Governo revisa projeções e espera PIB menor este ano

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Cenário externo e medidas do BC tornam 4,5% mais difícil

 

O governo deve rever, para baixo, a expectativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2011. Estimativas preliminares mostram que, no segundo trimestre do ano, o PIB teria avançado cerca de 1%, menos, portanto, que o 1,3% registrado no trimestre anterior. Os efeitos da política monetária adotada pelo Banco Central (BC) este ano, além da frustração do desempenho da economia mundial, já fazem o governo acreditar que o Brasil crescerá abaixo dos 4,5% previstos inicialmente.

 

A revisão da projeção será anunciada oficialmente depois que o IBGE divulgar, em setembro, o resultado das contas nacionais referentes ao segundo trimestre. Desde março, a projeção de crescimento do PIB do BC para 2011 já é de 4%. Para 2012, a projeção original do governo é de crescimento de 5%. Agora, é provável que também esse número seja revisto para baixo.

 

Não se trata, na avaliação do governo, de um cenário dramático. Ele apenas reflete as rápidas mudanças pelas quais a economia vem passando nas últimas semanas. O ambiente mundial se alterou de forma abrupta, o que tem levado os técnicos a adaptarem o cenário anterior à nova realidade.

 

O governo acredita que, pelo menos até o fim de 2013, o crescimento das economias centrais será frustrante. As preocupações quanto aos impactos no Brasil são duas: a demanda por produtos brasileiros lá fora será menor; e haverá excesso de oferta de manufaturados no mercado mundial.

 

No primeiro caso, o problema é parcialmente compensado pela demanda interna, que o governo acredita que, no atual ciclo de crescimento, está sendo liderada pelos investimentos. Uma avaliação dos planos de investimentos das empresas, e do próprio setor público, para os próximos anos faz Brasília crer que, em 2015 ou 2016, a Formação Bruta de Capital Fixo, indicador que reflete a taxa de investimento, chegará a 24,2% do PIB - no primeiro trimestre deste ano estava em 18,43% do PIB.

 

No segundo caso, a preocupação é com a competitividade da indústria, que já vem sofrendo com a valorização do real. Para ter um quadro mais acurado desse fenômeno, o governo está estudando neste momento a evolução histórica dos preços industriais.

 

A equipe econômica avalia que, se por um lado, o novo cenário fará a economia crescer menos neste e no próximo ano, por outro, provocará uma diminuição na inflação mundial e brasileira. Esse processo criaria condições para o BC antecipar a queda dos juros, aguardada inicialmente apenas para o segundo semestre do próximo ano.

 

Nos últimos dias, a reversão das expectativas da situação internacional foi tão forte que vários analistas afirmaram, em conversas com economistas do governo, que a chance de o BC começar a baixar a taxa básica de juros em outubro é de 50%. Por esse raciocínio, o Comitê de Política Monetária (Copom) não alteraria a Selic, que está em 12% ao ano, na reunião do próximo dia 31, mas faria o primeiro movimento 50 dias depois.

 

O governo acredita que está em formação um consenso no país, segundo o qual, diante do recrudescimento da crise financeira mundial e de seus efeitos negativos sobre o PIB nacional, a melhor forma de reagir, para impedir que a economia entre em recessão, é por meio da política monetária. Para tanto, o governo se compromete a manter o esforço fiscal neste e nos próximos três anos, gerando superávits primários anuais em torno de 3% do PIB nas contas públicas.

 

Uma das dúvidas dos analistas diz respeito ao reajuste de 14% no valor do salário mínimo em janeiro, aumento de gasto corrente já contratado para 2012. Cerca de 45% do gasto corrente do governo está atrelado ao salário mínimo. Técnicos do governo calculam que o reajuste deverá ter impacto de R$ 10 bilhões nas contas oficiais.

 

Um assessor do governo informou ao Valor que, para assegurar a geração do superávit primário prometido, a equipe econômica adotará medidas para compensar os efeitos fiscais do aumento do mínimo. Há medidas administrativas e tributárias em estudo.

 

O governo trabalha com a hipótese de zerar o déficit público em 2014 ou no máximo em 2015, "sem [a necessidade de] grandes esforços, e com a queda sistemática da dívida pública". Em 2010, o setor público registrou déficit nominal equivalente a 2,5% do PIB. A expectativa para este ano é reduzi-lo para 1,9% do PIB.

 

Paralelamente ao esforço fiscal, o governo trabalha na formulação de medidas para desindexar a dívida pública, o que permitiria diminuir a emissão de papéis atrelados à taxa de juros de curto prazo. A ideia é fazer isso de forma gradual, sem quebra de contratos nem surpresas. O fato é que, somando o esforço em curso a uma desindexação mesmo que parcial da dívida atrelada à Selic, o governo aposta que, em 2015, terá situação fiscal invejável, na comparação mundial.

 

Veículo: Valor Econômico


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