Cenário passa a ser benigno para queda de juros, diz Mantega

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O ministro da Fazenda, Guido Mantega, aproveitou o anúncio da expansão do superávit primário de 2011, ontem, para passar três mensagens. Ao Banco Central (BC), Mantega afirmou que a melhora do quadro fiscal brasileiro decorrente da ampliação do primário "vem para abrir espaço para a redução da taxa de juros, o que, por sua vez, reduziria os gastos do governo com juros". Aos parlamentares, o ministro da Fazenda afirmou que o aperto promovido pelo governo "caminha no sentido de impedir que haja elevação de gastos correntes que eventualmente poderiam ser aprovados no Congresso". Finalmente, aos sindicalistas, Mantega afirmou que a medida não representa corte de gastos. "Trata-se de um ajuste para garantir a geração de empregos, não estamos cortando investimentos ou programas sociais", disse.

 

O governo está se preparando para uma recessão mundial que durará de dois a três anos, afirmou Mantega. "Os países ricos, infelizmente, vão crescer pouco. É para neutralizar os problemas que eles vão nos remeter que estamos adotando essas medidas cautelares", afirmou o ministro, para quem o BC tem, a partir de hoje, um cenário mais benigno para cobrar juros inferiores à atual taxa de 12,5% ao ano.

 

Segundo Mantega, a meta "atualizada" do superávit primário deste ano, de R$ 127,9 bilhões, deve ajudar o BC a reduzir as taxas de juros, "ainda muito altas" no Brasil. "Mas o BC vai reduzir os juros no médio prazo, quando ele achar que for oportuno, tendo a inflação controlada", disse. Cauteloso, não quis dimensionar o que considera médio prazo - " o que considero médio prazo é o que o BC considera médio prazo" - disse o ministro, numa demonstração de sintonia com o BC.

 

A ampliação em R$ 10 bilhões da meta de superávit primário do governo central (Tesouro, Banco Central e Previdência) foi definida entre o ministro da Fazenda e a presidente Dilma Rousseff na noite do domingo, em conversa por telefone. Ficou acertado que a medida, que circulara na Fazenda na semana passada, seria apresentada aos dirigentes das seis maiores centrais sindicais e aos parlamentares da base aliada, em duas reuniões no Palácio do Planalto. Sindicalistas e parlamentares reuniram-se ontem pela manhã com Dilma, Mantega, e os ministros da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, Relações Institucionais, Ideli Salvatti, e Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho.

 

De acordo com um dirigente sindical, Dilma abriu a reunião com a previsão de que a crise internacional se estenderá por mais dois anos. Assim, a resposta do governo deve se concentrar, agora, na política monetária, e não na expansão fiscal. "Trata-se de uma crise totalmente diferente daquela que vivemos e enfrentamos em 2008, por isso temos de atuar de maneira distinta, alterando os paradigmas de nossa política econômica", afirmou.

 

Os sindicalistas receberam as medidas com ceticismo. "O governo está tentando encontrar uma alternativa ao grande câncer da economia, que é a elevada taxa de juros", afirmou Antônio Neto, presidente da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB). Outro dirigente sindical criticou a opção pelo aperto fiscal. "Se para enfrentar a crise de 2008 e 2009 o governo expandiu os gastos e fez desonerações, o que produziu o forte crescimento de 2010, porque agora o expediente mudou?", disse.

 

Na reunião com Dilma, o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Artur Henrique, afirmou que o governo "pode manter uma política fiscal ativa [não rigorosa] e ao mesmo tempo reduzir os juros".

 

Veículo: Valor Econômico


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