BNDES deve encolher em setor eleito pelo governo

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Infraestrutura deve receber 10,3% menos recursos em 2012, prevê banco



No ano passado, pela 1ª vez, setor foi o que teve mais dinheiro da instituição, em ação definida pelo governo

Apesar da determinação do governo para o BNDES focar mais a sua atuação no financiamento aos grandes projetos de infraestrutura, o banco estatal deve emprestar menos ao setor em 2012, segundo previsão da instituição obtida pela Folha.

A cifra estimada para este ano é de R$ 50,3 bilhões. Se ela se confirmar, será 10,3% menor do que os R$ 56,1 bilhões desembolsados pelo banco de fomento em 2011.

A redução tende a ocorrer porque o BNDES planeja um orçamento mais enxuto como um todo em 2012. Há ainda o fato de algumas áreas de infraestrutura ainda não terem apresentado projetos mais estruturados (como saneamento e telecomunicações), a ponto de já serem mapeados pelo BNDES.

Esses ramos, porém, demandam muito menos crédito do que os incluídos na estimativa preliminar e não alcançaram no ano passado desembolsos comparáveis à diferença de quase R$ 6 bilhões entre os empréstimos de 2011 e os programados para 2012.

Desde 2011, o BNDES passou a financiar mais a infraestrutura e deixou que o mercado de capitais privado supra parte da carência de crédito da indústria.

Pela primeira vez, a área que envolve energia, transporte e outros empreendimentos abocanhou a maior fatia dos desembolsos do banco estatal: 40%, ante 32% do setor fabril.

Em recente entrevista, o presidente do banco, Luciano Coutinho, disse que foi uma decisão do governo priorizar a infraestrutura diante da necessidade de pavimentar um crescimento mais sustentável e dar conta dos grandes projetos destinados à Copa e à Olimpíada.

À Folha o diretor de Infraestrutura do BNDES, Roberto Zurli, afirmou que "o orçamento do banco é construído também pela demanda por financiamentos", que cresceu para a área de infraestrutura.

"Isso mostra que os investimentos em infraestrutura estão firmes. Estão crescendo por causa da necessidade de investimento e, claro, são muito puxados pelo governo, que lança leilões de concessões, PPPs [parcerias público-privadas] e outras iniciativas", afirma.

Do total estimado em financiamentos à infraestrutura em 2012, R$ 23,4 bilhões devem ser emprestados para o chamado "investimento puro" -crédito aos empreendedores de grandes projetos como hidrelétricas, ferrovias, portos, aeroportos e outros.

DESTAQUE

Zurli diz que terão destaque as áreas de energia eólica, linhas de transmissão de energia, hidrelétricas (os desembolsos para a usina de Belo Monte devem de intensificar) e aeroportos.

Outros R$ 26,9 bilhões incluídos na projeção são financiamentos para a compra de máquinas e equipamentos ligados à infraestrutura.

Uma boa fatia -não detalhada ainda pelos técnicos do BNDES- será destinada ao crédito para aquisição de caminhões e ônibus no âmbito da linha Finame.

Trata-se de uma modalidade voltada ao financiamento de máquinas e equipamentos e repassada aos clientes do BNDES por meio de outras instituições financeiras, que fazem a análise de crédito e tomam o risco para si em troca de um percentual sobre a taxa de juros básica do BNDES.

 

Mercado financia mais a indústria nacional


Alguns números de financiamentos de instituições financeiras privadas e do mercado de capitais mostram que o BNDES começou a obter êxito, em 2011, na missão de reduzir seu apoio à indústria e priorizar a infraestrutura.

O banco estatal cita como prova da migração o crescimento das emissões de debêntures -títulos de renda fixa de empresas lançados no mercado para financiar projetos de longo prazo.

O volume de lançamento desses papéis e das emissões de iniciais de ações que estrearam na Bolsa passou de

R$ 43,1 bilhões em 2010 para R$ 48,9 bilhões em 2011, crescimento de 13,3% -apesar das oscilações do mercado e do menor crescimento.

Outro sinal é a expansão dos empréstimos a pessoas jurídicas -figura na qual se inserem as indústrias. Ao todo, o crédito para empresas com recursos privados captados no mercado interno cresceu 18% nos 12 meses encerrados em novembro, segundo o Banco Central.

O crédito lastreado a recursos de investidores estrangeiros teve avanço parecido: 18,5%, sem considerar a inflação de 2011 (6,5%).

Recentemente, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, disse haver "sinais claros" de que o mercado tem como suprir parte das necessidades de financiamento da indústria a um custo compatível com as linhas de crédito do banco de fomento.

A estratégia, afirmou, concentra-se mais em reduzir o apoio a grandes grupos industriais. A pisada no freio do crédito já foi percebida em 2011, quando os desembolsos do banco para o setor caíram 19%, para R$ 43,8 bilhões.

Para micro, pequenas e médias empresas, os desembolsos aumentaram 9%, considerando todos setores. Em 2011, o BNDES emprestou R$ 138,9 bilhões, 3% menos do que em 2010 -sem contar a capitalização da Petrobras.




Veículo: Folha de S.Paulo


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