Em audiência no Senado, presidente do BC prevê recuo a partir de abril, mas diz que até o terceiro trimestre índice acumulado continuará elevado
Pressionado pelo mercado financeiro, o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, pediu ontem paciência para que a inflação seja conduzida para a trajetória de metas. A partir de abril, previu, a inflação mensal começa a "girar" em níveis compatíveis com o centro da meta, que é de 4,5%. Mas até o terceiro trimestre, segundo ele, os índices acumulados em 12 meses permanecerão elevados.
Antecipando-se a novas críticas, que devem aumentar enquanto a inflação não recuar e mostrar os resultados da política monetária, Tombini disse que precisará de "sangue-frio" para fazer o seu trabalho.
Na primeira audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado como presidente do BC, Tombini procurou tranquilizar o mercado e afastar as dúvidas em relação à capacidade da instituição de controlar a alta de preços.
Os ruídos cresceram há duas semanas, depois que a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) indicou que o BC poderá adotar novas medidas administrativas, entre elas de controle do crédito, no lugar de uma dosagem maior de alta da taxa Selic. Parte dos analistas do mercado passou a enxergar nesse mix de políticas uma postura frouxa do BC no combate à inflação.
Apesar da aposta no atual mix de política econômica, Tombini sinalizou, no entanto, que ainda não está satisfeito com a atual redução do ritmo de crescimento do País. Para ele, ainda há descompasso entre o ritmo de alta da oferta e da demanda por bens e serviços. Dados de vendas do varejo, mercado de trabalho e utilização da capacidade instalada evidenciam o vigor da demanda interna. O recado principal foi de que será preciso diminuir ainda mais a velocidade do crescimento, a um nível abaixo do potencial do País, para reduzir a taxa de inflação e levá-la à meta.
"Nesse sentido, é importante suavizar o ritmo de crescimento da demanda, para que sejam contidas pressões sobre os preços", disse Tombini, indicando que novas medidas macroprudenciais serão adotadas em breve.
Alta preocupante. A exposição aos senadores foi recheada de recados aos analistas do mercado. Tombini destacou que o cenário externo tem grandes incertezas e exige um esforço analítico redobrado e mais sofisticado. Ele traçou os riscos que ameaçam a inflação, entre eles a alta do petróleo e o terremoto no Japão.
No front interno, os riscos estão na alta dos alimentos com a elevação das commodities, mas também na inflação de serviços que, segundo o presidente do BC, tem se "alargado" no Brasil de forma preocupante. Para combatê-la, ele alertou que é hora de refletir sobre a agenda de ganhos de produtividade.
Ao ser confrontado por Marinor Brito (PSOL/PA), que comparou a coleta de dados do BC no mercado financeiro a "colocar a raposa no galinheiro", o presidente do BC demonstrou publicamente pela primeira vez desconforto com as críticas recentes do mercado, ao afirmar que "nem todos concordam" que o banco atende aos anseios do mercado: "Tenho ouvido o oposto".
Tombini confirmou, como antecipou o Estado, que o BC quer ampliar o número de instituições na pesquisa Focus, que coleta dados das projeções econômicas de analistas do mercado.
Veículo: O Estado de S.Paulo