Entrada de recursos para a Bolsa de Valores e a atuação dos exportadores estão valorizando o real
O governo monitora dois movimentos que contribuíram para a desvalorização do dólar neste início de ano. A forte entrada de recursos para aplicação na Bolsa de Valores e a atuação dos exportadores forçaram a queda da cotação da moeda americana e levaram a equipe econômica a avaliar a adoção de medidas para conter uma possível onda de valorização do real.
De acordo com dados da BM&F Bovespa, os investidores estrangeiros compraram R$ 2,7 bilhões em ações além do que foi vendido este mês até agora. O volume supera em muito o saldo líquido de R$ 400 milhões no início de 2011, ano em que o saldo foi negativo durante sete meses.
Outra razão detectada pela equipe econômica para a valorização do real é o movimento dos exportadores. Por lei, eles podem deixar parte dos dólares obtidos com a venda de produtos no exterior. Normalmente, esses empresários aguardam um momento de cotação alta do dólar para entrar com o recurso. De fato, os dados do Banco Central sobre fluxo cambial mostram que nas duas primeiras semanas de janeiro entraram no País US$ 3 bilhões pela via comercial.
Além disso, os técnicos observam o início da retomada das operações chamadas "carry trade". Nelas, os investidores tomam empréstimos em locais onde o juro está baixo (no caso, a Europa, com taxa de 1%) e trazem para aplicar no Brasil, onde a taxa está em 10,5% ao ano.
Apesar de redobrar a atenção, a avaliação da equipe econômica é que não há um movimento especulativo, por isso não seriam necessárias medidas para conter a desvalorização do dólar neste momento. A ordem é manter o monitoramento sobre o mercado. "O Ministério da Fazenda olha o câmbio todo dia, o Banco Central a cada minuto", disse um técnico. "Essa é uma preocupação permanente nossa." Ainda assim, o simples alerta do governo provocou efeito ontem mesmo no mercado. O dólar encerrou o dia a R$ 1,767, em alta de 0,11%, interrompendo três sessões consecutivas de queda.
Venda. O dólar estaria em queda também porque os bancos estariam vendendo moeda estrangeira. Em dezembro, dado mais atual disponível, o montante nessa posição era de US$ 1,6 bilhão. Em setembro, outubro e novembro, porém, eles estavam na ponta oposta. Para Silvio Campos Neto, da consultoria Tendências, esse movimento pode ser o mesmo verificado nos exportadores: eles estariam aproveitando a melhora na cotação.
"Medidas sempre podem ser tomadas, mas o espaço que o governo tem para agir sem criar problemas em outras áreas é pequeno", avaliou. "Não é necessário adotar nenhuma agora", acrescentou o economista, que estima uma taxa de câmbio de R$ 1,70 no fm do ano.
A possibilidade de novas medidas para estimular o crescimento da economia, como a redução do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), também está no radar do governo. A equipe econômica, porém, avalia que ainda é cedo para falar disso. No momento, segundo alguns economistas do governo, abrir mão de uma arrecadação de R$ 1,6 bilhão, correspondente à queda de 0,5 ponto porcentual do tributo, é uma medida cara diante do efeito que isso teria sobre o consumo.
Veículo: O Estado de S.Paulo