Argentina ameaça com novas barreiras

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Às vésperas da reunião do Mercosul, Argentina indica que pode aplicar sobretaxa de 71% às toalhas exportadas pelo Brasil

 

Às vésperas da reunião de Cúpula do Mercosul, que acontece hoje em Foz do Iguaçu, a Argentina ameaça o Brasil com medidas protecionistas. O país iniciou uma investigação de dumping contra as toalhas brasileiras. Os fabricantes locais acusam as empresas do Brasil de vender abaixo do preço de custo para liquidar os concorrentes.

 

O assunto azedou o clima dos encontros preparatórios da reunião e foi tratado ontem em Foz do Iguaçu entre o secretário de Comércio Exterior do Brasil, Welber Barral, e o secretário de Comércio Exterior da Argentina, Eduardo Bianchi. "O governo busca um compromisso dos dois lados que evite a aplicação da sobretaxa", disse Barral.

 

O conflito entre os dois países no setor têxtil não está restrito apenas a toalhas. Conforme o Estado apurou, há menos de 10 dias, os empresários brasileiros aceitaram uma cota para a exportação de lençóis. Em 2011, o Brasil só poderá embarcar 2.100 toneladas do produto para o vizinho, uma redução de 18% em relação aos 2.557 toneladas vendidas de janeiro a novembro deste ano. O volume é menor que as 2.284 toneladas embarcadas em 2009. A medida afeta as vendas da Teka e da Coteminas.

 

A abertura da investigação de dumping contra as toalhas brasileiras, solicitada pelo ministério da Indústria - comandado por Debora Giorgi, autora de diversas medidas protecionistas contra produtos brasileiros - foi publicada na quarta-feira no Diário Oficial da União da Argentina.

 

Os relatórios elaborados pela Comissão Nacional de Comércio Exterior e pela Subsecretaria de Política e Gestão Comercial da Argentina indicam uma margem de dumping de 70,9%. "É uma barreira relevante e um indicativo de os argentinos estão levando o processo a sério", diz o advogado Roberto Hering Meyer, do escritório Martinelli Advocacia Empresarial.

 

Se essa sobretaxa for aplicada, pode inviabilizar as exportações para a Argentina de empresas como Teka, Karsten, Buettner ou Buddemeyer. De janeiro a novembro, o Brasil exportou 3.571 toneladas de toalhas para a Argentina, alta 38% em relação a igual período de 2009.

 

Para os empresários brasileiros, o processo antidumping é um instrumento de pressão da Argentina para convencer o Brasil a aceitar uma cota. Nos últimos meses, representantes do setor privado dos dois países discutiram uma "restrição voluntária" das exportações brasileiras, mas não chegaram a um acordo . "As quantidades propostas pelos argentinos eram inaceitáveis", disse Fernando Pimentel, diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit).

 

O vice-presidente da Teka, Marcello Stewers, conta que a "troca de farpas" já se arrasta há meses. "Estamos procurando outros mercados. Exportar para a Argentina se tornou um grande problema", disse.

 

Justificativas. Os empresários argentinos argumentam que, na contra-mão da recuperação econômica do país, a presença da indústria local no mercado de toalhas encolheu 27%. Eles garantem que as fábricas locais estão trabalhando com apenas 57% da capacidade instalada.

 

Pedro Bergaglio, presidente da Fundação Pro-Tejer, um ativo lobby empresarial do setor têxtil, afirmou que "o prejuízo provocado no setor (pelo Brasil) é absolutamente inadmissível". O presidente da Câmara Argentina de Produtores de Toalhas, Alberto Sebele, celebrou a abertura das investigações de dumping contra o Brasil. "A medida beneficia a indústria nacional, aumentando e criando postos de trabalho, que é o que nosso país precisa para crescer".

 

Na Federação Argentina de Indústrias Têxteis, o vice-presidente da entidade, Arturo Kargozlu, afirmou que os fabricantes argentinos estão sofrendo uma redução de vendas por causa da concorrência brasileira. "Quando a sobretaxa começar a ser aplicada, os produtores nacionais poderão concorrer em igualdade de condições com as importações de toalhas".

 

As novas ameaças de Buenos Aires contra os produtos têxteis mostram que a trégua entre Brasil e Argentina durou pouco. As relações bilaterais viviam um bom momento recentemente, com redução dos conflitos. Depois que o governo brasileiro começou a retaliar, a presidente Cristina Kirchner reduziu as barreiras contra produtos brasileiros e o País voltou a ganhar espaço no mercado do vizinho.

 

Veículo: O Estado de S.Paulo


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