Investimento cresce mais e dá qualidade ao PIB do 1º tri

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Para seis entre nove analistas, consumo cresceu menos

 

O investimento voltou a puxar a atividade econômica no primeiro trimestre, revertendo a composição menos saudável registrada no trimestre anterior, quando o consumo das famílias tinha avançado a um ritmo bem superior ao da formação bruta de capital fixo (FBCF). De nove analistas consultados pelo Valor, seis apostam numa expansão mais forte do investimento, amparado no crescimento expressivo do consumo doméstico de máquinas e equipamentos e em uma alta um pouco mais moderada da construção civil.

 

As projeções mais positivas apontam para um crescimento de 3,5% a 4% no primeiro trimestre para o investimento em relação ao trimestre anterior, feito o ajuste sazonal, ritmo bem mais forte que o 0,7% do quarto trimestre de 2010 em relação ao terceiro, na mesma série. Há, porém, estimativas mais cautelosas, indicando um aumento da formação bruta inferior a 1%. Redução do crédito para empresas e retração no investimento público são os argumentos dos economistas que não esperam alta expressiva no primeiro trimestre.

 

Para o consumo das famílias, as projeções oscilam entre 0,4% e 2%. Nas contas do resultado do conjunto do PIB no primeiro trimestre, contudo, há menos divergência, e a expectativa generalizada é de uma aceleração em relação ao 0,7% do quarto trimestre sobre o terceiro (com ajuste), com as previsões variando entre 1% e 1,5%. Os números oficiais serão divulgados pelo IBGE em 3 de junho.

 

O economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, é um dos que estimam uma alta muito expressiva do investimento no primeiro trimestre, apostando em expansão de 3,5% em relação ao trimestre anterior, feito o ajuste sazonal. O número forte se deve principalmente ao crescimento de 7,2% do consumo aparente de máquinas e equipamentos (a soma da produção e importação, excluindo a exportação desses produtos), diz ele, que projeta alta de 2,1% para a construção. A oportunidade de comprar uma máquina mais barata no exterior, dada pela valorização do real, também é ressaltada na análise do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas, que espera um investimento 2,7% mais forte no primeiro trimestre em relação ao fim de 2010, na série com ajuste.

 

"Com o real apreciado e algum receio de que poderia haver mudanças na taxa de câmbio, as empresas aproveitaram para aumentar a importação de máquinas e equipamentos e insumos nesse período", diz Vale, da MB, para quem Petrobras e Vale têm uma "boa responsabilidade por essa expansão". Além da importação, também cresceu com força no primeiro trimestre a produção local de bens de capital, que subiu 5,1% sobre o trimestre anterior, na série livre de influências sazonais.

 

Embora espere uma alta forte do investimento, o coordenador do Boletim Macro do Ibre, Regis Bonelli, destaca o caráter volátil da formação bruta de capital fixo, que oscila bastante. "É uma das variáveis mais difíceis de se prever o comportamento", diz ele. Nas contas do Ibre, no primeiro trimestre, o consumo das famílias vai crescer 1,4% (quase 50% abaixo do investimento), uma perda de fôlego influenciada pela base de comparação mais forte do quarto trimestre e pela redução do ritmo de vendas de veículos, diz Bonelli. Um investimento que avança mais que o consumo confere mais qualidade ao crescimento, uma vez que aponta para o aumento da capacidade de produção da economia. A questão, diz Bonelli, é que, antes de ampliar a oferta, o investimento alimenta a demanda, que já se encontra aquecida, num cenário de inflação pressionada.

 

A perda de fôlego na venda de veículos e a forte base de comparação também são os argumentos de Vale para projetar uma alta de apenas 0,4% em relação ao quarto trimestre (série com ajuste). "Mas isso não significa que o consumo esteja mal, a expansão do fim de 2010 é que foi atípica", diz ele, que não vê um efeito tão expressivo das medidas de restrição ao crédito.

 

O Bradesco também espera expansão de 3,5% para o investimento no primeiro trimestre, atribuindo a força da formação bruta de capital fixo a uma possível antecipação de projetos. Em relatório, a economista Ana Paula de Almeida Alves aponta a "moderação anunciada na concessão de alguns incentivos parafiscais" - leia-se, a perspectiva de aumento dos juros do Programa de Sustentação do Investimento (PSI) do BNDES.

 

O economista-chefe do HSBC, André Loes, calcula que o avanço dos investimentos no primeiro trimestre, na comparação com igual período de 2010, foi de vigorosos 15,7%. O resultado é ainda mais expressivo, avalia Loes, "se levarmos em conta que o primeiro trimestre do ano passado foi muito forte em investimentos, devido à redução de impostos para a indústria e o clima de entusiasmo no país". Na mesma comparação, o HSBC estima em 5,8% o avanço do consumo das famílias. É de Loes uma das estimativas mais otimistas sobre o avanço do PIB no primeiro trimestre deste ano, de 1,5% em relação ao quarto, com o ajuste sazonal.

 

"A economia está desacelerando", diz Loes, "mas a um ritmo muito lento. O país está muito aquecido ainda". No ano, o HSBC projeta a alta do PIB em 4,7%, com consumo das famílias crescendo um ponto percentual além do PIB, e os investimentos 11%. "O melhor seria caminharmos para um cenário em que o consumo das famílias cresce menos que o PIB", afirma.

 

No grupo dos pessimistas com o investimento, Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria, projeta alta de 0,8% no primeiro trimestre, abaixo do 1% esperado para o consumo das famílias. Nas contas da consultoria, a construção civil cresceu 1,4%, o consumo de bens de capital, 4,5%, mas o estoque de crédito para empresas, que ela inclui no modelo, recuou 0,3%, sempre na série com ajuste sazonal.

 

Além dos citados nesta página, o Valor consultou o Santander - que estima em 0,4% a alta dos investimentos e em 1,2% a do consumo das famílias - e a LCA Consultores.

 


Veículo: Valor Econômico


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