Brasil conclui hoje com vizinho negociação antibarreiras
O governo argentino quer avançar na solução de "questões estruturais" no comércio com o Brasil, segundo fontes do Ministério da Indústria. Isso significa a tentativa de arrancar dos brasileiros compromissos como a reabertura do mercado de cítricos, mais agilidade no registro de medicamentos, extensão dos financiamentos do BNDES à compra de caminhões e máquinas agrícolas fabricados na Argentina e condições favoráveis para a participação de empreiteiras do país nas obras relacionadas à Copa do Mundo de 2014 e aos Jogos Olímpicos de 2016.
Essas foram algumas das queixas apresentadas à equipe do ministro Fernando Pimentel, que está desde ontem em Buenos Aires. "Os termos da negociação foram colocados na carta da ministra Débora Giorgi a Pimentel", disse um funcionário do governo argentino.
Menos de uma hora depois de iniciada a primeira reunião com a delegação brasileira para discutir as barreiras protecionistas de lado a lado, o governo divulgou que o superávit comercial do país vizinho caiu 24% nos quatro primeiros meses deste ano. A deterioração da balança de comércio da Argentina, que teve saldo positivo de US$ 3,088 bilhões entre janeiro e abril, é um dos principais argumentos da Casa Rosada para impor restrições à entrada a produtos importados, inclusive do Brasil.
Analistas argentinos advertem sobre a possibilidade de um superávit comercial abaixo de US$ 10 bilhões, o que não ocorre desde 2001, e um saldo na conta corrente perto de zero. "Comparando com o Brasil, pode não parecer nada. Mas é preciso lembrar que a Argentina tem imensa dificuldade de financiamento externo", diz o economista Ricardo Delgado, diretor da consultoria Analytica. Segundo a pesquisa semanal do Banco Central com analistas do mercado, o déficit em conta corrente no Brasil atingirá US$ 60 bilhões.
Com esse pano de fundo, o secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Alessandro Teixeira, e o secretário de Indústria da Argentina, Eduardo Bianchi, continuam a negociar hoje um acordo para aliviar as barreiras. O Brasil impôs o sistema de licenciamento não automático para as importações de automóveis, enquanto a Argentina tem extrapolado o prazo legal de 60 dias para a liberação das licenças de produtos como calçados e máquinas agrícolas.
Os argentinos, no entanto, insistem em ir além dos temas que chamam de "pontuais". Eles acreditam que esse é o motivo do forte déficit com o Brasil, que foi de US$ 4,1 bilhões em 2010 e pode chegar a US$ 7 bilhões em 2011, na projeção de analistas.
Um relatório divulgado na semana passada pela Fundação Mediterrânea, um centro de estudos mantido pelo setor privado, mostra que a Argentina perdeu 4,5 pontos percentuais no total de produtos importados pelo Brasil nos últimos dez anos - a participação caiu de 12,6% para 8,1%. Mas a própria fundação, ao analisar o comportamento das exportações argentinas, conclui que "é difícil explicar esse fenômeno por questões cambiais ou de restrições ao comércio". "Seria mais o resultado de investimentos abaixo do potencial, do lado argentino, para aproveitar melhor o mercado comum", afirma o relatório.
Veículo: Valor Econômico