As altas taxas de juros e a queda no ritmo de crescimento da economia brasileira já refletem diretamente nas empresas. O Indicador Serasa Experian de Perspectiva da Inadimplência das Empresas projeta alta para 2011. Em janeiro, o índice cresceu 0,3%, atingindo 86,1 pontos, o que representa a primeira alta do indicador após 20 meses de quedas consecutivas. O Serasa também revela aumento na demanda por crédito das micro e pequenas empresas, para 5,5% em fevereiro, em comparação a janeiro.
A tendência do Banco Central de contínuo aumento das taxas de juros, em torno de 1,0 ponto percentual até o final do ano, exerce pressão direta sobre o custo financeiro das empresas, de acordo com o indicador. "A partir do segundo semestre, a perspectiva é de aceleração do crescimento da inadimplência devido as medidas do BC para conter a inflação. Nas pequenas empresas, o crédito mais caro ao consumidor influencia principalmente no setor de comércio e serviços", declarou Carlos Henrique de Almeida, assessor econômico do Serasa Experian. Pelo sexto mês consecutivo, a inadimplência do consumidor cresceu 2,1% em janeiro de 2011, chegando ao nível de 95,4 pontos.
O professor de estudos políticos e econômicos brasileiros da ESPM, Leonardo Trevisan, acredita que a inadimplência está relacionada ao alto valor do crédito oferecido pelos bancos privados e públicos. "O risco por oferecer crédito para micro e pequenas empresas é muito alto e, por esse motivo, os bancos apresentam altas taxas de juros. As linhas de crédito mais vantajosas, com juros mais baixos, ficam para as grandes empresas".
Segundo o especialista, as soluções seriam o aumento da concorrência entre os bancos e medidas de fortalecimento do Banco Central para empréstimos por bancos públicos. "O Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, por exemplo, deveriam estar mais próximos do pequeno empresário. Atualmente, as taxas de juros estão acima de 36% ao ano, um nítido encarecimento do crédito", relata Trevisan, que acrescenta: "O BNDES também possui a mesma estratégia e está errado, pois precisam abrir linhas de crédito específicas. Durante a crise econômica, em 2009, o BNDES abriu R$ 181 bilhões para socorrer as empresas. Mas o valor ficou apenas com grandes grupos".
Outro fator que demonstra a falta de capital das micro e pequenas empresas é o aumento na demanda por crédito, que cresceu 5,5% em fevereiro, de acordo com o Indicador Serasa Experian. Para o assessor econômico Carlos Henrique de Almeida, a justificativa vem da falta de estrutura e capital. "As pequenas são menos capitalizadas e, por isso, mais dependentes do empréstimo. Mas esse número deve cair nos próximos meses com o aumento do juros", disse Almeida. Entre as médias empresas, o aumento foi de 0,5% e nas grandes houve recuo de 0,2%, em comparação a janeiro de 2011.
Para Alcides Leite, consultor do Centro de Conhecimento da Equifax, a demanda já apresenta constante crescimento há alguns meses: "O aumento da procura por crédito acontece junto com a economia brasileira, o que significa que as empresas estão expandindo". De acordo com o consultor, os bancos públicos e privados também estão com políticas ainda consideradas agressivas de concessão de crédito.
Entre os bancos privados, o Itaú Unibanco confirma o fortalecimento do setor no balanço de 2010. A carteira de crédito de pessoa jurídica cresceu 21,8%, devido ao aumento de 31,2% na carteira de micro, pequenas e médias empresas. O Bradesco também expandiu 23% em relação a dezembro de 2009, com R$ 293,5 bilhões, sendo que as micro, pequenas e médias representam crescimento de 29,2%.
O saldo da carteira de crédito total do Banco do Brasil foi de R$ 300,8 bilhões, com R$ 45 bilhões resultado de micro e pequenas empresas.
Em relação ao aumento da inadimplência, os bancos devem enfrentar alta nos prazos de pagamento, mas o fato não deve causar fortes impactos. "A tendência não deve afetar diretamente nos negócios bancários, já que o prejuízo pode ser repassado para o spread, com elevação da taxa média de juros", ressalta Alcides Leite, consultor do Equipax. A taxa de inadimplência em negócios bancários apresentou crescimento de 0,1% em janeiro, segundo dados do Banco Central.
Veículo: DCI