O mercado de trabalho deve sofrer uma desaceleração nos próximos meses, mas o ritmo menor vai atingir o nível de ocupação, e não a renda, que continuará a impulsionar o consumo e a pressionar a inflação. Com o aumento do salário mínimo, que deve chegar próximo de 14%, as pressões por reajustes serão ainda maiores em 2012, afirmam analistas.
O economista da LCA Consultores, Fabio Romão, acaba de revisar sua projeção para o crescimento médio da renda para este ano de 2,6% para 3,2% ante 2010. Isso porque em maio, junho e julho o rendimento médio real habitual, de acordo com a Pesquisa Mensal de Emprego do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aumentou 4% na comparação com os mesmos meses do ano passado.
"Confesso que acho complicado o rendimento continuar mostrando um crescimento interanual no nível de 4% porque a base de comparação de 2010 é muito alta", afirmou, citando que no ano passado o rendimento já havia crescido 3,8% em relação 2009. "Acredito que o mercado de trabalho deve sentir umadesaceleração entre o fim deste ano e o início do próximo, mas os efeitos da crise aparecerão mais na ocupação que no rendimento", completou.
Para o economista Rafael Bacciotti, da Tendências Consultoria Integrada, o rendimento deve crescer 2,6% neste ano. Ele prevê que, entre setembro e outubro, o mercado de trabalho apresentará alguma acomodação e em algum aumento isso se refletirá na taxa de desemprego, que, no entanto, deve continuar em níveis historicamente baixos.
Já os reajustes para as categorias de trabalhadores que estão em negociação devem seguir a tendência de aumentos reais obtidos no primeiro semestre, um pouco inferiores aos de 2010. "Esperamos uma redução no ritmo de crescimento das vagas, já que os serviços devem enfraquecer um pouco com o aperto monetário e a indústria já está em um nível muito ruim", afirmou Bacciotti. "Mas ainda temos sinais bons para o rendimento. Devemos ter uma acomodação do lado da ocupação, mas não da renda", disse.
O economista Marcelo Gazzano, do Royal Bank of Scotland (RBS), afirma que os reajustes com ganho real devem continuar a ocorrer nos próximos meses, embora a atividade econômica esteja em desaceleração. Isso porque os acordos levam em conta a realidade passada, em que a inflação estava mais alta e o mercado de trabalho, mais pressionado.
"A desaceleração econômica acaba não sendo tão relevante porque os acordos olham para trás, para uma situação que sugere reajustes fortes e acima da inflação", afirmou. "No ano que vem, as negociações devem ser mais difíceis que neste ano, mas ainda assim devem obter bons resultados porque não imaginamos que o desemprego vá dar um salto, embora possa aumentar um pouco{, afirmou.
Projeções - Para 2012, a LCA prevê que o rendimento cresça 3,5%, ainda mais que a projeção deste ano, de 3,2%. A Tendências também projeta que o rendimento tenha um crescimento maior em 2012 - de 3%, ante 2,6% em 2011.
A renda é um dos fatores que influenciam a projeção das consultorias para ainflação de 2012, que deve ser superior ao centro da meta e ficar em 5,2%, para a Tendências, e em 5%, para a LCA. "Existem alguns elementos que contribuem para uma desaceleração do IPCA em 2012, mas acho bastante complicado cravar 4,5%, ainda mais considerando o crescimento da renda e a inflação de serviços, que deve ser de 8% no ano que vem, ante 8,6% neste ano", afirmou Romão.
Na avaliação de Gazzano, as negociações salariais são um dos aspectos que ajudam a explicar a elevada inércia inflacionária brasileira. "Nossa inflação é muito ligada à inflação passada e parte disso se explica pelos reajustes salariais, que olham para trás. Se a inflação é mais inercial, abre menos espaço para o Banco Central (BC) cortar juros quando o hiato do produto fica negativo", disse. (AE)
Veículo: Agencia Estado