Dois focos de pressão sobre os custos das companhias preocupam os principais dirigentes de empresas do país, conforme manifestaram ontem durante a cerimônia de entrega do prêmio Executivo de Valor. Para eles, as maiores dificuldades enfrentadas hoje por seus grupos são os aumentos das matérias-primas e a falta de mão de obra qualificada.
A preocupação com os preços levou a maioria dos executivos presentes ao evento responder que prefere que o Banco Central atue de forma mais conservadora no combate à inflação. Desde o início do governo Dilma Rousseff, a política monetária tem sido alvo de críticas de boa parte do mercado financeiro. Ontem, representantes dos setores industrial e de serviços concordaram que seria adequada uma intervenção mais firme para conter os preços, uma opinião que pode ser resumida na afirmação de André Gerdau Johannpeter, presidente da Gerdau: "Juro é um remédio duro, mas a longo prazo, a inflação é pior".
O presidente da Whirlpool, José Drummond Jr., disse que o aumento das matérias-primas já vem sendo equacionado por meio de negociações com os fornecedores e repasse de preços ao consumidor, realizado neste mês. Para o presidente da CPFL, Wilson Ferreira Jr., a inflação ainda não preocupa a ponto de prejudicar a indústria de energia. Segundo ele, o problema mais grave é a falta de mão de obra qualificada.
O aumento das pressões inflacionárias, principalmente por conta da elevação das commodities, ainda não teve impacto nas operações da Lojas Renner. Segundo seu presidente, José Galló, a alta do algodão, de cerca de 160% desde o início do ano passado, trouxe um aumento de custos entre 10% e 12%. "Mas temos conseguido repassar esses reajustes para os preços", afirmou.
Já o presidente da Azul, Pedro Janot, avalia que a escalada do petróleo e a inflação das commodities têm impacto importante no setor aéreo. Para ele, a alternativa é investir em produtividade, tecnologia e revisão de processos. "Temos de continuar a ganhar dinheiro", disse o executivo. Na Ambev, as pressões inflacionárias das commodities estão tendo impacto significativo, porque os custos estão sendo afetados por insumos como malte, açúcar, alumínio e importação de latas, disse seu presidente, João Castro Neves.
Inflação volta à agenda das empresas
Empresários negociam com fornecedores, enquanto primeiros sinais de desaceleração aparecem
Executivos presentes à solenidade de premiação da 11ª edição do prêmio Executivo de Valor: falta de mão de obra qualificada preocupa vários setoresA inflação voltou à agenda dos executivos, que intensificaram as negociações com os fornecedores de insumos, matérias-primas e serviços em uma tentativa de minimizar o repasse do aumento de custos para o preço final, segundo relato, ao Valor, dos dirigentes de grandes empresas brasileiras presentes à cerimônia de entrega do prêmio Executivo de Valor, ontem em São Paulo. Os repasses, contudo, estão sendo feitos.
As pressões de custos aumentaram, segundo os empresários, justamente no momento em que alguns setores começam a sentir os primeiros sinais de desaceleração do nível de atividade. Eles ainda são tímidos, mas já apareceram tanto no setor financeiro, como para os fabricantes de bens de consumo duráveis, embora ainda estejam fora do cenário da indústria de alimentos ou de bens semiduráveis. Enquanto voltam a lidar com a inflação, a falta de mão de obra qualificada é outro item de preocupação, até porque a necessidade de manter os atuais funcionários tem exigido a concessão de maiores aumentos salariais.
Para conter a pressão inflacionária e não aumentar os preços dos ingressos, a rede Cinemark intensificou as negociações com seus fornecedores, diz seu presidente, Marcelo Bertini. "Por enquanto estamos sendo bem-sucedidos nessa estratégia. Mas não sei mais quanto tempo conseguimos segurar." As negociações salariais em alguns Estados, diz, causaram aumentos mais altos que os previstos inicialmente, o que resultou no aumento dos ingressos. "O problema é que eles estão superando o aumento da produtividade", diz.
Problema para alguns setores, a queda do dólar tem sido um alento para a Positivo Informática. Como a maioria dos componentes usados pela companhia para montar seus computadores é cotado em dólar, o real valorizado acaba compensando a pressão inflacionária que surge com o aumento nos preços das commodities, explica Hélio Rotenberg, presidente da empresa. Com relação ao custo da mão-de-obra, ele diz que a empresa vem tomando medidas para aumentar a produtividade de seus funcionários e também tem se movimentado para garantir que não faltem profissionais preparados.
Na Ambev, as pressões inflacionárias das commodities estão tendo um impacto significativo nos negócios porque os custos estão sendo afetados por insumos como malte, açúcar, alumínio e importação de latas, diz o presidente João Castro Neves. "Isso já nos levou a reajustar nossos preços, percentual que repassamos sempre em linha com a inflação. Mesmo assim, temos conseguido bons resultados por nos mantermos focados em produtividade e inovação, além de um controle rigoroso de gastos", afirma Castro Neves.
O segmento de bebidas já sentiu a retração na demanda. "Desde o fim do ano passado o nosso setor vem apresentando sinais de desaquecimento causados por uma desaceleração no aumento de renda disponível, aumento de preços, além da influência do clima", diz.
André Esteves, presidente do banco BTG Pactual, também já sentiu alguma desaceleração no ritmo das atividades no primeiro trimestre deste ano. "Já deu para perceber que o PIB [Produto Interno Bruto] deste ano não repetirá os 7,5% de 2010. Ficará dentro dos 4%", diz.
Nas operações da varejista Lojas Renner, o impacto veio principalmente do preço do algodão. Segundo o presidente da companhia, José Galló, a alta chega a 160% desde o início do ano passado e trouxe um aumento de custos para a rede de 10% a 12%. "Mas temos conseguido repassar esses reajustes para os preços dos produtos", afirma Galló. Para reduzir custos, a empresa também usou mais materiais sintéticos. Na Hering, o aumento do preço do algodão e da pressão inflacionária levou a empresa a reajustar os preços em média 10% no primeiro trimestre. Fábio Hering, presidente da empresa, acredita que a estratégia do governo de usar a importação como plataforma de controle da inflação pode desestimular o avanço da indústria nacional.
A Renner, informa Galló, ainda não registrou queda de demanda, mesmo com o aumento da taxa básica de juros, ao contrário do que a Whirlpool já percebe. José Drummond Júnior, presidente da empresa, explica que ela já vive um momento de desaceleração. "Continuamos em um ritmo positivo: estamos crescendo menos, mas sobre uma base alta."
Na empresa, a solução encontrada para o aumento dos preços de matérias-primas foi a negociação com os fornecedores e o repasse de preços ao consumidor, realizado este mês. "Essas medidas recompuseram os preços, fazendo frente aos impactos que já aconteceram", informou Drummond. Ele ressaltou ainda que a alta dos salários já vem sendo sentida pela Whirlpool nos últimos três anos.
A inflação ainda não afetou os negócios das operadoras de serviços CPFL e Nextel. O presidente da CPFL, Wilson Ferreira Jr., diz que o custo que mais preocupa o setor hoje é o da mão de obra mais qualificada. Ele afirma, no entanto, que a empresa está conseguindo treinar os profissionais que necessita. "Não colocamos um eletricista na rua sem dar dois a três meses de capacitação." Sérgio Chaia, presidente da Nextel, concorda. Para ele, o maior desafio hoje é trazer mais pessoas qualificadas para a empresa. A Nextel contratou no ano passado cerca de mil funcionários e planeja contratar o mesmo este ano. "Enfrentamos o apagão da mão de obra, e nossa preocupação é remunerar bem nossos funcionário. Não é o custo que nos preocupa e sim a oferta de profissionais", diz ele.
A alternativa apresentada pelo presidente da Azul, Pedro Janot, para conter os efeitos da escalada do petróleo e da inflação das commodities no setor aéreo é investir em produtividade, tecnologia e revisão de processos. "Temos de continuar a ganhar dinheiro", diz.
Desaceleração não é a palavra do cotidiano das empresas ligadas ao agronegócio. No setor sucroalcooleiro, que ainda vive um desequilíbrio entre a oferta e a demanda de seus dois principais derivados - etanol e açúcar - os preços têm subido devido ao fato de a demanda crescer em um ritmo mais acelerado que a oferta, diz José Carlos Grubisich, presidente da ETH. Já a gigante JBS encara a valorização de sua matéria-prima (boi gordo) como um fator que reflete diretamente no maior faturamento da empresa. "Nosso custo fixo diminui uma vez que o preço médio do produto que vendemos aumenta. No mercado de commodities não é possível não repassar os preços", diz Joesley Batista, presidente do conselho da JBS.
Para driblar as pressões inflacionárias e reduzir os custos na compra de matérias-primas a Natura adotou um programa de atualização da plataforma de fornecedores, em que está renegociando os contratos e ampliando a base de oferta. "Estamos buscando novos fornecedores, que serão selecionados a partir de indicadores socioambientais", diz Alessandro Carlucci, presidente da empresa.
Como toda a indústria, as pressões inflacionárias provenientes das matérias-primas e do aumento dos salários têm influenciado os negócios da Suzano e da WEG. Para a Suzano, os custos que mais pesam são os do petróleo (atrapalham a logística) e dos insumos químicos, como a soda cáustica.
Harry Schmelzer Jr., presidente da WEG, por sua vez, tenta diversificar seus investimentos, para se ajustar ao aumento nos custos das matérias-primas e da contratação de pessoal. "Estamos investindo no Brasil, mas também estamos colocando mais velocidade para aumentar nossos investimentos produtivos no México, Índia e China. Nós precisamos ter um hedge natural das nossas operações internacionais", explica.
Veículo: Valor Econômico