Real teve valorização de 4% na comparação com uma cesta de 15 divisas; governo teme especulação e exposição de bancos ao risco
O comportamento do real em relação a diversas moedas internacionais, e não só ante o dólar, tem sido atentamente monitorado pelo governo e pode ser o fator determinante para a adoção de uma posição mais agressiva no câmbio. Nas duas primeiras semanas de setembro, a moeda brasileira teve valorização de 4% em relação a uma cesta de 15 divisas - quase o dobro da alta na comparação com o dólar, que foi de 2,05%.
Ou seja, a moeda brasileira, a despeito do movimento mundial de enfraquecimento do dólar, está se valorizando de forma mais acentuada que a moeda de seus principais parceiros, o que preocupa o governo.
Não se sabe se essa valorização veio para ficar ou se é pontual, como decorrência de movimentos específicos, como a capitalização da Petrobrás. De qualquer forma, a situação colocou o governo em alerta e explica a posição do ministro da Fazenda, Guido Mantega, e de fontes da área econômica, que desde a semana passada têm emitido sinais de que a artilharia está montada e o governo pronto para reagir em uma eventual entrada maciça de dólares, a movimentos especulativos e à continuidade do fortalecimento do real.
Na prática, o Banco Central adotou uma política mais agressiva e tem comprado dólares duas vezes por dia e, de outro lado, o Tesouro Nacional acelerou suas aquisições da moeda para pagar a dívida externa. Esses dois movimentos reforçam a ação oficial e dão maior dose de imprevisibilidade ao mercado.
Swap reverso. Mas para ampliar os efeitos sobre a cotação, o governo ainda tem a possibilidade de retomar as atuações no mercado futuro (com apostas de que o real continuará se valorizando) por meio do instrumento conhecido como contrato de swap cambial reverso. Essa operação equivale à compra de dólares. Esses contratos são identificados como uma arma poderosa para conter a valorização do real.
Enquanto estuda a volta desses contratos, o governo já mapeou que investidores estrangeiros estão vendidos -apostando, portanto, na valorização do real. Essa aposta estaria na casa dos US$ 18 bilhões. É uma situação delicada pois o governo sabe que parte dessas apostas oferece um enorme risco. Não está afastada a hipótese de que os bancos não tenham dólares no caixa, as chamadas posições "a descoberto". Além disso, fontes destacam que o cupom cambial - o rendimento em dólar de um ativo - tem subido, o que é avaliado com um sinal de movimentos de natureza mais especulativa e um sintoma da necessidade de intervenção no mercado futuro.
Sondagem, No fim de julho, o BC chegou a sondar informalmente o mercado para retomar a oferta do swap. Na época, a simples conversa com algumas mesas de câmbio mostrou a força do instrumento e, em poucos dias, bancos diminuíram a aposta no real em mais de 20% ou US$ 3 bilhões. E, como consequência, houve ainda pequena desvalorização da moeda brasileira no período.
Se executar essa operação no mercado futuro de câmbio, o BC estará desestimulando a chamada posição vendida dos bancos no mercado à vista e também vai atacar as apostas especulativas. Na crise, as posições do governo em swap reverso renderam dividendos, reduzindo a conta de juros e a dívida pública.
Para o uso desse instrumento, os departamentos jurídicos do governo se debruçaram em torno de uma controvérsia se era permitido à autoridade monetária lançar mão dos swaps. O assunto já foi pacificado na área econômica e não há obstáculo legal para que o BC, responsável por executar essa política, possa vender swaps reversos. Agora, a questão é escolher o melhor momento.
PARA ENTENDER
O swap cambial reverso é um contrato entre o Banco Central e instituições financeiras no mercado futuro. O swap vem do inglês "troca". Nesse caso, é feita uma troca de rentabilidades: dólar por juro. No período do contrato, o BC ganha a variação do dólar, paga pelos bancos. As instituições financeiras, por sua vez, ficam com a remuneração da Selic, bancada pelo governo. Como o BC fica com a variação do dólar, positiva ou negativa, a colocação desses contratos equivale à compra da moeda pelo BC. Por isso, swaps reversos podem elevar o dólar. O termo "reverso" é usado pois, originalmente, os contratos de swap funcionavam de forma inversa: o BC pagava a variação do dólar e recebia o juro.
Veículo: O Estado de S.Paulo