O microcrédito, ainda pouco explorado no Brasil, pode ser um mercado potencial para o desenvolvimento da economia, ajudando na diminuição da pobreza. Esta é a opinião de Herbert Müller, presidente da Associação de Entidades Financeiras Especializadas em Micro Finanças (Asofin) na Bolívia, país onde o microcrédito é de referência na América Latina. Segundo ele, na Bolívia, o microcrédito é financiado por associações de bancos, cooperativas de crédito e poupança e instituições financeiras. Müller diz que essa modalidade de crédito representa 7% do PIB da Bolívia, com US$ 203 milhões de captação até outubro de 2008.
"O Brasil também poderia crescer mais se utilizasse com mais eficiência essa modalidade de crédito." Segundo Müller, a maior parte das captações provém de recursos públicos e fundos multilaterais. O valor médio de empréstimos a consumidores é de US$ 200. "Atuamos com o microcrédito há 20 anos, quando começamos com monoprodutos, e temos crescido muito." Na Bolívia, por exemplo, o microcrédito é direcionado a crédito solidário, consumo, pequenas e médias empresas, minisseguros de vida e saúde, além de empréstimos com prazo fixo para pagamento de água, luz, e colégio.
Segundo Müller, a taxa de juros para esse nicho no Brasil deve ser mais atrativa. "Na Bolívia reduzimos a taxa de juros para este empréstimo a fim de diversificar o sistema e reduzir a inadimplência. Além disso, estabelecemos relação de confiança com instituições financeiras para forte capacidade de mobilização de poupança, rentabilidade, solvência e liquidez."
Segundo Alcides Leite, economista da Trevisan Escola de Negócios, a política de microcrédito no Brasil é mais recente e no governo houve maior preocupação ao incentivo de criação de cooperativas de crédito, além do banco do Povo e da linha de crédito do BNDES para micro- empresas. Para ele, a realidade brasileira é diferente da de outros países com atuação do microcrédito, como a Europa, onde há uma rede de cooperativismo muito forte, principalmente nos setores agrícola e rural.
Outro sucesso foi em Bangladesh, com o Grameen Bank, primeiro banco do mundo especializado em microcrédito, visando a erradicar a pobreza do mundo. "O Brasil é um país com instituições mais modernas e capitalistas, mais parecido com o modelo americano do que propriamente o modelo europeu." Para ele, o Brasil é diferente da América Latina, onde os países não são tão desenvolvidos. "A cultura do País não é de microcrédito nem cooperativista, de modo que são realidades diferentes, mas há espaço para certo crescimento do microcrédito, não na mesma intensidade da Europa", diz Leite.
Veículo: DCI