Presidente do BC recomenda a empresas que se protejam de viradas no câmbio
Apenas poucas horas após o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ter retomado as ameaças de adotar novas medidas para conter a valorização do real, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, fez um alerta às empresas brasileiras para que elas não se exponham demais ao dólar.
Tombini lembrou que o regime cambial no Brasil é flutuante e que, por isso, não se pode supor que a moeda norte-americana cairá indefinidamente.
"É importante que o setor privado esteja atento à questão do hedge (proteção) de suas operações", disse Tombini, que participou de audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado.
Ele lembrou que a direção do câmbio pode abruptamente se inverter e causar prejuízos severos às empresas. Foi exatamente isso que ocorreu na crise de 2008/9, quando companhias como a Sadia e a Aracruz Celulose passaram por grandes apertos, com prejuízos bilionários causados por apostas altamente especulativas na valorização do real.
O presidente do BC destacou que o governo vem tomando medidas para conter os excessos de fluxos de moeda estrangeira para o Brasil.
Segundo ele, essas ações tiveram por objetivo evitar que um exagerado ingresso de moeda no País de uma hora para outra se reverta, causando instabilidade econômica e financeira. Além disso, tal situação estimulava o crescimento intenso do crédito interno, que o governo tenta moderar para combater a inflação.
A partir das medidas tomadas, Tombini destacou que neste ano há uma melhor composição dos fluxos, com maior presença de investimento estrangeiro direto (IED), que são voltados em tese para o setor produtivo - cerca de 60% do total - do que de demais fluxos (como investimentos em títulos e ações).
Apesar da advertência para que as empresas não apostem na valorização eterna do real, Tombini afirmou que a autoridade monetária não tem identificado grandes exposições de empresas privadas não financeiras em "derivativos exóticos", como ocorreu no fim de 2008.
Na meta. Na audiência pública, o presidente do BC tentou mostrar otimismo com a trajetória da inflação. Segundo ele, o conjunto de ações adotadas (alta de juros e apertos fiscal e creditício) já começou a surtir efeito.
"Temos algumas indicações de que a demanda vem se moderando, que a economia vem crescendo em níveis mais compatíveis com a capacidade de oferta. Isto vai ajudar no processo de convergência da inflação para a meta de 4,5%", afirmou. "Os resultados já estão aparecendo." Tombini destacou que a política monetária (que já fez a taxa Selic subir 1,5 ponto porcentual desde o início do ano) atingirá sua potência máxima neste terceiro trimestre e deve seguir assim nos três meses finais deste ano. Sobre o fato de as projeções do próprio BC, divulgadas no relatório de inflação na semana passada, estarem apontando a inflação acima de 4,5% em 2012, Tombini preferiu enfatizar que as projeções indicam que o processo de convergência já está em curso.
"Obviamente, no plano internacional temos um cenário de grande incerteza. Tem havido revisões do crescimento da economia global para baixo. Isso pode no futuro próximo ser traduzido por preços de commodities que ajude no processo de controle da inflação no País", disse.
Veículo: O Estado de S.Paulo