Companhias exportadoras mudam perfil em relação à crise de 2008
Risco assumido agora decorre mais do aumento de negócios do que em aposta na valorização do real
Protagonistas da crise de 2008 no Brasil, as empresas exportadoras voltaram a aumentar a sua exposição ao risco cambial neste ano.
Desta vez, porém, as companhias estão mais preparadas para eventuais solavancos do dólar, que assustou ao subir 2% em dois dias após as medidas do governo para conter a queda do dólar.
A Brasil Foods, que tem cerca de 60% da receita com exportações, tinha uma necessidade de proteção de R$ 257,8 milhões -em dezembro, ela apresentava folga positiva de R$ 127 milhões.
Apesar da maior exposição cambial neste ano, a empresa, que absorveu a Sadia após as perdas de R$ 2,6 bilhões em 2008, tem agora uma política de hedge (proteção) mais conservadora.
Prova disso é que, se o dólar fosse para R$ 2,04, ela perderia R$ 48,2 milhões. Em dezembro, quando a exposição era menor, uma variação cambial do mesmo porte ocasionaria prejuízo de R$ 152,2 milhões, segundo suas demonstrações financeiras.
Levantamento da Folha com oito das mais importantes exportadoras do Ibovespa mostra que só duas -Fibria e CSN- correriam mais risco de prejuízo se o dólar fosse para a casa de R$ 2.
Mas, ao contrário de 2008, o risco assumido desta vez decorre mais do aumento de negócios e de reestruturações na dívida do que de uma aposta na baixa do dólar.
Além da BRF, Gerdau, Klabin, Embraer, JBS e Marfrig reduziram o risco de perdas desde 2010. O levantamento não considerou Vale, Petrobras e Usiminas, pelo tamanho e pela complexidade dos dados.
CORRIDA
Apesar de a situação estar sob controle, na semana passada alguns exportadores correram aos bancos para desmontar posições que poderiam causar prejuízos no caso de disparada do dólar.
A corrida também está relacionada às novas regras para o mercado de derivativos -o governo determinou que todas as operações, mesmo sem intermediação (foco das perdas em 2008), passem a ser registradas para ter mais controle sobre risco cambial.
Para Fabio da Paz, especialista em proteção cambial do Insper, a situação só está sob controle por conta do aperto da regulação e da autorregulação. "Não vemos nenhuma empresa com posição muito arriscada no câmbio. Esse aumento da exposição decorre do crescimento dos negócios e de necessidades pontuais de proteção. A memória de 2008 ainda é recente."
REGULAÇÃO
Após os casos Sadia e Aracruz, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) obrigou as empresas a descrever suas operações financeiras, incluindo derivativos, e simular eventuais perdas em caso de mudanças cambiais.
Os bancos criaram uma central com registro de todas as operações de derivativos -em 2008, um banco não sabia o quanto uma empresa estava exposta em outro.
Para Otavio Yazbek, diretor da CVM, "os bancos não têm mais desculpa para uma falta de conhecimento sobre a posição de uma empresa".
Veículo: Folha de S.Paulo