O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) cortou ontem a taxa Selic em 0,75 ponto percentual para 9% ao ano. Com isso, manteve o ritmo de queda do juro básico da economia ocorrido na reunião do BC de março, quando a taxa também havia sido reduzida em 0,75 ponto percentual.
A decisão de ontem confirmou a previsão da maior parte dos analistas financeiros. De acordo com levantamento do AE Projeções, de 72 instituições financeiras consultadas, 70 esperavam uma queda de 0,75 ponto percentual e apenas duas apostavam em corte de 0,5 ponto percentual. A próxima reunião do Copom está marcada para os dias 29 e 30 de maio. A ata da reunião de ontem será divulgada pelo BC na quinta-feira da próxima semana.
Com a decisão de cortar a Selic em 0,75 ponto porcentual, para 9% ao ano, o BC acumula redução do juro básico da economia de 3,50 pontos percentuais desde agosto. O esforço, que começou com um inesperado corte de 0,50 ponto, teve duas reduções mais fortes nas últimas decisões para tentar imprimir ritmo maior à economia ainda em 2012.
A ação faz parte de uma estratégia mais ampla do governo federal, que tem trabalhado para minimizar os efeitos da crise financeira sobre o Brasil via crédito. Além disso, a presidente Dilma Rousseff decidiu que a redução de juro e de spread bancário é uma nova prioridade.
A aposta no corte de 0,75 ponto percentual ontem era quase uma unanimidade entre economistas. Tanta certeza nasceu após a ata da reunião de março do Copom, quando o texto atribuiu "elevada probabilidade" de Selic em "patamares ligeiramente acima dos mínimos históricos". A menor taxa histórica foi de 8,75% entre julho de 2009 e março de 2010.
Preocupações - Por enquanto, há algumas preocupações que podem interromper o ciclo atual de cortes da Selic a partir de agora. A primeira preocupação vem dos preços. Após as reduções da taxa nos últimos oito meses e as várias medidas de incentivo ao crédito e consumo, o ritmo da economia tende a ser maior a partir do segundo semestre, com possível aceleração da inflação.
Para o mercado, ainda que os índices atuais estejam bem comportados, os preços subirão mais em 2013, o que pode ser preocupante para o BC. Pelas contas dos analistas, a inflação oficial - medida pelo IPCA - será de 5,08% neste ano e de 5,50% no próximo. Para segurar os preços, o mercado prevê, inclusive, alta dos juros a partir de abril de 2013.
Mas também há uma preocupação estrutural: a indexação da economia. Influência de um histórico inflacionário, vários setores têm forte dependência dos índices passados para determinar os preços de mercadorias e serviços. Isso explica porque aluguéis e tarifas públicas são sempre reajustados conforme, pelo menos, a inflação passada.
Criticada pelo BC, essa característica faz com que seja mais difícil controlar os preços em um patamar baixo no Brasil. Além disso, a indexação também determina a remuneração obrigatória da poupança, que paga a Taxa Referencial (TR) acrescida de 0,5% ao mês.
Neste caso, a continuidade da queda do juro poderia incentivar a migração, para as cadernetas, de recursos atualmente aplicados em títulos públicos federais. A mudança atrapalharia a gestão da dívida pública e geraria outros problemas adicionais para o governo. (AE)
Veículo: Diário do Comércio - MG