Crédito caro faz instituições financeiras aumentarem os juros e manter lucros
O aumento dos juros, provocado pela crise financeira internacional, está engordando o lucro dos bancos no Brasil, mesmo com a escassez mundial de crédito. Com a divulgação dos resultados do Banco do Brasil (BB)ontem, o lucro líquido das grandes instituições financeiras totalizou R$ 25,5 bilhões no acumulado do ano até setembro, uma expansão de 20% em relação ao mesmo período do ano passado (R$ 21,2 bilhões). Na avaliação de especialistas, a turbulência financeira movimentará o mercado com aquisições, fusões, aumentos de taxas de serviços e juros – o que vai garantir que a farra dos ganhos dos bancos continue.
Segundo pesquisa divulgada ontem pela Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), as taxas de juros para empresas e consumidor mantiveram a tendência de alta em outubro pelo sexto mês consecutivo. A taxa média para pessoa física aumentou 0,08 ponto percentual no mês, subindo de 7,46% ao mês (137,12% ao ano) em setembro para 7,54% ao mês (139,24% ao ano) em outubro. É a maior taxa média desde junho de 2006.
Para a pessoa jurídica, os juros tiveram uma elevação de 0,07 ponto percentual, de 4,36% ao mês (66,88% ao ano) para 4,43% ao mês (68,23% ao ano), a maior taxa desde março de 2006. Desde setembro de 2005, o Banco Central (BC) reduziu os juros de 19,75% ao ano para 13,75% ao ano (seis pontos percentuais). Nesse período, a taxa para pessoa física apresentou uma redução de apenas 1,88 ponto percentual e a das empresas se manteve no patamar.
“O crédito está mais escasso. Com menos recurso para emprestar, os bancos estão mais seletivos. Por isso, as operações de crédito devem ser reduzidas. Por outro lado, o resultado dos bancos ficarão estáveis. Como a oferta de dinheiro é menor, ele ficará mais caro. Assim, os juros subirão e, em contrapartida, equilibrarão os resultados”, diz o diiretor-executivo do Banco Bonsucesso e ex-secretário de Planejamento do Estado de Minas Gerais, Frederico Penido Alvarenga. Em resumo: os bancos emprestarão menos dinheiro mas continuarão ganhando com juros altos.
Para o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, o aumento dos juros faz parte de um pacote que deve assegurar resultados positivos, mesmo que inferiores aos já alcançados, uma vez que a base de comparação é forte. “O volume de operações de crédito é menor. Mesmo assim, os bancos continuam firme em outras operações na qual a alta dos juros é benéfica”, observou. O especialista destacou que o impacto do aumento das taxas de serviços também deve ajudar no balanço dos bancos.
RESULTADOS DO BB Ontem, o Banco do Brasil divulgou os resultados do terceiro trimestre, que apontam que as operações de crédito subiram 17% em comparação com trimestre anterior, atingindo R$ 112 bilhões. O resultado é maior que a soma das operações de crédito realizada pelo Banco Bradesco (R$ 51,57 bilhões) e Itaú (R$ 51,01 bilhões), conforme cálculos da consultoria Aporte. Conforme o balanço, o lucro líquido do BB foi de R$ 1,86 bilhão no terceiro trimestre – alta de 13,6% sobre o segundo trimestre e de 36,9% contra igual trimestre de 2007. No acumulado do ano, o lucro líquido atingiu R$ 5,9 bilhões, expansão de 52,5% ante igual período de 2007.
E, na contramão de um cenário de crise de crédito internacional e favorecido por medidas do governo para combater a restrição de dinheiro no mercado, o BB projeta crescimento da carteira de crédito de 30% a 35% ainda para este ano, ante estimativa anterior de 25% e 30%. Para 2009, Adézio Lima, vice-presidente do BB, estima elevação de 20% a 25%. Desde outubro, R$ 17,1 bilhões foram analisados, dos quais R$ 5,9 bilhões foram adquiridos por intermédio da liberação do depósito compulsório. Deste montante, 44% é de consignado, 29% de veículos e 27% comercial. Além disso, BB mantém o interesse em crescer por meio de aquisições. “É humanamente impossível manter um banco desse porte crescendo apenas organicamente”, disse Lima Neto. Segundo ele, a fusão entre Itaú e Unibanco – que criou o maior banco privado do Hemisfério Sul, o Itaú Unibanco – traz consequências para a “arena competitiva”. Mesmo assim, o executivo garantiu que o BB não vai comprar “quaquer coisa”.
Também ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reiterou que considera prioritário que o Banco do Brasil volte a ser a maior instituição do mercado nacional. Em conversas com diretores do BB, ele definiu que o processo de retomada do primeiro lugar, posto perdido com a fusão do Itaú e do Unibanco, ocorra com “responsabilidade” e com a compra de bancos menores por preços justos e de mercado. A compra do Banco do Piauí e as negociações para a aquisição da Nossa Caixa (estatal paulista), do Banco de Brasília (BRB) e do Banco Votorantim estão sendo acompanhadas de perto por Lula. (Com agências)
O crédito está mais escasso. Com menos recurso para emprestar, os bancos estão mais seletivos. As operações de crédito devem ser reduzidas
Frederico Penido Alvarenga, diiretor-executivo do Banco Bonsucesso
Veículo: O Estado de Minas