Porém, há sinais de desaceleração causada por inflação, juros altos e redução do crédito
O consumo das famílias foi o grande destaque do Produto Interno Bruto (PIB) de 2010, tanto em termos do resultado do último trimestre quanto do relativo ao ano de 2010. Mas já há indícios de que o brasileiro começa a puxar o freio de mão na hora de ir às compras neste início de ano por causa do aumento da inflação, da alta dos juros e da redução na oferta de crédito.
No quarto trimestre do ano passado em relação aos três meses imediatamente anteriores, o consumo das famílias cresceu 2,5%, equivalente a um ritmo anualizado de 10,4%, já descontadas as influências sazonais do período. Ante o quarto trimestre de 2009, a expansão do consumo das famílias no último trimestre do ano passado foi de 7,5%. Em 2010, o consumo das famílias cresceu 7%, o recorde da atual série das contas nacionais, iniciada em 1996.
O consumo das famílias, responsável por 60,6% do PIB em 2010, está crescendo há sete anos seguidos, e há 29 trimestres consecutivos. Os técnicos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) notam que, em 2010, o consumo foi impulsionado por uma elevação de 8,2% da massa salarial real, segundo a Pesquisa Mensal de Emprego (PME, que abrange as seis principais regiões metropolitanas). Além disso, houve um crescimento nominal de 17,6% no crédito à pessoa física com recursos não direcionados do sistema financeiro.
Desaceleração. O forte ritmo do consumo no último trimestre de 2010 já é motivo de preocupação de analistas. Para uma corrente de mercado, é um sinal de que a demanda está desacelerando bem menos do que o sugerido por outros indicadores, como o da produção industrial nos últimos meses.
Um indicador que aponta o desaquecimento do consumo dos brasileiros neste início de ano é o Índice de Consumo das Famílias (ICF) paulistanas apurado pela Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio-SP). Pelo segundo mês consecutivo, em fevereiro, o índice registrou queda de 3,8% na comparação com o mês imediatamente anterior. Segundo o indicador, houve uma retração do consumo das famílias acumulada de 7,4% no primeiro bimestre em relação a dezembro último.
Guilherme Dietze, assessor econômico da Fecomércio-SP, explica que a retração do índice, que é composto por sete variáveis, ocorreu especialmente por causa do recuo de 15,2% no nível atual de consumo das famílias de janeiro para fevereiro, o maior recuo mensal desse item desde de setembro de 2009, quando o indicador começou a ser apurado.
"Como os alimentos ficaram mais caros e a oferta de crédito diminuiu, o consumo corrente do brasileiro recuou", diz. Para calcular o indicador, são consultados mensalmente 2.200 consumidores na capital paulista.
Veículo: O Estado de S.Paulo