Lojas do hipercentro vendem menos

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Consumidor endividado com a compra de bens duráveis deixou de adquirir os produtos de menor preço.

 

Endividado por utilizar o crédito facilitado para a compra de bens duráveis, o consumidor das classes D e E deixou de adquirir também artigos mais baratos. Essa é a análise de varejistas do centro de Belo Horizonte, que registraram queda nos negócios durante o primeiro semestre deste ano na comparação com o mesmo período do exercício passado.

 

Na Magazine Diniz, que possui seis lojas de utilidades de plástico para cozinha e banheiro, foi registrada queda de 25% nas vendas. O fraco resultado obrigou a empresa a repassar aos preços o aumento de 20% praticado pelos fornecedores. Além disso, ela demitiu 35 dos 129 empregados, para equilibrar as contas.

 

Segundo o proprietário da rede, César Diniz, o uso maciço do crediário para aquisição de eletrodomésticos e automóveis, incentivado nos últimos anos por medidas governamentais, explica a situação pela qual passa o setor. "A facilidade para comprar causou endividamento e agora vemos esses consumidores sem condições de pagar, tendo até mesmo que devolver os produtos", comenta.

 

Outra loja da região que fechou os primeiros seis meses de 2011 com queda nos negócios foi a Favorita Calçados. Segundo a gerente, Joelha Pereira, alguns feriados atrapalharam as vendas, por desviar o dinheiro dos consumidores para outros produtos e serviços.

 

Apesar de desvincular a política de crédito do governo federal do resultado negativo, a funcionária não acredita que as novas medidas macroprudenciais possam reverter a situação. "Elas vão afetar a venda de carros. Mas, no nosso caso, torcemos para que as baixas temperaturas contribuam para os negócios, já que no período frio que tivemos recentemente o tíquete médio chegou a R$ 200", diz ela, sem revelar o percentual de redução nas vendas durante o primeiro semestre.

 

Na avaliação do presidente da Associação dos Comerciantes do Hipercentro de Belo Horizonte, Pedro Bacha, a estratégia adotada pelo governo para superar a crise financeira internacional, reduzindo impostos e facilitando a compra de automóveis, eletrodomésticos e imóveis, não foi adequada. De acordo com ele, os reflexos negativos aparecem agora com clareza. "Quando estão endividadas, as pessoas deixam de comprar uma camisa, ou comer uma pizza", exemplifica.

 

Bacha, que também é proprietário da loja de roupas Marina, lembra que na sua empresa o Natal de 2010 foi pior, em termos de vendas, do que o de 2009. E que nos três primeiros meses de 2011 os negócios foram muito fracos. Nem mesmo a retomada verificada em abril e maio animou o empresário, já que ela foi anulada pelos resultados de junho. "Como o frio acabou, esperamos queda de 60% nas vendas", afirma o presidente da associação, que teme prejuízo ainda maior. "Tenho como estratégia ganhar com o giro de mercadorias, praticando preços baixos", explica.

 

Nem mesmo as últimas medidas de restrição ao crédito e o aumento dos juros contribuíram para aquecer os negócios dos varejistas do hipercentro, que ainda fazem previsões pessimistas. A Magazine Diniz, por exemplo, planeja novas demissões para o segundo semestre.

 

Para César Diniz, as mudanças na política econômica atendem às necessidades do governo, mas não chegam perto dos anseios dos empresários e da população. "As pessoas precisam mais de gêneros de primeira necessidade. O que resolveria o problema seria a redução dos impostos, mas não acreditamos que ela virá", diz.

 

Segundo Bacha, no cenário atual, as grandes empresas conseguem melhores vantagens e negócios e remetem os recursos para o exterior. "Se o dinheiro não circula nos mercados locais, nossos clientes consomem menos. Não tenho esperança de dias melhores", afirma.

 


Veículo: Diário do Comércio - MG


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