Consumidor aproveitou o crédito fácil no ano passado para reformar a casa e comprar carro zero, mas já começou a pisar no freio em 2011
Depois da farra do consumo no ano passado, a microempresária Cristina Oliveira Lima Venâncio, de 40 anos, casada e mãe de três filhos, já começou a reduzir os gastos neste ano. "Vamos cortar o consumo: presidente nova a gente tem medo", disse ontem, enquanto fazia compras num supermercado da capital paulista, na companhia da filha Júlia.
No ano passado Cristina contou que comprou "muito": adquiriu uma televisão dessas fininhas, com tela de cristal líquido (LCD, na sigla em inglês), reformou a casa, começou a pagar um consórcio do carro zero quilômetro e renovou o guarda-roupa. O resultado apareceu no extrato do cartão de crédito: uma dívida de cerca de R$ 10 mil.
A promessa de ano-novo de apertar o cinto já está surtindo efeito, segundo ela. Hoje a dívida já recuou para R$ 3 mil. Cristina explicou que até as compras de supermercado entraram no corte das despesas este ano. Em 2010, ela desembolsava perto de R$ 150 por semana com alimentos e itens de higiene e limpeza. Hoje, reduziu os gastos para R$ 70 semanais.
Boa parte do corte nos gastos diários ocorreu por causa do aumento da inflação sentida no preço das carnes, derivados de leite e produtos de limpeza.
O porteiro Antonio Raimundo de Barros, de 35 anos, casado, pai de dois filhos e de um terceiro que vai nascer dentro de dois meses, é outro brasileiro que colocou o pé no freio nos gastos neste início de ano. Ele e a mulher Josefa acumulam uma renda mensal de R$ 1,5 mil e estão preocupados em economizar, especialmente agora, com a chegada do terceiro filho.
Com o aumento da inflação, ele contou que trocou a carne bovina pelo frango e pelo peixe e decidiu também economizar em despesas com água, luz e telefone. Mas observou que, no caso dessas despesas compulsórias, a possibilidade de cortar gastos é pequena. Além disso, ele lembrou que, neste início de ano, houve outros gastos que desequilibraram o orçamento, como o pagamento do IPVA (Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores) e IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano).
Com muita ginástica, a família Barros está conseguindo se equilibrar sem fazer dívidas. Mas o porteiro admitiu que a situação neste ano é completamente diferente da do ano passado.
Em 2010, o porteiro comprou um computador novo e telefone celular. Até sobraram uns trocados para levar a família para passear na praia no fim de semana. Já neste ano, a ordem é economizar.
Veículo: O Estado de S.Paulo