O impacto nos índices de preços ao consumidor das fortes altas dos preços de commodities agrícolas no mercado internacional, com destaque para soja e milho, em decorrência da estiagem nos Estados Unidos, será bem limitado, de acordo com analistas. Terão impacto mais significativo na inflação do consumidor, embora ainda moderado, os aumentos dos preços dos produtos in natura, sobretudo o do tomate e o da batata.
Com a divulgação da alta de 1,52% do Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI) em julho, mais que o dobro da variação de 0,69% em junho, havia expectativa de que analistas alterassem projeções para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2012.
O coordenador do Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Paulo Picchetti, disse que mantém a previsão de 5,2% para o indicador neste ano. Segundo ele, dois movimentos diferentes estão ocorrendo no âmbito dos IGPs.
O primeiro é uma alta de preços de matérias-primas industriais. O segundo é a elevação dos preços de commodities agrícolas.
"É difícil dizer qual é o peso de um e de outro, só olhando para os dados do IPA [Índice de Preços ao Produtor Amplo]", disse. Segundo ele, há um minichoque agrícola no mercado doméstico, sobretudo nos preços de produtos in natura. Ele destacou, em especial, o preço do tomate, que subiu 85,41% no mês, 131,85% no ano.
O preço da soja subiu 16,19% em julho, também de acordo com o IGP-DI. No ano, aumentou 70,04% e 69,05% em 12 meses. Já o milho subiu 15,66% em julho e 7,32% no ano, mas caiu 3,22% no acumulado de 12 meses.
"Do aumento da soja e do milho, muito pouco chega ao varejo", afirmou Picchetti. Ele explicou que, no caso dos produtos in natura, o impacto existe, mas vem sendo absorvido desde o começo deste ano. O IPA Agrícola acumula alta de 10,68% neste ano e o IPA Industrial, elevação de 4,11%. "Diria que o que está pressionando são os in natura e os pequenos ajustes nas expectativas de inflação, registrados na Pesquisa Focus, têm a ver com esta pressão", diz. Na pesquisa Focus, divulgada na segunda-feira pelo Banco Central, a mediana das expectativas para o IPCA subiu de 4,98% na semana passada para 5% nesta semana.
Mesmo com essa pressão da inflação de alimentos, a MCM Consultores mantém sua previsão de 5,1% para o IPCA neste ano. Isso porque, segundo cálculos de seus analistas, o repasse do recente aumento de preços das commodities agrícolas para o IPCA ficará ao redor de 0,1 ponto percentual e será compensado pelo ciclo de baixa da arroba do boi gordo em razão de questões estruturais do setor. "Com isso, a contaminação da inflação de grãos para o item carnes deverá ser bem mais moderada", completou a consultoria.
Veículo: DCI