Varejo mantém ritmo forte, apesar das medidas oficiais

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O primeiro trimestre terminou e o comércio varejista praticamente não sentiu os efeitos da desaceleração econômica perseguida pelo governo federal desde o início do ano. Entre janeiro e março, o governo anunciou cortes no Orçamento, elevou os juros e aplicou taxas sobre os empréstimos estrangeiros. Números iniciais apontam que o ritmo do consumo das famílias e da concessão de crédito recuaram em março, mas o movimento foi tênue e muito dependente do início do mês, quando ocorreu o feriado de Carnaval, tradicionalmente comemorado em fevereiro.

 

Redes de varejo de diferentes regiões do país registraram desaceleração no ritmo de aumento de vendas no mês passado, principalmente nos primeiros 15 dias, mas a avaliação de executivos do setor é que não se pode falar ainda em retração dos negócios.

 

Os feriados do Carnaval, explicam os comerciantes, foram os responsáveis pelo resultado abaixo das expectativas. Para abril, entretanto, a projeção é de recuperação forte das vendas. O Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV), formado por 35 grandes varejistas (como C&A, Pão de Açúcar, Leroy Merlin, Lojas Renner, Magazine Luiza e Tok&Stok), avalia que houve crescimento real das vendas de 7,9% em março deste ano, em comparação a março do ano passado, quando o consumo registrou expressivo crescimento - era o último mês de vigência das desonerações fiscais concedidas pelo governo à indústria.

 

A Associação Comercial de São Paulo (ACSP) registrou queda de 5,2% nas vendas a prazo e 9,8% nas vendas à vista, nos primeiros 15 dias de março (em relação a igual período de 2010), números que própria entidade considera muito influenciados pelo Carnaval. Quando os dados da segunda quinzena são incorporados, o resultado cheio do mês se transformou em aumento de 3,2% nas vendas a prazo, enquanto a queda nas vendas à vista recuou para 3,5%.

 

A Lojas Colombo, que opera no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Minas Gerais, notou uma redução no ritmo de crescimento das vendas em março. Depois de registrar altas de 15% em janeiro e fevereiro na comparação com o mesmo mês do ano passado, a varejista gaúcha encerrou março com alta de 10% ante março de 2010, informou o diretor de vendas e marketing, Thiago Baisch.

 

Segundo o executivo, os gastos de início do ano e com o Carnaval, que caiu em março ao invés de fevereiro, pesaram no bolso dos consumidores. Com isso, a desaceleração foi mais sentida nas modalidades de pagamento à vista ou no carnê, que representam 70% das vendas. Os negócios com cartões de crédito tiveram melhor desempenho, porque os clientes dispõem de prazos maiores de pagamento.

 

Baisch disse que as medidas de restrição ao crédito adotadas pelo governo federal para frear o consumo e a inflação ainda não afetaram a Colombo, que mantém a previsão de faturamento de R$ 1,5 bilhão em 2011, ante R$ 1,3 bilhão em 2010. "Não mexemos nas nossas taxas nem nos nossos prazos", informou.

 

A expectativa da Colombo é que a entrada de novos modelos de televisores e eletrodomésticos, este mês, dará novo fôlego para as vendas. Para Baisch, a preocupação, nesse caso, é com os sinais de aumentos de preços emitidos pelos fabricantes de linha branca e com o risco de atraso no fornecimento de componentes para a indústria de eletroeletrônicos em função do tsunami no Japão.

 

Para a Havan, rede de lojas de departamentos com sede em Brusque, Santa Catarina, houve aumento de 60% nas vendas de março deste ano em comparação com 2011. Segundo o diretor-presidente da empresa, Luciano Hang, o Carnaval em março, ao contrário do que ocorreu em outras regiões, impulsionou as vendas. Como a festa foi celebrada mais tarde do que em anos anteriores, muitos consumidores já haviam retornado das férias e foram às compras, o que ajudou nos resultados. Também influenciou o maior número de lojas em funcionamento na comparação com 2010.

 

Para Hang, o aumento da taxa básica de juros já começa a preocupar o consumidor. Na avaliação do empresário, apesar do crescimento das vendas da Havan, há uma tendência de maior cautela nos gastos, o que se reflete no resultado do comércio.

 

Com 132 lojas espalhadas pela região Nordeste, a rede varejista Eletroshopping reconhece uma pequena queda nas vendas durante o mês de março, porém atribui o movimento exclusivamente ao efeito Carnaval. Segundo seu gerente comercial, Cristiano Vilar, se considerada uma média diária de faturamento, os números ficaram bem parecidos com o que se viu em janeiro e fevereiro.

 

Disposta a faturar R$ 1 bilhão neste ano, 25% a mais do que em 2010, a rede não acredita em desaceleração do consumo nos próximos meses. A expectativa para abril, de acordo com Vilar, é de vendas bastante fortes, turbinadas pelo fato de que o mês, que antecede o Dia das Mães, terá cinco sábados. "A previsão para os próximos meses segue de crescimento. Não percebemos qualquer impacto negativo no consumo."

 

Para Luiz Rabi, economista-chefe da Serasa Experian, "se uma desaceleração começou, eu ainda não vi". Segundo dados compilados pela Serasa, a demanda por crédito aumentou 16,3% nos primeiros dois meses do ano, frente a igual período de 2010, percentual praticamente idêntico ao do início de 2010.

 

Segundo Rabi, a desaceleração só vai começar a ficar clara na passagem do fim do primeiro semestre para o início do segundo. "O mercado de trabalho continua muito aquecido, bem como a concessão de crédito e a renda em si", observou o economista.

Veículo: Valor Econômico


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