Sob pressão do tomate, inflação avança para 0,43% em julho

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O aumento no preço dos alimentos, principalmente do tomate, elevou a inflação medida pelo IPCA para 0,43% em julho e interrompeu a sequência de quedas iniciada em maio.

Em junho, o IPCA fechou em 0,08%, impactado pela redução nos preços dos carros com a queda no IPI adotada no fim de maio. Em julho esse efeito não foi sentido.

O resultado não surpreendeu o mercado, que esperava índices entre 0,37% e 0,41%. Nos últimos 12 meses, a inflação acumulada é de 5,20%. A meta do governo é fechar o ano em 4,5%. O mercado estima média de 5%.

O preço do tomate subiu, em média, 50,3% no mês, segundo o IBGE, e impactou em 0,10 ponto percentual o índice. Em alguns centros comerciais do Brasil, o preço do fruto chegou a R$ 8 o quilo.

O aumento, segundo a responsável pelo levantamento, Eulina Nunes, foi causado pela baixa oferta prejudicada pelo excesso de chuva e frio.

A preocupação agora é com a divulgação do IPCA de agosto. Ele poderá ser afetado pela falta da média da PME (Pesquisa Mensal de Emprego) de junho, que não foi publicada em julho.

A greve nacional dos servidores do IBGE, iniciada em 18 de junho, impediu o repasse dos dados coletados no Rio. Com isso, a PME saiu com os resultados de só cinco das seis regiões metropolitanas.

A presidente do IBGE, Wasmália Bivar, confirmou o risco e disse que não há previsão para a divulgação da PME. O instituto tenta alterar a metodologia para que outras fontes brasileiras possam ser inseridas na pesquisa e evitar mais prejuízos.

Ontem, a pesquisa nacional sobre os preços da construção civil foi divulgada sem os resultados do Estado da Paraíba. Os dados não foram coletados pelos servidores em greve. O IBGE adotou a média da região Nordeste para preencher a pesquisa.


A inflação do tomate não deve passar de um susto passageiro


O IPCA de julho não caiu bem para os paladares mais finos. A alta de 0,43% foi a maior nos últimos quatro anos para julho e ainda de quebra reverteu a série de nove quedas mensais consecutivas na variação anual.

Tudo o que o governo não queria ouvir na véspera de um possível aumento da gasolina pela Petrobras.

Só que, se de longe o cheiro assusta, de perto até que não é tão indigesto assim. A alta deste mês foi reedição da inflação do chuchu do Mário Henrique Simonsen. Só que desta vez no prato sai chuchu e entra tomate.

O tomate foi responsável sozinho por mais de 23% da inflação do mês. Ou seja, se não fosse contabilizado, a inflação não seria de 0,43%, mas sim de 0,33%. Um abacaxi e tanto no colo do Banco Central.

Contra esse choque de oferta há muito pouco que se possa fazer. Aumentar a taxa de juros -ou deixar de cortá-la- não mudaria as condições objetivas de oferta da fruta. O clima não reage bem às alterações da Selic.

O susto no grupo alimentação, que além do tomate tem o trigo (que bate no pão francês) e a cenoura como vilões, deve ser passageiro.

A alta de muitas commodities agrícolas foi um surto pontual e em grande medida incorporado aos preços. O preço do trigo negociado em Chicago, por exemplo, subiu de meados de junho até meados de julho 45% em dólares; de lá pra cá já caiu 5%.

A outra fonte de incômodo na inflação recente tem sido o aumento do salário de empregados domésticos.

Esse assunto traz um tempero especial à discussão da inflação no país. Em primeiro lugar, a evolução de salários tende a se acomodar com a desaceleração econômica em curso.

O BC não precisa sujar as mãos mexendo na Selic porque a crise já está fazendo esse trabalho para ele. A tendência é que o emprego pare de cair e, com isso, os salários deixem de subir.

A parte incômoda não é essa. Uma questão pertinente é apontar que na estrutura de ponderação do IPCA o item empregado doméstico representa 3,51% do orçamento dessa família hipotética.

Ou seja, variações de salários das camadas mais pobres impactam sobremaneira o IPCA e distorcem a realidade para a maioria da população.

Como vivemos num país ainda muito desigual, a tradicional classe média sempre consumiu muitos empregados domésticos. Mas isso está mudando, o que é salutar. Para ter uma ideia, o peso de empregados domésticos nos EUA é de irrisórios 0,27%.

O IPCA revela, mas também oculta. No prato indigesto que foi a inflação de julho, sugiro comer pelas beiradas.



Veículo: Folha de S.Paulo


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