"O Brasil necessita de um órgão que organize o comércio exterior para que os problemas com tributos, logística, câmbio, entre outros sejam solucionados com maior rapidez e de forma real." A citação é do vice-presidente da Associação de Comércio Exterior (AEB), José Augusto de Castro.
Com esse objetivo, a Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), a Confederação Nacional das Indústrias (CNI) e a AEB enviaram a proposta da criação da nova Camex aos presidenciáveis que disputaram a campanha deste ano. Agora, eles têm como objetivo pressionar a presidente eleita Dilma Rousseff a tornar a Câmara de Comércio Exterior (Camex) braço do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio exterior (Mdic), um órgão ligado à Presidência.
"O crescimento do comércio exterior esconde as suas vulnerabilidades. Estamos nas mãos do mercado internacional, pois vendemos produtos que são precificados no mercado internacional. Relatórios apontam que perdemos posição nos rankings de competitividade e nossa rentabilidade hoje é a menor da história. Por isso, precisamos fortalecer a Camex lutar por melhores condições para a indústria brasileira", argumentou o ex-embaixador e presidente do conselho superior de comércio exterior da Fiesp, Rubens Barbosa.
"Hoje a Camex está isolada. Ela deve ser fortalecida e integrada aos demais ministérios", afirmou o vice-presidente da AEB.
Dentre os itens da proposta enviada a Dilma está a reformulação dos atuais ministérios que compõem a Camex (Desenvolvimento, Casa Civil, Relações Exteriores, Fazenda, Agricultura, Pecuária e Abastecimento, do Planejamento, Orçamento e Gestão) para a colaboração de outros ministérios que também influenciam o setor e não participam das decisões, como é o caso do Ministério dos Transportes.
"A nova Camex deveria ter maior participação de órgãos do governo, tais como Receita Federal, Ministério da Agricultura, Ministério dos Transportes e Ministério do Planejamento. Com isso, teremos um meio para pressionar a redução de tributos e avançar a competitividade dos produtos brasileiros", comentou o diretor titular do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Fiesp, Roberto Giannetti da Fonseca. As entidades reclamam também que o órgão deve ter força de lei, o que na prática lhe daria status de ministério. "A Camex foi criada por meio de um decreto. O órgão deve ter força legal e apoio político, poder de decisão, sem nenhuma outra entidade, seja ela um ministério, uma secretaria ou a própria Receita Federal poderem passar por cima ou deixar de acatar o que foi determinado", afirmou José Augusto de Castro.
"Todos os problemas que reduzem a competitividade do Brasil estão ligadas à logística cara e de baixa qualidade, as inúmeras exigências para os financiamentos, a alta burocracia e ao acúmulo de créditos [de exportação] que não são devolvidos, e que comprometem a atração de investimentos. Os problemas são antigos e conhecidos. Por isso, queremos o fortalecimento da Camex", comentou José Augusto Fernandes, diretor executivo da CNI e presidente da Funcex.
De acordo com Castro o problema cambial que assola a categoria é brasileiro e vem de anos atrás, pois a taxa cambial sempre foi o fator utilizado para conter a inflação. "Hoje buscam culpados para o erro brasileiro, enquanto deveriam apostar na taxa [cambial] para estimular o emprego no País", frisou o vice-presidente.
Para Giannetti um dos modos de conter a desvalorização do real frente ao dólar é estipular prazos mínimos de investimentos estrangeiros. "O governo não deveria autorizar investimentos com prazos menores que 180 dias. Além desta obrigatoriedade, devíamos ter uma volatilidade maior, por meio do swap cambial reverso [leilão de contratos financeiros no qual o Banco Central vende os papéis e ganha a variação cambial] que incide medo nos investidores. Assim, teríamos o dólar valendo R$ 2, que seria ótimo para os exportadores."
Castro completou a afirmação de Giannetti ao projetar o dólar a R$ 1,70 pelos próximos quatro anos, caso a política cambial não seja alterada.
Fernandes informou que a CNI realizou uma pesquisa com 26 setores industriais e 82,2% dos entrevistados afirmaram que a questão cambial é o principal fator para a queda nas exportações.
"O capital estrangeiro está crescendo muito no agronegócio. Estamos internacionalizando o setor mais importante para o País na atual conjuntura comercial. Para se ter uma ideia, se não fosse o minério de ferro, este ano não teríamos um saldo comercial de US$ 17 bilhões", conclui Castro.
Entidades como a Fiesp, AEB e CNI se reuniram ontem para pedir um órgão regulador forte para o comércio exterior, principalmente com o fortalecimento da atuação da Câmara de Comércio Exterior (Camex).
Veículo: DCI