Dívidas do Natal e pagamentos tributos de início de ano são substituídos por novas compras.
É difícil encontrar um comerciante que não reclame das vendas registradas no início de cada ano. Afinal, em janeiro e fevereiro os consumidores têm que dar conta das dívidas contraídas no Natal, além de fazer o pagamento de impostos e arcar com as despesas escolares das crianças. Tudo isso, milagrosamente, costuma terminar na época de carnaval. Talvez seja por isso que muitos lojistas torçam para que a grande festa termine logo. Depois dela tudo volta ao normal – e os clientes não se importam em fazer novas dívidas.
Otimismo
Em tom brincalhão, a administradora Andreza Nazaré do Nascimento disse, após quatro horas e meia dedicadas às compras em lojas da Rua 25 de Março na última segunda-feira, que "isso aqui consola qualquer mulher". Ela se preparava para receber familiares em um jantar regado a bingo. "Vim comprar os brindes e o próprio jogo e aproveitei para levar o presente de um casamento, em abril." Assídua frequentadora da região, é ali que ela também se abastece com produtos destinados à decoração da clínica que o seu marido divide com 13 médicos, sob sua administração. E as suas perspectivas pós-carnaval são otimistas. "O ano de 2010 foi muito bom para a clínica e este também será", projetou.
Passeio
Geralmente os clientes viajam no réveillon e esticam até depois do carnaval. "Só os pobres têm que trabalhar nos primeiros meses do ano, para pagar as dívidas contraídas no Natal", disse a vendedora Iná Camilo (foto ao lado), da Petulan Moda Masculina. Segundo ela, as pessoas que estão nas ruas só estão interessadas em passear – o movimento está muito fraco. Iná já ouviu muitas vezes, dos consumidores, que as compras serão concretizadas depois do carnaval. Mesmo assim, a loja tem que ser aberta. "A gente não consegue vender, e também não pode sair de férias", reclamou.
Fim das dívidas
As despesas que vêm junto com o ano novo levam as pessoas a só comprarem depois do carnaval. A avaliação foi feita por Alessandro Silva, gerente da Keen Moda Feminina, que fica em Pinheiros. E ele fala com conhecimento de causa: afinal, também é consumidor de outras lojas. Atualmente Silva está terminando de pagar as dívidas feitas no Natal, e já começa a sonhar com a troca dos móveis de seu quarto. "Depois do carnaval vou começar a fazer a pesquisa para encontrar a opção que mais combina com a minha casa e renovar o ambiente."
Festa tardia é positiva
Para o comércio de tecidos da Casa Fátima, na região da Rua 25 de Março, a realização do carnaval depois de fevereiro foi bem-vinda. "Dá tempo para as pessoas se abastecerem financeiramente, depois das compras de Natal e da volta às aulas", comentou o gerente Osório Aparecido de Andrade. Ele observou que nas segundas-feiras de carnaval o movimento da loja cresce cerca de 20%. "Os feriados prolongados com uma segunda-feira no meio são muito bons." Nessas ocasiões, a maior demanda é a do varejo, embora a loja também abasteça atacadistas de todo o Brasil. Para o segmento, segundo ele, o verão e a meia-estação são os melhores períodos de venda, embora elas caiam um pouco após o Natal. A Casa Fátima está entre as poucas sobreviventes do ramo na região. "Somos a única que também tem tecelagem."
Calendário deste ano é mais favorável ao comércio
O calendário de feriados de 2011 deverá favorecer o comércio, por inviabilizar as chamadas "emendas" prolongadas, como a do carnaval ou a de Corpus Christi, em abril próximo. A observação é do economista do Instituto de Economia Gastão Vidigal da Associação Comercial de São Paulo, Emilio Alfieri.
Nessas ocasiões, segundo constatou, o movimento de vendas fica enfraquecido – mesmo com um dia útil entre as folgas. Independentemente do calendário, no entanto, ele recomenda cautela. "O que mais pesa no desempenho do comércio é a massa salarial e o crédito", disse Alfieri.
Com os juros em alta, alerta o economista, é preciso ter uma boa gestão de estoque e tentar antecipar as vendas, com atenção às oportunidades de promoções.
"No setor de vestuário há o problema do clima na metade do ano (inverno, com dias muito quentes). É preciso atenção para ajustar as compras", afirmou Alfieri. Ele lembrou que os efeitos das altas da taxa básica de juros, a Selic, aparecem depois de seis meses. "O segundo semestre, portanto, tende a ser mais difícil ", alertou.
Veículo: Diário do Comércio - SP