A desaceleração da economia, perseguida pelo governo Dilma Rousseff desde o início do ano, deu sinais mais fortes no mercado de trabalho. O saldo de 140,5 mil vagas formais criadas em julho, divulgado ontem pelo Ministério do Trabalho, foi muito inferior aos 181,8 mil do mesmo mês do ano passado e também aos 203,2 mil de julho de 2008. O resultado foi superior aos 138,4 mil registrados em julho de 2009, quando se iniciava a recuperação da crise mundial. O resultado foi influenciado pelo desempenho recorde do setor extrativo mineral, que contratou 2 mil trabalhadores.
Responsável pelo maior estoque de empregados no país, com 14,9 milhões de trabalhadores formais (32,5% do total de postos de trabalho), o setor de serviços criou menos postos de trabalho em julho pelo terceiro mês consecutivo, na comparação com igual período do ano passado. Foram criadas 45,9 mil vagas em serviços em julho. Esse desempenho foi não só inferior aos 61,6 mil postos criados no mesmo mês de 2010, mas também o menor dos últimos dois meses - 53,4 mil em junho e 71,2 mil em maio.
"A terceira queda consecutiva, tanto na comparação com os últimos dois meses, como na comparação desses com igual período do ano passado já configura uma tendência", disse Fabio Romão, especialista em mercado de trabalho da LCA Consultores. Segundo ele, o setor de serviços é o que tradicionalmente apresenta maior resistência a movimentos da economia real. "Se ele está desacelerando é porque um processo de perda de força na atividade começou efetivamente."
Na indústria, afetada pela competição com importados (que influencia menos os setores de comércio, serviços e construção civil) e pela desaceleração da economia, os efeitos de desaquecimento no mercado de trabalho são ainda mais evidentes. A indústria criou 23,6 mil vagas formais em julho, resultado pouco superior aos 22,6 mil de junho, mas muito aquém dos 41,5 mil registrados em julho do ano passado.
O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, cedeu pela primeira vez em suas estimativas otimistas de criar 3 milhões de novas vagas este ano. Até o mês passado, Lupi afirmava que o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) terminaria o ano com este saldo. As estimativas mais otimistas do mercado não chegam a 2 milhões - a LCA prevê criação de 1,6 milhão, na conta sem a incorporação de dados coletados pelo governo nas empresas fora do prazo oficial, e 1,8 milhão, na conta "cheia".
Ontem, no entanto, Lupi reformulou sua estimativa, referindo-se, agora, aos dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), que leva em conta também a criação de vagas entre os militares e os funcionários públicos estatutários. O Caged contabiliza apenas a criação de vagas pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Em 2010, enquanto o Caged registrou saldo de 2,5 milhões de vagas, a Rais apontou criação de 2,8 milhões.
Segundo Lupi, o fraco resultado de julho não indica uma tendência. Ele acredita que os dados de agosto a outubro serão mais fortes. "As pessoas estão falando tanto de crise mundial que algumas empresas seguraram um pouco as contratações, mas isso é passageiro, o Brasil anda com as próprias pernas", disse.
Para Romão, o saldo de agosto pode atingir até 239 mil vagas - 100 mil a mais que julho, portanto, mas, de acordo com o especialista, "não será uma reversão de tendência". Os meses de agosto a outubro concentram as contratações na indústria e no comércio, antevendo as festas de fim de ano, quando a atividade acelera. "O setor de serviços já apontou que o mercado de trabalho, embora ainda aquecido, não tem mais a mesma força do primeiro semestre", afirmou.
Pelos dados do Caged, no acumulado do ano foram criados 1,405 milhão de novas vagas. Desse total, a indústria respondeu por 19%, percentual inferior aos 26% que corresponderam à participação do segmento no mesmo período do ano passado.
Veículo: Valor Econômico