Redução de empréstimos em 2011 deverá se repetir neste ano, segundo o presidente do banco, Luciano Coutinho
Decisão depende de análise sobre evolução da crise europeia e de eventual necessidade de turbinar a economia
Em linha com o esforço do governo de não estimular a economia num cenário de inflação alta, o BNDES pisou no freio e reduziu seus empréstimos em 2011. Se a crise não se agravar, a tendência é manter a "moderação" em 2012, segundo o presidente do banco, Luciano Coutinho.
Em 2011, os desembolsos do BNDES somaram R$ 139,7 bilhões, 17% menos do que em 2010 (R$ 168,4 bilhões).
O banco estatal, porém, deu mais destaque ao setor de infraestrutura, cujos financiamentos cresceram 7% e chegaram a R$ 56,1 bilhões.
Para Coutinho, o desempenho geral do banco ficou no mesmo patamar de 2010, se descontado o efeito da participação de R$ 24,7 bilhões na capitalização da Petrobras naquele ano. Excluído esse aporte, os desembolsos de 2011 caíram 3%.
O presidente do BNDES disse que não foi traçado ainda um orçamento para empréstimos em 2012.
A decisão depende ainda, diz, de uma análise do governo sobre a evolução da crise europeia, seu impacto no crédito e a consequente necessidade ou não de turbinar mais ou menos a economia.
Coutinho afirmou, porém, não crer "num cenário catastrófico" para a crise europeia -o que reforça a ideia de mais um ano de amarras à expansão do BNDES. "A intenção é manter um ritmo de moderação [dos empréstimos]."
Somente após avaliação mais acurada, diz, é que o governo definirá também o volume a ser emprestado pelo Tesouro ao BNDES para o banco compor seu orçamento para empréstimos em 2012. Em 2011, os repasses foram de R$ 55 bilhões, abaixo dos R$ 80 bilhões de 2010.
As premissa básicas, diz, serão mantidas: priorizar projetos de infraestrutura e deixar que grandes empresas, especialmente do setor industrial, busquem fontes alternativas de recursos no mercado de capitais.
Para Coutinho, a infraestrutura precisa de mais crédito de longo prazo e há menor apetite do mercado em financiar o setor, um gargalo à ampliação da capacidade de crescimento da economia.
Pela primeira vez, a infraestrutura consumiu, em 2011, uma fatia maior dos empréstimos do banco -40%, ante 32% da indústria.
Há uma meta de emprestar R$ 23 bilhões diretamente pelo BNDES neste ano, fora os financiamentos feitos por outros agentes financeiros, que repassam recursos do banco estatal para a compra de máquinas e equipamentos.
Para não superaquecer a economia, o BNDES cortou também, em 2011, benefícios de linhas de crédito especiais lançadas durante a crise de 2008 e 2009.
Entre eles estão juros mais baixos e participação mais elevada do banco nos financiamentos, além de empréstimo para capital de giro.
A julgar pelo cenário previsto por Coutinho, esses estímulos tendem a não se repetir na atual crise.
Veículo: Folha de S.Paulo