Maioria dos analistas aposta em alta de 0,50 ponto porcentual da Selic, mas diz que Copom deveria promover aperto maior na reunião de hoje
O mercado financeiro em peso acredita que o Banco Central (BC) elevará a taxa básica de juros (Selic) em 0,50 ponto porcentual na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que termina hoje à noite. A maioria dos analistas, porém, avalia que o BC está errado. Para eles, a autoridade monetária deveria ser mais dura no combate à inflação.
Por isso, eventual surpresa na decisão - como uma alta de 0,75 ponto, para 12% ao ano - será bem-vinda, ainda que eles tenham de explicar aos superiores e aos clientes por que se equivocaram no palpite. O principal argumento é o de que as expectativas para a inflação pioram ininterruptamente, o que alimenta a alta dos preços. Esse pessimismo indica que os agentes econômicos desconfiam da capacidade de o BC controlar a inflação.
No boletim Focus, pesquisa que o BC faz com o mercado, a previsão para o IPCA de 2011 piora há 12 semanas seguidas. O IPCA é o índice oficial de inflação. O governo estabeleceu 4,5% como meta para 2011 e 2012, com tolerância de dois pontos para baixo ou para cima. Ano passado, o IPCA estourou o centro da meta (5,91%). A expectativa é de que a supere neste e no próximo ano. Para 2011, a projeção está em 5,80%. Para 2012, 4,78%.
A estimativa para o ano que vem é o que mais incomoda os analistas. "É inédito no regime de metas uma expectativa fora do centro da meta tão cedo", disse o economista da JGP Gestão de Recursos Fernando Rocha.
O economista-chefe do Santander e ex-diretor do BC, Alexandre Schwartsman, observa que, em julho, 80% dos profissionais que respondem a Focus acreditavam que a inflação ficaria no centro da meta. Na medição de fevereiro, eram 40%. "É grave em termos de sinalização."
Rocha está no time majoritário, que aposta em elevação de 0,50 ponto. Mas diz que o mais apropriado, dada a pressão sobre os preços, seria 0,75 ponto. Schwartsman mudou sua projeção sexta-feira. Agora, está no grupo que acredita em 0,75 ponto.
O economista-chefe do HSBC Brasil, André Loes, sugere que o BC deve surpreender o mercado - e a ele mesmo, que também prevê alta de 0,50 ponto. "O regime de metas mostra que essas surpresas têm efeito positivo sobre as expectativas", afirmou.
Desde abril, muitos analistas avaliam que o BC tem minimizado os riscos inflacionários. A presidência da instituição mudou - saiu Henrique Meirelles e assumiu Alexandre Tombini -, mas tal avaliação, não. A principal hipótese dos céticos é de que o BC estaria sendo pressionado pela Fazenda a segurar o juro para evitar valorização adicional do real. Como o Brasil tem o maior juro do mundo, atrai muito capital externo. "Tecnicamente, tenho certeza de que o BC sabe bem o que deve fazer", disse um analista.
Em entrevista à GloboNews, o ministro Guido Mantega disse que, "daqui para a frente, a inflação começará a cair". Segundo ele, o ajuste fiscal do País "abre espaço para a queda do juro".
Veículo: O Estado de S.Paulo