Mas variação cambial favorece o mercado brasileiro.
Empresas importadoras de componentes têm custos elevados com a alta do dólar
A alta do dolar, que hoje gira em torno de R$ 2, acomodou o mercado exportador, balançou a economia das empresas que contraíram dívida na moeda, e afetou consideravelmente as pequenas e médias empresas importadoras, que não têm capacidade de fazer estoque e nem recursos organizacionais para operações de hedge.
De modo geral, os especialistas acreditam que a variação cambial mais favorece do que prejudica o mercado brasileiro. Mas advertem: a inflação é um risco e deve ser monitorada pelo governo federal. "O sinal está amarelo", aponta o professor de Finanças da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), Samy Dana, para quem os grandes beneficiados da elevação do dólar são os exportadores de commodities, que praticamente não usam matéria-prima importada em sua produção. E os maiores prejudicados são as empresas de menor porte, "que não tem volume e nem conhecimento para fazer hedge".
Mesmo aquelas empresas que contraíram dívidas em dólar podem equilibrar suas finanças. o caso daquelas que optam pelo hedge natural, ou seja, usam as exportações como medida de compensação para eventuais mudanças cambiais. Outros, geralmente as de grande porte, adquirem hedge no mercado futuro, criando margens de segurança. Há que se considerar ainda, pontua o professor de Economia e Finanças da Fundação Dom Cabral (FDC), Rodrigo Zeidan, que a dívida em dólar pode ser paga em longo prazo, com parcelamento, e a empresa pode se beneficiar de alguma eventual compensação cambial ou de um comportamento favorável do mercado interno ou externo.
Perfil - Segundo ele, hoje não se pode mais analisar o efeito da alta do dólar nas empresas, considerando-se apenas o perfil exportador ou importador. Pois vai depender de diferentes variáveis. Como, por exemplo, se é exportador, mas importador de insumos; se usou o recurso de proteção de risco. Ou se o mercado consumidor vai ser beneficiado com o encolhimento das importações. Como os setores de calçados e têxtil, por exemplo. E, ainda, se haverá receptividade de determinado produto no mercado externo, em crise e retraído. "A demanda mundial de alimentos não vai diminuir", exemplifica.
Para o professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Univesidade de São Paulo (FEA/USP), Kieler Carvalho Rocha, trata-se, na verdade, de um "aumento artificial do dólar". Pois além do comportamento do mercado externo, que valorizou o dólar, o próprio governo federal forçou a desvalorização do real através de redução da taxa Selic, "desestimulando o capital especulativo e estimulando a produção interna e as exportações".
Em sua avaliação, deve-se evitar a alternativa de se continuar contraindo dívidas em dólar para investimento no mercado interno, se beneficiando de taxas de juros mais favoráveis no mercado externo. "Especular no mercado de câmbio não tem sentido", aponta Rocha, lembrando que algumas empresas que tomaram empréstimo contando com a estabilidade cambial acabaram sucumbindo. O administrador não tem que correr riscos desnecessários", observa.
Segundo os especialistas, a tendência é a de que o dólar se mantenha na casa dos R$ 2. No entanto, aponta Rocha, há quem aposte em uma pequena variação, entre R$ 2,10 e R$ 2,20. E embora Samy Dana reconheça os esforços de o governo federal de proteger a economia brasileira, ele adverte: "A pior coisa que pode acontecer com a indústria é a oscilação do dólar, pois essa indefinição dificulta qualquer planejamento".
Veículo: Diário do Comércio - MG