Superavit do país com parceiro asiático no semestre já supera o de 2010
Programa de moradia social impulsionado por Pequim deve resultar em mais demanda por minério de ferro
A perspectiva de crise mundial não deve afetar a enorme demanda chinesa por minério de ferro, o principal produto de exportação brasileiro ao gigante asiático.
A avaliação é da influente consultoria Dragonomics, baseada no ambicioso plano de Pequim para construir 36 milhões de moradias ao longo de cinco anos.
"A demanda chinesa por commodities não é impulsionada pelo crescimento do PIB, e sim pelo crescimento do investimento", diz Arhur Kroeber, diretor da Dragonomics, com sede em Pequim. "E a China está bastante comprometida nesse Plano Quinquenal em fazer muitos investimentos em áreas diversas, mas o mais importante do ponto de vista do aço e do minério de ferro é o programa de moradia social."
Aprovado no início do ano pelo Partido Comunista, o 12º Plano Quinquenal (2011-2015) prevê construir 36 milhões de casas de baixo custo para absorver o processo de urbanização do país.
O governo chinês prevê gastar cerca de US$ 700 bilhões no projeto, considerado prioritário devido ao alto custo de moradia na China.
Mais construção significa mais demanda por minério de ferro, o principal responsável pelo crescimento do superavit brasileiro com a China, que apenas nos primeiros seis meses deste ano já superou o superavit de 2010.
Dados do Ministério do Desenvolvimento mostram que a participação no comércio com a China saltou de 27,57% do total, no primeiro semestre de 2010, para 38,02%, nos primeiros seis meses de 2011.
O preço médio da tonelada de ferro exportada para a China saltou de US$ 58,7 para US$ 114 entre os dois períodos --um aumento de 94%. Já o volume de exportação em tonelada cresceu apenas 5%, segundos números da pasta.
A principal beneficiada é a mineradora brasileira Vale, que tem a China como principal cliente --foi responsável por 32% das vendas da empresa no segundo trimestre deste ano.
Kroeber afirma que, por causa do setor imobiliário em expansão, a China dificilmente fará um novo pacote de estímulo como o de novembro de 2008, pouco depois da crise financeira mundial.
"O setor de construção chinesa vai bem, em grande medida, por causa do programa social de moradia. Eles não precisam estimular o mercado interno de habitação. E esse setor não será muito afetado pela recessão global".
O analista americano diz que o país não deveria ficar excessivamente preocupado em manter superavit com a China. "O propósito de administrar uma economia não é gerar um superavit comercial, que não aumenta o bem-estar do cidadãos por si só", diz. "O objetivo da política econômica é criar uma economia vibrante que aumente a renda da população."
Kroeber diz que o Brasil tem de aproveitar o superavit para elevar sua competitividade em áreas em que leva vantagem comparativa.
"Investir no mesmo tipo de manufatura da China provavelmente não será competitivo em mercados de exportação". Para ele, o Brasil não deve ter medo de ser um exportador de commodities e de alimentos.
Ele cita a Austrália como exemplo, por ser uma economia sofisticada e de alta qualidade de vida, embora o país exporte basicamente matérias-primas e alimentos.
Para Kroeber, o Brasil deve investir em indústrias ligadas a commodities e alimentos. "Os chineses não competirão com isso, sempre serão importadores de comida."
Veículo: Folha de S.Paulo