Diferentemente da crise de 2008, quando o alvo foi o consumidor, objetivo agora é estimular a produção para evitar demissões
Se em 2008 o governo respondeu à crise financeira internacional estimulando o consumo das famílias, com cortes de impostos, agora pretende direcionar linhas de crédito dos bancos públicos para fortalecer a produção industrial. Em vez de pressionar a inflação, o Planalto espera, assim, dar condições para uma capacidade maior de crescimento da economia no longo prazo.
O Banco do Brasil vem conversando com indústrias e estudando cadeias produtivas específicas para identificar gargalos na produção, além de aperfeiçoar os desembolsos das linhas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), segundo Walter Malieni, diretor de crédito do Banco do Brasil.
"Lá atrás, era muito crédito ao consumidor, agora é crédito à produção", diz Malieni. Como a turbulência do mercado financeiro ainda não afetou as operações de exportadoras e grandes empresas nacionais, o trabalho de Malieni nos últimos dias têm sido monitorar dados: o fluxo de exportações, para verificar se há dificuldade de financiamento de embarques, os preços de commodities, para a eventualidade de menores valores afetarem a receita das exportadoras, e os estoques das empresas.
Descompasso. O receio do Banco do Brasil neste último caso é um descompasso muito grande entre o valor das mercadorias quando a empresa construiu o estoque e a possibilidade de os preços caírem à frente, por causa da desaceleração da economia. O Banco do Brasil já opera linhas do BNDES que atenderiam a todas essas demandas, por isso não há ideia de criar novos produtos, apenas acelerar a liberação de dinheiro, caso seja necessário.
O objetivo principal é evitar demissões. Dada a incerteza e volatilidade nos mercados financeiros e as medidas diárias anunciadas por governos de países desenvolvidos, ainda não há certeza do impacto nas companhias do País. "A impressão é que o Brasil está mais preparado, tem uma memória muito grande porque foi recente, a gente está atento para poder avaliar, mas é muito cedo para saber se vai ter impacto", disse Malieni.
Segundo o diretor do Banco do Brasil, o objetivo da decisão de estender linhas de crédito do BNDES na política industrial é preparar o País para uma eventual deterioração da economia mundial até o fim do próximo ano. "O Plano Brasil Maior trabalha a manutenção do mercado interno por meio da oferta agregada, aumentando a base de bens de capital. Funciona um pouco como amortecedor."
Equipe. O banco formou uma equipe com 50 técnicos em áreas específicas, como indústria naval, telecomunicações, transporte de alta velocidade, energia hídrica e outros, segundo Malieni. Assim, o Banco do Brasil espera responder mais rapidamente à demanda das empresas por projetos complexos, reduzindo o tempo de análise, por exemplo.
Para acelerar investimentos de micro, pequenas e médias empresas, o carro-chefe será o cartão de crédito do BNDES, que permite a compra de bens de capital como máquinas e equipamentos com maior velocidade e menor burocracia. O Banco do Brasil emitiu 76% do total de cartões neste ano, liberando R$ 2,22 bilhões nos primeiros seis meses do ano.
Outra medida adotada para tornar mais rápida a chegada de recursos às mãos dos empresários foi a adoção de um teto pré-aprovado para investimentos, que funciona como uma espécie de cheque especial. Neste caso, a empresa não precisa apresentar novo projeto quando pretende ampliar uma fábrica já instalada, pois usa o crédito diretamente.
Veículo: O Estado de S.Paulo