o número de companhias informando estoques excessivos subiu de 3,6% em junho para 11,6% em julho, ao mesmo tempo em que pulou de 2,9% para 14,1% as que dizem ter níveis insuficientes. No segmento de bens duráveis, caiu a zero em julho a fatia das indústrias que relatam ter inventários indesejados - em fevereiro, o percentual chegou a 13,4%. Os fabricantes de duráveis tiveram níveis elevados, ajustados ao longo dos últimos meses.

 

A indústria têxtil é um segmento que vive uma situação tranquila. Os estoques no setor representam entre 15 a 30 dias de vendas, algo "normal", segundo Fernando Pimentel, diretor da Abit, a associação do setor. "As fábricas de fiação e tecelagem estão operando com três ou quatro turnos", diz Pimentel, para quem, no entanto, será "plenamente possível atender o aumento de demanda esperado para o segundo semestre".

 

"Conversei com muitos dos nossos associados, no começo do mês, e posso dizer com firmeza: os estoques estão em sintonia com o consumo que se espera, que, aliás, será menor do que os analistas otimistas diziam no começo do ano", diz Alfredo Schimitt, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Embalagens Plásticas (Abief).

 

As cerca de 180 empresas associadas à Abief costumam registrar crescimento até uma vez e meia maior que o PIB no ano. Se a economia seguir as estimativas do governo e do mercado, superando a marca de 7%, o setor terá alta superior a dois dígitos. "Mas não acredito muito nisso", diz Schimitt, para quem o consumo já diminuiu em relação ao início do ano. "Vai melhorar, mas, com a capacidade de produção e o nível de estoques que temos, a situação está controlada."

 

A situação de carros e aço, por outro lado, destoa da maior parte dos setores na indústria. Os distribuidores de aço vão acumular em julho os maiores estoques em todo o ano. O total de 1,23 milhão de toneladas de aços planos acumulados no ano representam 4,3 meses de vendas, quase o dobro dos 2,6 meses que o setor obteve, em média, na década. Segundo dados do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda), o estoque acumulado até o mês passado era suficiente para cobrir 3,6 meses de vendas. Evolução semelhante passou o setor automobilístico, que teve em março seu estoque em nível mais baixo.

 

Segundo números da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), os estoques subiram de 202,7 mil unidades parados em março nos pátios das 15 companhias e nas cerca de 3 mil concessionárias do país para 318,6 mil unidades em junho.

 

Números da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) mostram um quadro intermediário. Um levantamento com associados aponta que, em junho, 23% das empresas informaram estoques de insumos e matérias-primas acima do normal, mais que os 14% a 20% observados entre agosto de 2009 e março deste ano, um período de forte aquecimento da economia. "Isso ocorreu porque as vendas em junho ficaram abaixo do esperado. Precisamos esperar os números de julho para ver se isso se configura uma tendência", diz o gerente do departamento econômico da Abinee, Luiz Cezar Rochel.

 

Os números da CNI também indicam um quadro tranquilo: nos seis primeiros meses, os estoques de produtos finais mantiveram-se estáveis e próximos ao planejado. "Os empresários continuam otimistas em relação aos próximos seis meses e esperam a manutenção do crescimento da demanda - inclusive das exportações -, do emprego e das compras de matérias-primas. A indústria deve continuar crescendo, ainda que a um ritmo menos intenso que o do início do ano", diz nota da entidade.
 

 

Veículo: Valor Econômico


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