Produtividade na indústria cresce menos de 1%, influenciada por estoques

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Influenciada pelo aumento dos estoques, a produtividade do trabalho na indústria não só parou de crescer como está recuando. No acumulado de 12 meses encerrados em maio, a indústria produziu 4,5% mais que nos 12 meses anteriores, e usou para essa produção um número de horas pagas 3,6% maior, resultando em um ganho de produtividade de apenas 0,8%. Além de baixa, essa eficiência não compensou o aumento da folha salarial média por trabalhador, que foi de 4% na mesma comparação.

 

Nos cinco primeiros meses deste ano, o movimento de perda de produtividade fica ainda mais intenso: a indústria produziu 1,8% mais com um volume de horas pagas 1,9% maior, representando um ganho zero de produtividade na comparação com o mesmo período de 2010. Todos os dados foram obtidos pelo cruzamento das pesquisas industriais e de emprego do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

 

A análise da produtividade industrial em 12 meses desde o fim de 2010 mostra uma forte desaceleração nos ganhos obtidos no ano passado, que encerrou com alta de 6,1% em relação ao desempenho de 2009. O coordenador de Sondagens Conjunturais da Fundação Getulio Vargas (FGV), Aloisio Campelo, explica que o crescimento de 6% na produtividade em 12 meses até dezembro de 2010 não é comum e se deu em cima de uma base muito baixa, já que a indústria começou a se recuperar da crise no segundo semestre de 2009, mas nem por isso começou a contratar mais funcionários na época. "A produção cresceu muito e o emprego não cresceu proporcionalmente porque não tinha caído", diz. Em 2010, a produção industrial subiu 10,5% e as horas pagas, 4,1%.

 

No primeiro momento da saída da crise, diz Campelo, houve um acréscimo muito grande da produção, mas a indústria demorou a reagir nas contratações. Agora, fazendo ajustes em relação a esse período, a indústria voltou a contratar mais, ainda que em ritmo menor do que o observado em meses anteriores. "Houve uma recuperação forte do emprego a partir do segundo semestre do ano passado, e a produção física cresceu mais lentamente, o que trouxe a produtividade para esse crescimento baixo dos últimos meses", afirma.

 

O forte crescimento da produção em 2010 também pode explicar, em parte, o resultado fraco da produtividade no início de 2011. Thovan Tucakov, da LCA Consultores, avalia que a indústria pode ter aumentado sua produção até dezembro de 2010 preocupada com um aumento no preço dos insumos, principalmente nas commodities metálicas, que subiram muito no fim do ano passado e no início de 2011. Essa aceleração no fim de 2010 acabou contribuindo para o aumento de estoques e agora ajudaria a explicar parte da baixa produtividade.

 

Tucakov observa que também existe defasagem entre desaceleração da atividade industrial e demissões. Para ele, o crescimento da atividade no primeiro trimestre também resultou em acúmulo de estoques, e explicaria porque o setor começou a andar de lado desde abril, como mostram os dados de nível de utilização da capacidade instalada da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Confederação Nacional da Indústria (CNI) e Fundação Getulio Vargas (FGV), além do próprio resultado da produção industrial do IBGE.

 

"O que vemos na indústria são resultados fracos, e com perspectivas de continuidade desse movimento nos próximos meses", acrescenta Tucakov. Se confirmado, em algum momento essa desaceleração vai resultar em congelamento ou até em queda do nível de emprego. "A indústria ainda não está cortando postos, mas está gerando menos emprego, como podemos ver no Caged [Cadastro Geral de Empregados e Desempregados]. Mas a produção está fraca, e a perspectiva é de que continue com um desempenho mais modesto enquanto aumenta a ociosidade no setor fabril", diz o economista da LCA.

 

Segundo Campelo, da FGV, há uma rigidez no emprego, que também pode explicar a baixa produtividade verificada atualmente. "Da mesma maneira que uma empresa prefere que seus funcionários trabalhem num segundo turno antes de contratar, ela também pode primeiro dar férias coletivas antes de fazer demissões". No setor têxtil de Santa Catarina já há empresas em férias coletivas.

 

O economista também lembra que a produtividade pode estar caindo porque setores com mão de obra intensiva, como têxtil, vestuário e calçados, estão tendo mau desempenho devido ao câmbio valorizado e começaram a demitir, ao contrário de setores que vão bem, como a indústria de refino de petróleo e álcool e o setor extrativo. "Nesses segmentos o salário é alto e a mão de obra qualificada. Tem menos emprego para mais PIB".

 

No setor têxtil, a produtividade nos últimos 12 meses caiu 9,8%, enquanto os salários aumentaram 2,5%. Já no setor de refino de petróleo, a eficiência na produção aumentou 8,4%, mas ainda assim ficou abaixo do ganho salarial de 12,2%.

 

A tendência, para Campelo, é de que nos próximos meses a indústria cresça pouco, para fechar o ano com cerca de 2,5% da produção física. "Talvez a indústria cresça 3% por conta de carregamento estatístico", projeta. O emprego industrial, por sua vez, ainda terá expansão no ano, mas menor do que a produção, sustenta o coordenador.

 

Tucakov, da LCA, espera que a produção industrial caia 0,7% em junho, na comparação com maio, com ajuste sazonal após a recuperação esboçada em maio, e que cresça 3% no fim do ano, o que considera uma taxa "bem modesta".

 

Veículo: Valor Econômico


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