Varejo cresce e se distancia da produção

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O resultado de julho das vendas do varejo ampliou o descompasso entre os dados de consumo e de produção local. No acumulado do ano até julho, o comércio ampliado (que inclui automóveis e material de construção) registra aumento de 9% sobre igual período de 2010, enquanto a produção industrial aumentou apenas 1,4% na mesma comparação.

Entre as causas para a diferença de comportamento, economistas listam aumento das importações, acúmulo de estoques e perda de competitividade das exportações brasileiras. O aumento da renda e o baixo desemprego ajudam a alimentar o desempenho do varejo, que manteve bom crescimento em agosto e setembro, segundo relatos de varejistas.

Alguns empresários do comércio relatam que a indústria reduziu o ritmo das promoções, o que pode indicar estoques mais ajustados e menor descompasso no futuro.

As vendas do comércio continuaram fortes em agosto e nos primeiros dias de setembro, mantendo ou até acelerando o bom desempenho registrado em julho pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Consultadas pelo Valor, redes de eletroeletrônico, supermercados e lojas de construção civil informaram que este mês começou aquecido, acima da velocidade de expansão de agosto, que já foi um período considerado bom pelos empresários do setor. Em julho, as vendas do varejo, em volume, cresceram 1,4% sobre junho, na série que desconta fatores sazonais. No segmento ampliado (que inclui automóveis e materiais de construção) o aumento foi de 0,6% na mesma comparação.

Essas análises variam de acordo com o segmento do comércio. No varejo de alimentos e em parte do comércio eletroeletrônico - como a linha de imagem e som - a demanda voltou a crescer nos últimos dois meses, em relação ao final do primeiro semestre. "Agosto foi igual a julho, que já foi um bom mês. E setembro vai muito bem", disse Ricardo Marques, coordenador geral da lojas Rabelo, varejista de eletroeletrônicos com atuação em sete Estados e previsão de chegar a 100 lojas em dezembro.

"O consumidor estava reticente com a alta nos preços, mas esse comportamento tem mudado, até porque certos aumentos no varejo perderam força", conta Martinho Paiva Moreira, diretor da rede D'Avó, com 10 hipermercados. Até esse momento, a alta real nas vendas (em valor) de setembro em relação a agosto é de 5%.

O aumento das vendas do varejo pode ajudar a indústria a desovar produção acumulada, pois grandes fabricantes de bens não duráveis relataram aumentos de estoque no segundo trimestre. Hypermarcas e Unilever trabalharam, pelo menos nos meses de maio e junho, para reduzir o nível de produtos estocados nas fábricas, conforme apurou o Valor. "Aquela volúpia promocional do 'pague dois e leve três' diminuiu no supermercado porque foram feitos ajustes. As promoções continuam, mas em ritmo menor", diz Moreira.

O comando do grupo Pão de Açúcar (GPA) comentou, na última sexta-feira, resultados positivos em setembro. "Agosto foi médio, mas setembro está bem melhor", disse Enéas Pestana, presidente do GPA. A companhia controla as redes Extra, Pão de Açúcar, Ponto Frio e Casas Bahia. "O Brasil vive um momento de pleno emprego e esse é o fator que mais influencia o consumo", afirmou ele.

O feriado de 7 de setembro, ocorrido na quarta-feira, foi festejado por algumas redes e teve efeito positivo. "Muita gente não viajou e acabou indo para os shoppings centers", disse Marques, da lojas Rabelo.

Outra rede que apresentou crescimento nas vendas de agosto foi a Lojas Cem, de eletrodomésticos e móveis. O resultado do mês foi 10% maior do que o registrado em agosto de 2010: "É um ótimo resultado, que deve ser mantido em setembro. A previsão é que o ano feche com alta entre 10 e 15%", diz Valdemir Colleone, diretor de relações com o mercado. Para ele, não há surpresas no desempenho da empresa, que trabalha com esses números desde o começo do ano.

O volume de vendas do varejo de eletrodomésticos e móveis segue firme. No acumulado do ano, as vendas estão 18,3% maiores que em igual período de 2010, segundo a pesquisa do IBGE. Nas contas da Lojas Cem, cujas vendas cresceram 18% em 2010, o desempenho deve desacelerar um pouco até o fim do ano, o que não indica que ele piorou, na opinião de Colleone: "Todo mercado tem um limite. Quanto mais próximo dele, menor o crescimento. O setor de eletrodomésticos ainda tem muito potencial, mas as pessoas estão chegando perto de um limite de endividamento e isso provoca um recuo, pouco significativo, no ritmo de crescimento", disse ele.

A rede Rabelo registrou alta de 14% nas vendas em agosto e neste mês, a expansão atinge 23% até o momento em relação ao mesmo período do ano passado, quando o desempenho já foi considerado forte pela cadeia. "Em julho a gente sente um pouco o efeito "ressaca das escolas", com os gastos com matrícula e material escolar. Mas em agosto e setembro não há mais essa 'concorrência'", afirma o executivo da Rabelo.

"O mês de agosto foi muito bom e setembro deve ser ainda melhor", diz Jorge Letra, co-presidente da Dicico, rede de lojas de material de construção. Pelos dados do IBGE, a atividade avançou 0,6% em julho, na comparação com o mês anterior, e 11,7% no acumulado do ano, mas a Dicico colhe resultados maiores. Nos meses de julho e agosto, a empresa cresceu 6% e 8,9% na comparação com os mesmos meses de 2010. Em setembro, mês considerado bom para as vendas, pois a empresa realiza a sua maior liquidação do segundo semestre, Letra projeta avanço de 8% frente a setembro de 2010.

"Nossas expectativas mudaram ao longo do ano. Enquanto o primeiro trimestre foi muito bom, o segundo foi ruim e o terceiro começou uma recuperação. Devemos fechar 2011 com crescimento de 16% nas vendas" na comparação com 2010, diz Letra. "Com as boas notícias da redução da Selic, o mercado aposta em um grande aumento das vendas já que haverá liberação de crédito no mercado."

No caso da Dicico, as importações não vêm conquistando maior fatia dos produtos da empresa. De acordo com Letra, hoje elas representam 12% das vendas, mas em maio representavam 16%, em parte por restrições adotadas para a importação de porcelanatos.

Na avaliação da General Brands, fabricante de alimentos e bebidas, agosto foi um mês "ótimo" nas vendas ao varejo e setembro caminha no mesmo ritmo. "No acumulado do ano, até agosto, crescemos 20% e a meta é atingir crescimento de 30% em 2011", afirmou Isael Pinto, presidente da companhia.


Veículo: Valor Econômico


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