Os eventos domésticos continuam preponderantes na formação da taxa de câmbio. A melhora externa apoiada nas expectativas de que o Banco Central Europeu (BCE) vai superar o tabu da monetização e imprimir euros para salvar os Tesouros da periferia da zona do euro não afeta o preço por aqui.
O dólar comercial abriu a semana com alta de 0,69%, valendo R$ 2,038 na venda. Na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), o dólar para agosto subiu 0,96%, a R$ 2,042. E o contrato para setembro, que ganha liquidez, avançou 0,93%, a R$ 2,0535.
Segundo o superintendente de câmbio da Advanced Corretora, Reginaldo Siaca, desde o fim da semana passada, o mercado espera o Banco Central (BC) rolar os contratos de swap cambial (que equivalem à venda de dólar no mercado futuro) que vencem dia 1º de agosto.
Como o BC não veio ao mercado, os agentes têm de ir buscar dólares para entregar à autoridade monetária, criando, portanto, um terreno fértil para a alta da cotação da moeda americana.
O anúncio de rolagem dos cerca de US$ 4,5 bilhões em swaps não está completamente descartado. O BC ainda pode fazer isso no pregão desta terça-feira.
Além da incerteza sobre a rolagem ou não dos swaps, o mercado convive com o habitual aumento de instabilidade provocado pela rolagem e liquidação de contratos futuros que ocorre todo o fim do mês.
Na BM&F, os bancos aparecem vendidos em US$ 23,253 bilhões em contratos de dólar futuro e cupom cambial (DDI - juro em dólar). Os fundos estão comprados em US$ 17,216 bilhões. Os estrangeiros também estão comprados, em US$ 4,327 bilhões.
De forma simplificada, o comprado ganha com a alta do dólar e o vendido com a queda de preço da moeda americana. Como as posições na BM&F são apenas uma forma de exposição cambial desses agentes, que também atuam com opções e no mercado de balcão, não é possível apontar ganhadores e perdedores líquidos.
No câmbio externo, o euro aponta para baixo e não poderia ser diferente. Se a expectativa é que o BCE vai ampliar seu balanço, que já passa dos € 3 trilhões, a moeda comum tem mesmo de perder valor. Ontem, o euro cedeu 0,34%, a US$ 1,225.
No mercado de juros, o baixo volume de negócios do dia tirou representatividade do breve ajuste de baixa que marcou o pregão de abertura da semana.
As taxas caíram apesar de uma piora nas projeções de inflação do Focus e de um Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) de 1,34% em julho, acima do previsto.
Segundo o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa, a instabilidade acentuada dos juros futuros decorre das dúvidas que cercam o ambiente externo e sobre qual será a postura do BC no encontro de outubro do Comitê de Política Monetária (Copom).
Por ora, diz o especialista, a curva sugere novo corte de meio ponto percentual no encontro de agosto, que levaria a Selic para 7,5%, e a chance de alguma redução adicional em outubro.
No lado externo, o foco está no BCE. Se a autoridade monetária europeia sair do discurso para a prática e ligar a "impressora de euros", o economista diz acreditar que a curva de juros por aqui pode ganhar inclinação e que as apostas de que o BC prolongue o ciclo de corte de juros até outubro perdem força.
Se o BCE desapontar, a resposta do mercado pode ser fortemente negativa.
No Focus, o IPCA previsto para o fim do ano subiu pela terceira semana, de 4,92% para 4,98%. Para 2013, a mediana seguiu em 5,50%.
Veículo: Valor Econômico