Os efeitos da crise no norte da África e no Oriente Médio sobre as commodities agrícolas ainda estão indefinidos, mas as projeções apontam efeito altistas
A crise no norte da África e no Oriente Médio é uma oportunidade a médio e longo prazo para o agronegócio brasileiro. Essa é a expectativa de especialistas ouvidos pelo DCI nos últimos dias. Os países envolvidos em conflitos são importantes produtores de petróleo, mas dependentes da importação de alimentos.
Os principais produtos importados pelos países árabes são carnes (bovina e frango), açúcar, minérios, cereais, veículos e maquinário. Os efeitos da crise sobre as commodities agrícolas ainda estão indefinidos, mas as projeções apontam para um efeito altistas, principalmente se as expectativas de uma melhor distribuição de renda e da prevalência de um processo democrático se confirmarem.
O professor de Economia da Trevisan Escola de Negócios, Alcides Leite, entende que "o aumento do preço do petróleo deve gerar uma redução no ritmo da economia internacional, que pode levar a redução nos preços das commodities agrícolas e minerais, reduzindo a pressão inflacionária em si". Por outro lado, Leite acredita que comércio externo pode ser prejudicado, devido a um possível desaquecimento na economia mundial, reduzindo o volume de exportações do Brasil.
O presidente da União Brasileira de Avicultura (Ubabef), Francisco Turra, entende que o mercado de frango e suínos no Oriente Médio deve crescer após o fim dos conflitos.
Ele esteve esta semana em Dubai, nos Emirados Árabes e garante que o interesse dos países da região é grande.
Para o analista de Mercado de Commodities Agrícolas da Cerealpar, Steve Cachia, que esteve em Malta nas últimas semanas e pode acompanhar de perto a movimentação nas áreas de conflito, os preços dos alimentos, um dos principais catalisadores das manifestações que já derrubaram governos, devem subir.
"Estamos falando de uma área populosa e que deverá ter melhoria em seu poder aquisitivo quando a situação política desses países se normalizar", acredita.
"E o primeiro gesto, nesses casos, é melhorar a alimentação da família, promovendo aumento na demanda o que se traduz numa pressão sobre os preços das commodities agrícolas".
Para Cachia, nos próximos anos o mundo vai viver uma nova bolha de demanda por alimentos. "Hoje vemos o crescimento da procura por commodities agrícolas por parte dos países asiáticos, em particular a China e a Índia. Mas os movimentos no norte da África e em países do Oriente Médio vai fazer com que as populações dessas localidades se incluam no mercado de alimentos e forcem os preços para cima."
O professor titular da USP/Esalq e coordenador científico do Cepea/Esalq/USP, Geraldo Barros, concorda com Cachia. Em um artigo ele afirma que "para o agronegócio, importa saber que boa parte do crescimento esperado na demanda de alimentos na próxima década está associada aos países da África e Oriente Médio. Daí que, em sequência ao agravamento da crise na Líbia e seus reflexos sobre o preço do petróleo, os mercados de grãos - como trigo, soja e milho - reagiram com forte baixa. Na mesma direção atuaram as notícias de que China e Índia buscavam uma frenagem em suas locomotivas econômicas".
Mais à frente, Barros afirma que "é provável que a crise no norte da África traga alguma turbulência sem, porém, alterar significativamente o quadro de alta de preços tanto de petróleo como de alimentos, enquanto for mantido o atual crescimento rápido mesmo face ao aumento da inflação mundial".
Barros lembra que "o que a experiência ensina é que os preços de alimentos e petróleo - e commodities em geral - tendem a se movimentar nas mesmas direções embora a curtíssimo prazo possam seguir rumos discrepantes". " Tanto na crise dos anos 1970 como na de 2008, distúrbios na produção de petróleo e transtornos climáticos levaram a altas substanciais de preços de ambos. Imprevidências na condução de políticas macroeconômicas agravaram os efeitos perversos do choque de oferta. "
Para o secretário-geral da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, Michel Alaby, as mudanças que estão se desenhando no mundo árabe não devem alteraras relações comerciais entre os países e o Brasil. "Não cremos que haverá uma quebra nas trocas comerciais, já que as empresas que realizam comércio são parceiras tradicionais, algumas com negociações que perduram por décadas", disse.
Veículo: DCI