Para analistas, alimentos devem puxar alta do IPCA de julho

Leia em 3min 10s

Com os alimentos em alta, a expectativa dos economistas é que julho apresente inflação mais intensa que a verificada no mês anterior, revertendo a trajetória de desaceleração observada nos últimos dois meses. A média dos cálculos realizados por 11 instituições consultadas pelo Valor Data aponta elevação de 0,39% no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que em junho subiu 0,08%. As previsões variam de 0,36% a 0,45%. O resultado de julho será divulgado hoje pelo IBGE.

Para os economistas, o grupo alimentação e bebidas foi a principal fonte de pressão sobre os preços no varejo no mês passado, devido principalmente aos fatores climáticos. O IPCA-15 de julho, prévia do IPCA, mostrou que frutas, verduras e legumes ficaram até 29% mais caros. Com isso, a inflação de alimentos no IPCA-15 passou de 0,66%, em junho, para 0,88% em julho.

Pelas contas da MB Associados, a alta em alimentação deve chegar a 1,03% no IPCA de julho, forte aceleração frente ao avanço de 0,68% em junho. A pressão não deve parar por aí. A partir deste mês, a recomposição da oferta de produtos in natura deve minimizar a inflação na categoria, mas os consumidores passarão a perceber reajustes em outros itens. "O varejo ainda não incorporou a disparada nos preços dos grãos, já registrada no atacado. Os reajustes serão feitos ao longo do segundo semestre", diz Sergio Vale, da MB, que prevê alta de 0,38% no IPCA de julho.

Estudos do Itaú Unibanco projetam alta de 75% na soja, 40% no milho e 33% no trigo no ano. Vale lembra que os três produtos constituem a base da alimentação de aves, bovinos e suínos. Por isso, diz, até as carnes, que seguem em deflação, tendem a voltar a subir. Não há, porém, a expectativa de aumento explosivo em 2012.

"O excesso de oferta e a demanda contida em função da fragilidade do cenário externo mitigam o potencial de alta das carnes", afirma Elson Teles, do Itaú Unibanco. Ainda assim, a instituição projeta aumento em torno de 12% nos alimentos no ano, bastante acima dos 7,18% acumulados em 2011.

Esse salto fez com que o Itaú Unibanco revisasse de 4,9% para 5,2% sua estimativa para o IPCA acumulado em 2012. O piso da inflação neste ano, para a MB, é de 5%. "Pode ser que o indicador fique um pouco mais alto, mas não deve passar de 5,3%", diz Vale. Na média, as 11 instituições consultadas pelo Valor Data projetam alta de 5,07% para o IPCA em 2012, com as previsões variando de 4,8% a 5,4%.

Diante da inesperada alta das commodities agrícolas, Vale acredita que o governo não elevará o preço do diesel e da gasolina este ano. A queda nos preços do etanol ajudou a puxar para baixo os combustíveis e a segurar a inflação. No IPCA-15 de julho, a retração foi de 0,86%, com a gasolina caindo 0,67% e o etanol, 2,02%. Esse comportamento, avaliam os economistas, deve se repetir no IPCA, contribuindo para a deflação projetada para transportes.

Há a expectativa que as montadoras tenham promovido novos descontos para desovar estoques, na esteira da redução do IPI para veículos novos. A LCA Consultores estima que a queda nos preços de automóveis novos tenha sido de 1,2% no mês passado. "Ainda veremos alguma redução, mas a maior parte da queda dos preços já aconteceu", diz Fabio Romão, da LCA.

Para Teles, do Itaú, outro grupo que contrabalançará a pressão dos alimentos é vestuário. "Não descarto deflação em vestuário, porque a demanda está fraca e o inverno não foi rigoroso nesse ano". Romão avalia que as promoções farão com que os preços de vestuário se desacelerem, mas não espera redução de preços.



Veículo: Valor Econômico


Veja também

Produtos agrícolas terão menos influência nos próximos meses

O impacto nos índices de preços ao consumidor das fortes altas dos preços de commodities agrí...

Veja mais
Senado aprova duas MPs que ampliam incentivos à indústria

No primeiro dia de esforço concentrado do Senado, os senadores aprovaram na terça-feira o projeto de conve...

Veja mais
Cesta básica da capital gaúcha volta a ser a mais cara do Brasil

Salário-mínimo deveria ser de R$ 2.519,97 para suprir custosFrio e excesso de chuva prejudicaram a produ&c...

Veja mais
Inflação cresce mais no Brasil, mesmo com a atividade fraca

De 27 países que adotam o regime de metas de inflação, em apenas seis o índice de preç...

Veja mais
Fecomércio-SP mostra aumento da intenção de consumo do paulistano

O indicador de Intenção de Consumo das Famílias (ICF), divulgado na última sexta-feira pela ...

Veja mais
Pesquisa indica cautela do consumidor brasileiro

FGV aponta que 54% das famílias estão com renda comprometida em até 50% Pesquisa inédita fei...

Veja mais
Venezuela no Mercosul anima indústria

Com a entrada do vizinho no bloco, empresas brasileiras pretendem ampliar a venda de produtos industrializadosAtualmente...

Veja mais
Inflação em SP fica abaixo das expectativas

A inflação aquém da esperada para a cidade de São Paulo em julho não alterou as expec...

Veja mais
Mercado argentino perde relevância para o Brasil

A importância do mercado argentino para os exportadores brasileiros está ficando cada vez mais reduzida.Nos...

Veja mais