A produção de insumos e matérias-primas para a indústria começou o ano em queda, com a fabricação de bens intermediários recuando 0,4% em relação a dezembro de 2010, feito o ajuste sazonal. O setor, que responde por mais de 50% do que é produzido na indústria, foi o único a cair no primeiro mês de 2011 nessa base de comparação -os bens de capital subiram 1,8% e a de bens duráveis, 6%, o que se refletiu num aumento de 0,2% da indústria geral.
A perda de espaço para o produto importado e, em menor medida, uma demanda mais fraca por parte dos outros setores, contribuíram para o desempenho um tanto decepcionante dos intermediários no mês de janeiro. Entre os segmentos mais importantes que fabricam insumos, houve queda de 0,4% no de produtos químicos e de 2,3% no de refino de petróleo e álcool, sempre em relação a dezembro, na série com ajuste sazonal.
Para o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, o resultado ruim da produção de insumos é um efeito da "baixa competitividade da indústria, que vem desde o começo do ano passado." Isso explica, segundo ele, por que a indústria anda de lado desde abril de 2010, mesmo com a demanda forte, como fica claro no comportamento do varejo. Nesse quadro, há alguma perda de espaço para o produto importado, que entra no país a preços mais baixos.
"Há um movimento de perda de competitividade da indústria que vai além da questão cambial, passando pelos aumentos de custos trabalhistas e de infraestrutura", diz Vale. Em janeiro de 2011, o volume importado de insumos foi 17,5% maior que o registrado no mesmo mês do ano passado. Ainda que inferior à alta acumulada em 12 meses, de 39,3%, é uma taxa bastante expressiva. A produção de intermediários, por sua vez, cresceu apenas 0,9% nessa base de comparação - em 12 meses, o aumento é de 9,9%. "Basicamente é importação que explica a estagnação da produção industrial nos últimos meses. Já faz quase um ano que a indústria patina e não me parece razoável culpar estoques ou uma suposta desaceleração agora para esse comportamento."
A economista-chefe da Rosenberg & Associados, Thaís Marzola Zara, também acredita que a forte concorrência do importado é o fator preponderante para explicar o desempenho fraco da produção de bens intermediários. Para ela, menores encomendas de insumos, num cenário de menor crescimento da indústria, tem alguma influência nesse resultado, mas não é o mais importante.
Nem todos os segmentos de intermediários, porém, tiveram um resultado ruim em janeiro. A produção de metalurgia básica, onde se encontra a siderurgia, aumentou 5,3% em relação a dezembro, feito o ajuste sazonal. Essa alta, porém, ocorreu depois da queda de 4,9% de dezembro.
O desempenho de metalurgia básica ajudou a indústria geral a subir 0,2% sobre o mês anterior. A maior alta, contudo, foi do setor de material eletrônico e equipamentos de comunicação, que viu a produção aumentar 35,5% sobre dezembro, reflexo da retomada das atividades depois das férias coletivas do fim do ano passado, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No último mês de 2010, houve queda de 17%. "Só a alta desse setor em janeiro contribuiu com 1 ponto percentual para o avanço da indústria", diz o economista-chefe da Prosper Corretora, Eduardo Velho.
"Sem ela, teria ocorrido uma queda de 0,8%." Isso ajuda a entender por que o resultado da indústria em janeiro foi bem diferente do que previam os analistas. Grande parte dos analistas esperava um recuo na casa de 0,5%, mas havia quem projetasse um tombo de 1,5%.
A alta da produção em janeiro mostrou que a moderação da atividade na indústria não é tão pronunciada como acreditava parte do mercado, mas não é suficiente para se falar numa retomada forte. O nível de produção de janeiro ainda está 2,6% abaixo do recorde atingido em março de 2010.
Velho, da Prosper, ressalta ainda que o indicador de difusão - o percentual de ramos industriais em alta - caiu de 59,3% em dezembro para 55,6% em janeiro. Ainda que volátil, o índice sugere que a alta do primeiro do mês do ano não significa uma recuperação, porque se deve à contribuição positiva de um número não muito expressivo de setores, afirma ele.
As estimativas para a produção industrial apontam para um crescimento modesto em 2011. Vale projeta expansão de 3,5%, bem abaixo dos 10,5% do ano passado. Thaís é um pouco mais pessimista, apostando em crescimento de apenas 2,5%. "E a indústria vai ter que suar a camisa para chegar a esse resultado", afirma ela. Segundo Thaís, para atingir esse ritmo de expansão, será necessário uma alta mensal média de 0,55% entre fevereiro e dezembro, na comparação com o mês anterior. A tarefa é difícil porque desde abril do ano passado a indústria anda de lado, mostrando pouca vitalidade mesmo com a demanda forte.
Hoje, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) de 2010. O Ministério da Fazenda espera uma alta de 7,5%, percentual semelhante ao esperado pelos analistas do setor privado.
Veículo: Valor Econômico