Consumista, brasileiro vira sacoleiro global

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Câmbio favorável, preço baixo, variedade e bom atendimento impulsionam turismo de compras no exterior

Para especialistas, impostos, custos altos, ineficiência e falta de competição tornam o Brasil mais caro

Cerca de 4 milhões de brasileiros devem viajar para o exterior nos próximos seis meses, segundo o Ministério do Turismo. Mais do que conhecer lugares e culturas diferentes, a maioria vai comprar roupas, sapatos, eletrônicos e outros mimos por menos da metade do preço no Brasil.

Em 2011, os brasileiros gastaram perto de US$ 22 bilhões em viagens ao exterior, 33% mais do que em 2010, segundo a OMT (Organização Mundial do Turismo). O crescimento dos gastos dos brasileiros só perde para o dos chineses, que saltaram 38% e atingiram US$ 55 bilhões.

Não por acaso, o presidente Obama anunciou na quinta-feira, na Disney, que vai facilitar a concessão de vistos a brasileiros e chineses.

Preço, variedade, qualidade e real forte -que lembra o câmbio fixo dos anos 90- explicam por que o brasileiro é tão assediado no exterior.

Mas o que faz uma pessoa pegar um avião para comprar o enxoval do bebê em Miami? É que ficou fácil comparar preços pela internet e mais gente pode fazer essa viagem.

"Nos anos 80, o brasileiro ia ao Paraguai comprar videocassete. Agora, vai a Miami. Não é um comércio marginal nem desprezível; é um problema de custo, tributação e eficiência", diz Nuno Fouto, diretor do Provar (Programa de Administração de Varejo).

Para Marcio Pochmann, presidente do Ipea, há ainda um fator subjetivo que torna "o de fora melhor que o nosso" por conta da herança colonial e do fechamento do país às importações: "O 'made in Brazil' ainda não tem o mesmo peso para algumas pessoas".

"Preço baixo é um apelo irresistível para o brasileiro, que tem uma veia consumista", diz Vera Rita de Mello Ferreira, psicóloga especialista em economia.

'PERSONAL SACOLEIRA'

Guia turística especializada em compras, Cristiane Barrientos cobra US$ 180 para ajudar brasileiros a achar pechinchas nos outlets da Flórida. Há três anos, atendia brasileiros do eixo Rio-São Paulo, interessados em compras para a família. No ano passado, seu público se ampliou: atende pessoas de todo o país que compram artigos para revender. "Não é para uso; é para vender mesmo. Gastam no mínimo US$ 1.000 por dia. O que eles procuram? Marca, marca, marca. No Brasil, custa uma fortuna."

Grávida de seis meses, a advogada Carol Bottino queria comprar um carrinho de bebê que custava R$ 4.500 no Brasil. Pesquisou na internet e achou o mesmo modelo por US$ 500 em Miami. "Com o dinheiro do carrinho no Brasil, paguei a minha passagem e a do meu marido e ainda voltei com o carrinho."

Para mobiliar a casa em Porto Alegre, o consultor gaúcho Sérgio Torres comprou cubas de pia para a cozinha por 30% do preço no Brasil e cadeiras Philippe Starck por um quarto do valor. "Levo tudo na mala. Mesmo pagando volume extra, compensa."

"Faz cinco anos que não compro roupa no Brasil", disse Carlos Gustavo, 36, auxiliar de cartório. Nas férias, ele compra artigos que revende com ganho de até 100%.

"Eles [americanos] ficam chocados com o tanto que a gente gasta. Mas absurdo é o preço no Brasil", disse Neusa Koga, 58, comerciante.


Veículo: Folha de S.Paulo


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