Banco Mundial rebaixa projeções globais e alerta emergentes para riscos

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Principal perigo, segundo a instituição, vem da Europa, num cenário em que não há espaço fiscal para países adotarem medidas de estímulo


O Banco Mundial, assim como fez a ONU na terça-feira, rebaixou todas as projeções de expansão global para 2012 e alertou os países em desenvolvimento para a possibilidade de a situação se agravar ainda mais. A instituição prevê forte desaceleração do crescimento, redução no fluxo de capitais, desvalorização do mercado acionário, queda no preço das commodities e aumento do spread sobre a dívida soberana.

"O risco de uma crise global similar à que ocorreu em setembro de 2008 é real", afirmou em Pequim o economista-chefe da instituição, o chinês Justin Yifu Lin, durante divulgação do levantamento Prospectos para a Economia Global (PEG), realizado duas vezes por ano.

O principal risco vem da Europa, que pode arrastar o mundo para uma situação de congelamento dos mercados financeiros globais, afetando de maneira dramática os países cujas necessidades de financiamento externo superam 5% do Produto Interno Bruto (PIB).

A repetição de uma turbulência global teria impactos negativos mais profundos e duradouros agora, em razão do menor espaço fiscal para os países adotarem medidas de estímulo ao crescimento, alertou a instituição.

Na avaliação de Hans Timmer, diretor de Projetos de Desenvolvimento do Banco Mundial e responsável pela coordenação do PEG, "2012, ou o Ano do Dragão para a China, será muito difícil para a economia global". A probabilidade de a situação mundial se degradar de maneira generalizada é grande o bastante para ganhar destaque nas projeções do Banco Mundial, ainda que não seja o panorama considerado mais plausível.

"É um cenário de crise, e não é frequente falarmos da crise antes que ela ocorra. Mas, mesmo que não seja o mais provável desenlace, é importante o bastante para ser discutido e para os países em desenvolvimento começarem a se preparar para as consequências negativas de uma eventual segunda onda de crise vinda de países ricos", ressaltou Timmer.

Projeções. Na hipótese de as piores previsões se confirmarem, a instituição prevê redução de 4 pontos porcentuais nas já baixas estimativas de crescimento divulgadas ontem.

A estimativa agora é de expansão de 5,4% nos países em desenvolvimento e de 1,4% nos ricos, comparados a 6,2% e 2,7% no levantamento divulgado em junho. Menos 4 pontos sobre esses índices significaria quase estagnação no mundo emergente e forte recessão entre os desenvolvidos.

Depois de um ano e meio em que estiveram imunes à turbulência no mundo desenvolvido, os países em desenvolvimento começaram a ser afetados pelo contágio financeiro em agosto, com redução no fluxo de capitais, queda no mercado acionário e aumento do spread sobre a dívida soberana. Segundo Timmer, o mundo perdeu desde julho o equivalente a 9,5% do PIB mundial com a desvalorização nas bolsas de valores.

Esse contágio ocorreu no momento em que grandes emergentes como Brasil, Índia e Turquia desaceleravam em razão de medidas de aperto monetário adotadas para combater a inflação e a alta no preço de ativos.

Mesmo que o cenário-base do Banco Mundial se realize, as nações em desenvolvimento vão ver um "modesto" fluxo de capital estrangeiro para suas economias, depois da acentuada redução dos últimos meses.

A previsão é que esses recursos representem 3,3% do PIB dos países emergentes em 2012 e 3,7% no ano seguinte, bem abaixo dos 8% em 2007 e da média de 10% da última década, prevê a instituição. Na hipótese de agravamento da crise, haverá uma reversão no fluxo de capitais e esse deverá ser o principal canal de transmissão da crise dos países ricos para os emergentes.

A expansão do comércio mundial deverá desacelerar de estimados 6,6% em 2011 para 4,7% neste ano, antes de voltar a crescer a 6,8% em 2013. Mas, caso o panorama pessimista se concretize, as exportações poderão ter contração semelhante à de 2008, avalia a instituição.

A previsão para a zona do euro é de contração de 0,3% em 2012 e, segundo Timmer, até mesmo a Alemanha deverá entrar em recessão no primeiro trimestre. E esse é o cenário mais otimista.

Emergentes. O Banco Mundial aconselha os países emergentes a começarem a se preparar para uma situação adversa, com identificação de novas fontes de receita fiscal e aumento da eficiência no gasto público, que dê espaço para medidas de estímulo.

A instituição sugere ainda a busca de novas fontes de crescimento e o uso do estímulo fiscal em áreas que criem empregos e possam sustentar a expansão no longo prazo. Os bancos devem ser submetidos a testes de estresse e ser recapitalizados, caso haja indícios de que enfrentarão dificuldades no eventual agravamento da crise.



Cenário teria efeito negativo sobre o Brasil


A eventual realização do cenário pessimista desenhado pelo Banco Mundial levará à queda acentuada no preço das commodities, com impacto negativo sobre os países exportadores, entre os quais o Brasil. Segundo o relatório divulgado ontem, o País sofreria com a retração dos preços agrícolas e acentuada redução na cotação de metais como o minério de ferro, principal produto exportado pelo Brasil.

"Os metais recuaram 10% desde julho e o declínio será bem mais acentuado em um cenário negativo", disse Hans Timmer, diretor de Projetos de Desenvolvimento do Banco Mundial. Ele ressalta, porém, que o desempenho do Brasil será determinado mais pela estabilidade com a política macroeconômica dos últimos anos do que com o efeito negativo dos fatores externos.

Na projeção considerada mais provável - na qual não há agravamento da crise -, o PIB brasileiro cresceria 3,4% em 2012 e 4,4% em 2013. Ao mesmo tempo, o déficit em conta corrente aumentaria para 3,2% e 3,4% do PIB, respectivamente, comparado a estimados 2,5% em 2011.

O Banco Mundial tem uma visão otimista da China. Na avaliação do economista-chefe da instituição, o chinês Justin Yifu Lin, as autoridades de Pequim vão conseguir levar o país a um "pouso suave", com manutenção do crescimento acima de 8%. / C.T.



Veículo: O Estado de S.Paulo


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