Indústria ajusta estoques a ritmo menor de demanda

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Depois da Fiat e da GM, agora é a vez da Volkswagen de também suspender turnos extras em sua fábrica. De acordo com a montadora, em setembro, outubro e dezembro já estão programadas paradas em um sábado de cada mês para conter o aumento dos estoques. Em julho e agosto, três turnos adicionais foram cancelados pela empresa. A Volkswagen não fala em números, mas, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), o acúmulo nos pátios já chega a 36 dias.

 

O vice-presidente de Compras da Volkswagen para a América Latina, Alexander Seitz, afirma que o mercado automobilístico está mudando em razão dos importados. "Precisamos de incentivos para competir com o mercado externo." O executivo diz que o número de licenciamentos de carros nacionais estagnou nos últimos 12 meses, enquanto o de estrangeiros subiu 49,3% no mesmo período.

 

Esse ajuste que as montadoras passaram a adotar é verificado em outros setores da indústria brasileira. De acordo com um estudo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento da Indústria (Iedi), o setor produtivo brasileiro apresentou um cenário de estagnação da produtividade (alta de apenas 0,1%) nos seis primeiros meses deste ano, resultado da desaceleração da produção e do aumento do custo de mão de obra. Com isso, a perspectiva é de que nos próximos seis meses o País possa viver um período de queda do nível de investimentos e de aumento do desemprego. Dos 18 setores analisados, dez apresentaram desempenho negativo em comparação ao do ano passado.

 

A combinação entre a valorização do real em comparação ao dólar (mantido no atual patamar como resultante do cenário macroeconômico mundial de elevada instabilidade) e a manutenção de elevada taxa de juros tem penalizado particularmente a indústria. O setor produtivo brasileiro apresentou um cenário de estagnação da produtividade (alta de apenas 0,1%) nos seis primeiros meses deste ano, resultado da desaceleração da produção e do aumento do custo de mão de obra. Com isso, a perspectiva é de que nos próximos seis meses o País possa viver um período de queda no nível de investimentos e de aumento do desemprego.

 

De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e que foram compilados pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento da Indústria (Iedi), a evolução da produtividade por setores de atividade no primeiro semestre de 2011 mostra um quadro bastante diferente do verificado no primeiro semestre de 2010, quando a economia se recuperava da forte retração no ano de 2009.

 

Segundo o estudo, de 18 setores que são analisados, dez apresentaram desempenho negativo em comparação ao ano passado. Dos setores com sinal positivo quanto a produtividade, em cinco o aumento se deve à contração das horas pagas e do emprego. Uma avaliação geral sobre o desempenho dos setores mostra que o quadro de desaceleração na produtividade industrial no primeiro semestre de 2011 atingiu principalmente os setores produtores de bens não duráveis e bens de capital, resultando, na média, na estagnação da produtividade industrial no período.

 

Na análise do economista-chefe do Iedi, Rogério César de Souza, esse indicador de queda da produtividade da indústria demonstra que o setor está menos competitivo e todos os ganhos têm sido consumidos pelo aumento de custo com mão de obra.Porém, esse aumento não é originado do aumento salarial, mas da redução da produção, o que acaba diminuindo margens de lucro.

 

"Não há problema com o aumento do custo de mão de obra, mas desde que exista ganho com produtividade. Foi assim que as economias desenvolvidas se tornaram bem sucedidas, pois assim temos aumento de renda em um cenário de a economia em crescimento", analisou ele. "No Brasil, contudo, mostra que há desaceleração da produção e também das horas trabalhadas. Esse aspecto tem implicações que, no médio prazo, passam pela redução do nível de emprego e na redução de investimentos. No curto prazo essas preocupações exercem pressão sobre os preços para compensar esse aumento dos custos", afirmou ele.

 

Nuvens negras

 

Em complemento a este cenário o Brasil vive há cerca de um ano um período de alta nos juros básicos da economia, a taxa Selic, justificado pelo governo como forma de apertar o cerco contra o aumento da inflação. Por este motivo, um dos desafios para aumentar a produtividade da indústria é promover o aumento da produção, que depende da demanda agregada, justamente a ponta da economia que o governo combate com a elevação da Selic.

 

"As conseqüências serão mais visíveis para a economia brasileira já no final deste ano ou no início de 2012, se nada for feito no sentido de estimular a demanda", afirmou Souza.

 

Apesar de avistar essas nuvens negras para o setor produtivo brasileiro, o economista chefe do Iedi afirma que o plano de incentivo à indústria lançado no início do mês, o Brasil Maior, pode proporcionar um novo fôlego à indústria nacional para recuperar a produtividade e o nível de investimentos até o final do ano.

 

"O mérito desse plano é de oferecer incentivos a alguns setores da indústria", comentou Souza. "Como o governo está em um momento de dificuldade quanto ao balanço de seus pagamentos, é compreensível que as desonerações não tenham a abrangência espalhada a outros setores. Acredito que apenas com as grandes reformas é que possamos passar por um momento onde seja possível termos uma verdadeira política industrial, que deve ser de longo prazo e não apenas com prazo de validade, o de duração desse governo", argumentou. Para ele, a indústria precisa de mais medidas, entre elas aumentar os setores e desonerar o investimento em bens de capital.

 


Veículo: DCI


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