IPCA de junho desacelera para 0,15%, mas resultado de 12 meses se distancia do teto da meta e leva mercado a aumentar projeção de juros
O recuo acentuado nos preços dos combustíveis e dos alimentos resultou em forte desaceleração da inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Mas os aumentos no setor de serviços ainda pressionam muito os preços e o fato de o índice ter vindo acima das estimativas acende um alerta para risco inflacionário.
O IPCA passou de alta de 0,47% em maio para 0,15% em junho. O resultado, no topo das projeções de mercado, bancou apostas em novos aumentos na taxa básica de juros (Selic). A reação no mercado futuro foi forte e já há consultorias prevendo mais três altas da Selic.
De acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa acumulada em 12 meses está em 6,71%. Isso já configura o estouro da meta inflacionária fixada pelo governo, de 4,5%, com dois pontos porcentuais para cima ou para baixo.
O economista-chefe da Prosper Corretora, Eduardo Velho, revisou de 40% para 50% a probabilidade de um aumento na taxa de juros na reunião de outubro do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. A Prosper mantém projeção de mais dois ajustes de 0,25 ponto porcentual nas reuniões de julho e agosto. "O fato concreto é que o IPCA na margem (comparação do mês com o mês anterior) continuaria registrando altas ainda superiores à meta central de 4,5%", avaliou Velho.
O Banco WestLB do Brasil previa 0,08% para junho e aposta num cenário de apenas mais uma alta de 0,25 ponto porcentual na taxa básica de juros este mês. "Poderia tranquilamente ter mais uma alta em agosto, mas esse não é o meu cenário", ressaltou Roberto Padovani, estrategista-chefe do banco. "Ainda que a inflação esteja rodando em nível baixo, alimenta o debate e mantém as incertezas sobre a dinâmica inflacionária", destacou.
Os economistas Silvio Campos Neto e Thiago Curado, da Tendências Consultoria Integrada, veem caráter pontual na desaceleração de junho e alertam para a possibilidade de taxas mais altas ao longo dos próximos meses. "Ainda persiste um cenário de preocupante inflação de demanda", afirmaram os analistas.
Enquanto o IPCA reduziu sua alta em junho, a inflação de serviços registrou ligeira aceleração, de 0,59% para 0,60%. Entre os destaques estão os aumentos de preços de hotéis, estacionamento, clube, manicure, cabeleireiro, aluguel, condomínio, colégios e conserto de automóvel.
A principal razão para a pressão é a renda forte no País, segundo Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índices de Preços do IBGE. Vários serviços importantes no orçamento das famílias apresentam altas aceleradas, em particular os de empregado doméstico. "Não só diante da vinculação com o salário mínimo, que aumenta acima da média de inflação do País, como também pela própria demanda", explicou Eulina.
Veículo: O Estado de S.Paulo