Consumidor opta por produto mais barato para driblar a crise

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Uma grande mudança no perfil do consumidor brasileiro deverá mexer com o comércio varejista com a preferência aos produtos nacionais frente a importados, adquirir menos os lançamentos da indústria e ficar mais atento às promoções. Diante do cenário de incerteza na economia internacional, esta não é uma tendência exclusivamente do Brasil, visto que nos Estados Unidos o Wal-Mart quer transformar a crise em uma oportunidade para abocanhar até 40% da expansão do mercado até o terceiro trimestre de 2009, ao reforçar sua estratégia de preços baixos.

 

Por aqui, as supermercadistas de médio porte, como a paranaense Supermercados Condor e a paulista Cooperativa de Consumo (Coop), que vendem bens duráveis como eletrodomésticos e eletroeletrônicos, apontam de que esta migração ainda é pequena, mas prevêem um crescimento entre o fim deste ano e ao longo do primeiro semestre de 2009.

 

Jefferson Fidélis de Oliveira, diretor Comercial do Condor - que prevê faturar R$ 1,1 bilhão este ano, 25% a mais que no ano passado - diz que "a ocorrência deste movimento ainda é muito sutil e será mais intensa a partir do próximo ano. Só vai perceber quem estiver acompanhando bem as vendas por produto". O executivo acredita que esta preocupação exista e garante que a rede está atenta a isso, e diz ainda que a mudança não ficará restrita a eletrônicos, mas se estenderá aos importados e a produtos de maior valor agregado. Este ano, a rede, formada por 25 lojas, sendo dez hipermercados, investirá R$ 80 milhões entre a construção de três lojas e a reforma de outras unidades no estado. Mês passado, a 13ª rede no ranking nacional obteve ganhos reais 11% maiores devido às ações de aniversário de 34 anos.

 

Especialistas em varejo como Patrícia Vance, professora do Programa de Administração do Varejo (Provar) da Fundação Instituto de Administração (FIA), explicam que alguns setores começam a sentir impacto no consumo este ano e os consumidores devem optar por produtos mais baratos e fazer substituições, como trocar itens importados por nacionais. "Na categoria de eletroeletrônicos, principalmente nos produtos que têm mais componentes importados, há influência do câmbio e das inovações tecnológicas, com muitos lançamentos, e as pessoas podem fazer substituições", afirmou a consultora.

 

A opinião também é reforçada por Emerson Kapaz, diretor executivo do Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV) a disputa das redes pelo consumidor não será pequena. "Com o receio da população de se endividar, muitas empresas evitarão repassar os custos para não perderem mercado. E aquelas que se sentirem pressionadas pelo cliente poderão partir para outra faixa de produtos e deixar as líderes."

 

Ele crê que esta migração não deverá ocorrer até o final do ano, caso não ocorra alguma mudança no nível de emprego, mas acredita que a situação pode complicar-se a partir do primeiro trimestre de 2009. De qualquer maneira, o varejo ficará mais agressivo com as promoções, e o consumidor deve continuar a comprar.

 

Receio

 

O crescimento menor do País previsto para o ano que vem e a iminência do aumento do índice de desemprego prejudicarão o desempenho do varejo, segundo Antônio José Monte, presidente da Coop, que deverá faturar R$ 1,2 bilhão frente ao R$ 1,1 bilhão alcançado em 2007. Um dos primeiros sinais desse cenário é a substituição de produtos de tíquete maior por aqueles mais baratos. A supermercadista, que possui 25 unidades na região do Grande ABC, em São Paulo, comercializa em parte dos seus pontos-de-venda itens como televisores, aparelhos de som e linha branca (geladeira e fogão).

 

Monte comenta que o "varejo alimentício talvez seja um dos últimos setores a ser afetado. As pessoas não deixam de comprar comida, mas pode haver a substituição de itens mais caros". Entretanto, seu maior receio é que a indústria automobilística faça demissões em 2009, pois isso afetaria diretamente a Coop, instalada primordialmente ao lado de grandes montadoras.

 

Quanto à expansão, o presidente da Coop garante que os planos estão mantidos e que a empresa tem uma situação financeira sólida. Estão previstas mais cinco unidades para 2009, orçadas em até R$ 28 milhões, que serão pagos com caixa próprio ou financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

 

Assim como já acontece nos Estados Unidos, as varejistas brasileiras estão se preparando para uma mudança no perfil do consumo ante o temor da crise internacional no País. Elas aguardam migrações em dois vetores: a preferência por produtos nacionais frente aos importados, agora mais caros, e a alternativa de similares ou de marca própria aos produtos líderes de mercado ou mais sofisticados. O Wal-Mart norte-americano disse ontem que deverá abocanhar 40% do crescimento esperado no varejo americano, justamente por ter preços baixos.

 

No Brasil, os supermercados de médio porte, como a paranaense Supermercados Condor e a paulista Cooperativa de Consumo (Coop), também apontam para essa transformação na conduta do cliente, que no momento ainda é pequena, mas prevêem um avanço na migração aos itens populares entre o final deste ano e 2009. "Este movimento ainda é muito sutil e será mais intenso a partir do ano que vem. Só vai perceber quem estiver acompanhando bem as vendas por produto", apontou Jefferson Fidélis de Oliveira, diretor Comercial do Condor, que espera faturar R$ 1,1 bilhão este ano. Com 25 lojas, dez das quais hipermercados, a participação dos não-alimentos chega a 12%.

 

A Coop crê também que a substituição poderá ocorrer na categoria de alimentos.

 

Patrícia Vance, professora do Programa de Administração do Varejo (Provar/FIA), afirma que "no setor de eletroeletrônicos, principalmente nos produtos que têm mais componentes importados, as pessoas podem fazer substituições".


Veículo: DCI


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