Mercado vira e maioria vê Selic 0,25 ponto maior

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A pouco mais de 24 horas da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) sobre o próximo aumento da taxa Selic, o mercado deu uma guinada. A curva de juros no mercado futuro passou a indicar 70% da probabilidade de aumento da Selic em 0,25 ponto percentual e 30% de probabilidade de alta de 0,50 ponto. Até a véspera, a curva de juros futuros estava mais inclinada a 0,50 ponto. E, há exatamente uma semana, a expectativa majoritária era de um aumento de 0,50 ponto. Basicamente, só os grandes bancos concentravam suas apostas no aumento mais brando do juro básico.

 


O placar para o Copom foi influenciado nas últimas horas pelo agravamento do cenário global e os resultados do mercado de trabalho no Brasil em março. Além da deterioração do cenário na Europa, a agência de classificação de risco Standard & Poor's reduziu, na segunda-feira, sua perspectiva para a dívida soberana dos Estados Unidos pela primeira vez, o que sacudiu os preços dos ativos no mundo. No Brasil, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) apontou que em março foram criados 92.675 empregos. Esse resultado foi bem pior que o observado em março de 2010, quando foram criadas 266.415 vagas, e também inferior às projeções do mercado para a criação de vagas no mês passado. Algumas instituições chegaram a trabalhar com a perspectiva de geração de mais de 200 mil vagas. O resultado foi menos da metade do esperado. Mas a taxa de desemprego em março, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 6,5%, ainda mostra um mercado aquecido para alguns economistas.

 

"O cenário global e o dado do Caged apenas reforçam a probabilidade de o Copom desacelerar o ritmo de alta da Selic", afirma Octávio de Barros, diretor do departamento de pesquisas e estudos econômicos do Bradesco, que já projetava alta do juro em 0,25 ponto, seguida de outro ajuste de 0,25 ponto na próxima reunião do colegiado do BC. Barros não descarta, porém, uma terceira alta de 0,25 ponto, dependendo dos dados correntes.

 

O diretor do Bradesco entende que a perspectiva de redução do ritmo de aperto monetário foi colocada na mesa pelo Relatório de Inflação. Em relatório divulgado há quase uma semana, o economista explica que, do final de março para cá, os indicadores de preços não evoluíram tão favoravelmente, o que aumenta o nível da inflação no curto prazo e a inércia para os próximos trimestres. Contudo, o Bradesco avalia que as surpresas recentes com a inflação não são suficientes para impedir a sua convergência para a meta ao longo de 2012.

 

"Essa avaliação está condicionada a uma combinação que inclui ausência de novos choques de preços de commodities e a contribuição - maior do que a esperada na reunião do Copom em março - da apreciação cambial, em um contexto no qual a atividade econômica já apresenta sinais de desaceleração", afirma Barros que, desde a última reunião do Copom, não vê a autoridade monetária ansiosa em relação à elevação da taxa Selic.

 

A economista Thaís Zara, da Rosenberg & Associados, mantém sua projeção de 0,50 ponto da Selic nesta quarta-feira, e considera que a taxa de desemprego em março (6,5%), mostra um mercado de trabalho bastante aquecido, com a menor taxa de desemprego da série dessazonalizada (5,9%) e rendimento médio real em expansão, mesmo considerando o elevado patamar da inflação. A economista-chefe da Rosenberg pondera que a participação dos empregados com carteira assinada no total dos ocupados continua bastante elevada, evidenciando a melhora da qualidade do emprego e também ajuda a explicar a extensão da base de tomadores de crédito -- um dos fatores de sustentação da demanda e, portanto, do consumo.

 

Nilson Teixeira, economista-chefe do Credit Suisse, também projeta alta de 0,25 ponto da Selic na reunião de hoje. "Apesar da deterioração da dinâmica inflacionária recente, à luz do teor dos últimos documentos do Copom e dos comentários de membros do Copom, esperamos aumento da Selic de 0,25 ponto percentual, com a Selic aumentando de 11,75% para 12%", afirma Teixeira em relatório, onde não descarta a adoção de medidas macroprudenciais adicionais nas próximas semanas, na eventualidade de a desaceleração da oferta de crédito ser considerada insuficiente pelo colegiado do BC.

 

Ontem, o Banco Modal mudou sua previsão sobre o veredicto do Copom de alta de 0,50 ponto para 0,25 ponto percentual na Selic. "Continuamos a acreditar que nessa reunião a autoridade monetária poderá sinalizar o fim do ciclo de alta de juros. Temos a percepção de que o BC torce por uma janela de oportunidade que se abrirá após esse próximo Copom, com dados mais fracos de atividade, em conjunto com uma desaceleração na inflação mês a mês, dados de crédito também enfraquecidos e contas fiscais mostrando desaceleração dos gastos", disse a instituição em relatório assinado pelo Departamento Econômico chefiado pelo economista Felipe Tâmega.

 

O Modal pondera que os dados correntes já demonstram que os números de atividade referentes a março, que serão divulgados a partir de abril, irão, no geral, nessa direção [do enfraquecimento]. A produção industrial de março poderá surpreender de forma negativa, após a alta de 0,9% em fevereiro, que surpreendeu para cima. E as vendas no varejo também podem desacelerar. Quanto ao crédito, os dados já demonstram os efeitos das medidas macroprudenciais e a tendência é de que essa desaceleração das novas concessões de crédito ajude a desacelerar, também, as vendas no varejo.

 

"Mesmo que esses indícios de desaceleração se materializem, acreditamos que o BC não deveria sinalizar a parada de juros nessa reunião, por acharmos que ainda é muito cedo para indicar se os dados de março/abril serão fruto de um efeito estatístico ou se representarão uma tendência de desaceleração da economia que ajudaria no combate inflacionário", ponderou a instituição, lembrando que os riscos são grandes em caso de insucesso e melhor seria gerar um ciclo de aumento de juros mais longo. No entanto, o BC procurará calibrar o aperto no futuro com mais medidas macroprudenciais.

 

Bráulio Borges, economista-chefe da LCA Consultores, espera alta da Selic em 0,50 ponto, com o Copom "mantendo portas abertas para eventualmente prolongar o aperto monetário". O economista também espera que o BC divulgue um comunicado lacônico, semelhante ao da reunião passada, em que afirmou estar dando "seguimento ao processo de ajuste das condições monetárias".

 

O economista-chefe da Ativa Corretora, Henrique Santos, aponta que o Copom deverá apertar a Selic em 0,50 ponto. Na avaliação do economista, os comunicados mais recentes do BC têm apresentado um tom bastante confiante no início da trajetória de convergência do IPCA acumulado em 12 meses em direção ao centro da meta a partir do quarto trimestre de 2011. No entanto, Santos acredita que aumentou a probabilidade de estouro do teto da meta de inflação de 6,5% em 2011. Para o economista, mesmo que a taxa de câmbio auxilie no front inflacionário, além das macroprudenciais no sentido de desacelerar o crédito, é arriscado apostar em uma redução do ritmo de alta da Selic em um momento em que permanecem significativamente elevados os riscos para o cenário inflacionário", conclui Santos.



Veículo: Valor Econômico


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