Crédito ao consumo patina mesmo com estímulo do governo

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Os estímulos dados pelo governo para o crédito ao consumo em dezembro de 2011 podem ter surtido efeito limitado, até agora. Embora fim de ano seja época de compras de Natal, a injeção de recursos na economia promovida pelo pagamento do 13º salário torna o período mais fraco, sazonalmente, para a oferta de financiamentos.

Sondagem feita pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) com as maiores instituições financeiras do mercado, antecipada ao Valor, projeta um recuo de cerca de 10% na média diária de concessões para pessoas físicas (aí consideradas todas as linhas) em dezembro na comparação com novembro. Se desconsiderado o efeito sazonal, a queda seria de 1,8% no mesmo período. Em relação às concessões acumuladas, o recuo previsto é um pouco menor, de 1,3%, já que dezembro teve dois dias úteis a mais do que novembro.

"Esses dados não sinalizam, por enquanto, uma retomada", observa Jayme Alves, economista da Febraban. Segundo ele, a tendência é que o crédito ao consumo ganhe mais força a partir do segundo trimestre, passado o período de acúmulo de contas típico de início de ano, quando há impostos a pagar, como IPTU e IPVA, e gastos com educação. Os bancos também ficam menos dispostos a conceder crédito no início de ano, justamente por conta dessa concentração de contas, que ajuda a elevar a inadimplência - que já está em nível elevado.

Além de reverter parte das medidas macroprudenciais em dezembro do ano passado, beneficiando principalmente as modalidades de financiamento para aquisição de veículos e o crédito consignado (com desconto em folha de pagamento), o governo ainda promoveu cortes no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para produtos da linha branca e materiais de construção e no Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), que incide sobre empréstimos para pessoas físicas - este último passando de 3% para 2,5% ao ano. Reportagem do Valor publicada semana passada mostrou que o governo estuda uma nova redução do IOF, para 2% ao ano, caso o Ministério da Fazenda considere necessário adicionar incentivos ao consumo das famílias.

Mas, apesar do impacto direto que uma eventual redução de 0,5 ponto percentual de IOF tenha na parcela de um financiamento, o efeito é pequeno no valor da prestação a ser paga pelo consumidor. "Teoricamente, a medida vai ao encontro de incentivar o consumo, mas é um corte pequeno", avalia Felix Cardamone, vice-presidente do Santander responsável pela financeira do banco espanhol. "E mesmo que houvesse essa redução de IOF, uma taxa de 2% seria mais alta do que o 1,5% que era praticado no início de 2011", lembra ele.

A recente redução da Selic também teria efeito marginal no financiamento de veículos e nas operações de crédito ao consumo de prazo mais longo, na visão de Cardamone, porque esses empréstimos levam em consideração a curva de juro do mercado futuro, que já embute esse movimento de queda da taxa básica da economia.

Embora o Santander não trabalhe especificamente no financiamento para a compra de produtos de linha branca e materiais de construção, Cardamone avalia que o tempo é curto para sentir algum efeito das medidas de estímulo tomadas pelo governo em meados de dezembro do ano passado. "Sobraram quatro ou cinco dias úteis de uma semana que costuma ser morta para a concessão de crédito", explica.

Essa percepção de "baixo impacto" das medidas de governo para estimular o crédito ao consumo permanece neste início de ano. "Estou no momento em visitas a empresas na região Sul do país e várias delas estão fechadas, com funcionários em férias coletivas."

Apesar de a sondagem feita pela Febraban projetar uma queda de 10% na média diária de concessão de crédito a pessoas físicas em dezembro do ano passado, tal desempenho, se confirmado, ainda seria superior ao de dezembro de 2010, quando o recuo foi de 14,4%. Foi em dezembro de 2010 que o Banco Central (BC) editou as medidas macroprudenciais, cujo objetivo era frear a oferta acelerada de crédito.



Veículo: Valor Econômico


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