Renda, dívidas controladas e emprego farto ajudam consumo no fim do ano

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Três elementos devem manter o consumo das famílias brasileiras em alta neste fim de ano - renda, baixo desemprego e endividamento bastante moderado.



O comprometimento do orçamento das famílias brasileiras com dívidas é crescente, mas não assusta. Ainda que a um ritmo fraco, a parcela da renda destinada ao pagamento de débitos vem aumentando desde abril e atingiu em julho deste ano 21,1%, último dado disponível e maior nível da série histórica calculada pelo Banco Central desde janeiro de 2005, cuja metodologia foi revisada na última leitura, mas sem alteração em sua trajetória.

A massa salarial, importante indicador do poder de fogo dos consumidores e de sua capacidade de pagamento, atingiu em agosto passado R$ 37,2 bilhões, avanço de 5,6% frente igual mês de 2010 em termos reais. A baixa taxa de desemprego, que cria uma sensação de conforto na população, aliada a sucessivos ganhos reais na renda, permitirá que o consumo continue forte nos próximos meses, dizem analistas. O principal perigo imposto pelo endividamento elevado, acrescentam, é seu impacto de alta na inadimplência, o que a médio prazo está descartado justamente pela força do mercado de trabalho.

Nos 12 meses encerrados em julho, o varejo ampliado, que inclui automóveis e materiais de construção, registrou um volume de vendas 10,5% maior, indicando uma pequena retração no ritmo de consumo na comparação com os 12,2% do fim de 2010, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No varejo restrito, a alta de 10,9% do fim de 2010 cedeu espaço para um crescimento de 8,5% nos 12 meses encerrados em julho na comparação com os 12 meses anteriores. Para a LCA Consultores, o varejo vai encerrar 2011 com alta de 7% no segmento restrito. Para a MB Associados, a alta será de 7,3%

Ao contrário do que aconteceu no início do ano na esteira das medidas macroprudenciais tomadas pelo BC para conter a demanda, que encareceram o crédito, o ligeiro avanço do nível de endividamento não se deveu às despesas com juros. Esse dispêndio está relativamente estável desde abril entre 7,4% e 7,6% da renda, enquanto os gastos com o principal da dívida avançaram um ponto percentual entre maio e junho e, em julho, estacionaram em 13,5% da renda.

Segundo o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, o crescimento dos gastos com o principal da dívida entre maio e junho pode ser explicado pela trégua da inflação verificada de maio a julho, que inspirou maior confiança nos consumidores e os motivou a contratar novos empréstimos. Com a volta da alta nos índices de preços neste fim de ano, a tendência é que a despesa com o principal se estabilize no nível atual, com pequenos avanços na margem. "O indivíduo olha o que está acontecendo no mês, se assusta e toma a decisão em cima disso", diz.

As medidas macroprudenciais tiveram papel decisivo no aumento do dispêndio das famílias com juros que ocorreu desde o fim de 2010, avalia Wermeson França, economista da LCA Consultores. Como os financiamentos já contratados ficaram mais caros, os consumidores não conseguiram fechar as suas contas e tiveram de recorrer a linhas pré-aprovadas com juros mais salgados, como o cheque especial e cartão de crédito. Agora, é possível que esse efeito tenha se dissipado - já que essas são modalidades de curto prazo - e o consumidor tenha tomado novo fôlego para se endividar mais, acredita o analista.

No entanto, com a desaceleração econômica em curso no país e as incertezas do cenário externo, lembram Vale e França, não só os tomadores, mas também os bancos estão mais cautelosos na concessão de crédito, o que impede uma alta muito explosiva no endividamento. "As restrições aumentam, a necessidade de comprovação de renda fica maior e tudo isso indica que os gastos com o principal da dívida não crescerão muito mais além do nível atual", diz Vale.

Fernanda Della Rosa, economista da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio), não acredita que as turbulências das economias desenvolvidas afetarão seriamente o apetite do consumidor por mais crédito, ao menos por enquanto. "O consumo deve continuar forte. Se o consumidor tem condições de pagar e continua empregado, vai acabar comprando. A economia ainda está imune ao que acontece lá fora", argumenta.

Ela observa que na região metropolitana de São Paulo as famílias mais endividadas são as que ganham menos de dez salários mínimos, segmento que depende de crediários para fazer novas compras e, por isso, precisa ter seu nome limpo. Segundo pesquisa da entidade, no mês de agosto 48% das famílias nessa faixa de renda declararam ter dívidas, contra 31% no grupo acima de dez mínimos.

Junto à baixa inadimplência, o ciclo de redução da Selic, que deve continuar, também pode estimular um endividamento pouco maior, sustenta Vale, da MB. O perfil da dívida mais alta, no entanto, não será predatório. O setor que deve sustentar esse crescimento será o imobiliário, modalidade de menor risco para as instituições porque o imóvel fica como garantia, explica França, da LCA.


Veículo: Valor Econômico


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