Resultado mostra que a inflação continuará sob pressão no segundo semestre, quando tomate e hortaliças serão substituídos pelos grãos
Os alimentos continuarão pressionando a inflação no segundo semestre. Em julho, o tomate foi destaque isolado do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que subiu 0,43%, a maior alta desde abril (0,64%). A inflação acumulada no ano é de 2,76% e em 12 meses, de 5,2%, revertendo o movimento decrescente iniciado em setembro de 2011 (6,97%).
O tomate e as hortaliças e legumes, que puxaram o IPCA do mês passado, serão substituídos pela soja, milho e derivados, cujos preços já subiram no atacado desde o fim do primeiro semestre. Os dois grãos são utilizados como ração animal e devem carregar com eles uma alta de preço das carnes. Analistas acreditam que também um reajuste dos combustíveis da Petrobrás vai pesar sobre o orçamento das famílias nos próximos meses.
Ainda assim, a expectativa é de que o governo atinja a meta de inflação de até 6,5% e o Banco Central mantenha a trajetória de redução da Selic. O ritmo mais lento da economia deverá compensar a alta de preços dos alimentos e combustíveis. A avaliação da coordenadora do IPCA no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Eulina Nunes, é que, por enquanto, a inflação não captou a aceleração da economia. "Mas está relacionada a motivos pontuais."
No mês passado, o tomate respondeu sozinho pelo IPCA, com 25% de participação na formação da taxa. E os veículos automotivos, que em junho despencaram o índice para 0,08%, o menor do ano, já não tiveram o mesmo efeito em julho.
"Problemas climáticos não respondem bem a variações na Selic. Logo, jogar no colo do Banco Central essa fatura seria no mínimo equivocado. Mantemos nosso cenário de queda da Selic em até 7,0%, pelo menos. O problema maior é a atividade e agora, mirar na inflação, seria a estratégia errada", afirmou em relatório o economista-chefe do banco Gradual Investimento, André Perfeito.
Para o economista-chefe do banco de investimento J. Safra, Carlos Kawall, a inflação deverá permanecer no nível atual ao longo do ano e fechar 2012 em 5,2%. Já o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, aposta em 5,3%.
Nos próximos meses, o encarecimento da soja e do milho, que já aparece no atacado, deverá ser percebido também no varejo. O preço da soja ao produtor deverá ficar 12,63% mais caro no segundo semestre, após alta de 34,9% de janeiro a junho, prevê Felipe Prince, economista da consultoria Agrosecurity. "Poucos produtores ainda têm soja para vender."
Para o milho, a previsão é de alta de 7,17% no segundo semestre, após queda de 22% no primeiro semestre. Com mais impacto do que a soja na composição do IPCA, a expectativa é que o milho seja destaque nos índices dos próximos meses.
Sem a concorrência dos Estados Unidos, onde a seca prejudicou a produção, o Brasil passou a exportar mais e a oferecer menos soja e milho para o mercado interno. A ocorrência de seca no Rio Grande do Sul ainda prejudicou a safra brasileira de soja, contribuindo para a alta do preço do produto.
Veículo: O Estado de S.Paulo